Tranquilidade




Parar de se esforçar, aceitar o que está diante mesmo que isso implique em dificuldade, em processo de transformação, é dinamizador. Só quando nos dedicamos ao que percebemos, ao que nos acompanha e situa, é que podemos constatar satisfação ou insatisfação. Estar bem, estar mal decorrem dos significados que se percebe e se atribui ao que circunda. Uma cadeira que se usa diante de uma mesa, por exemplo, é um apoio, uma base para sentar. Se quisermos deitar nela, passamos a gerar transformações incômodas, criadoras de dificuldades só contornadas por meio de muitos esforços. Deitar no chão - o que está diante - pode ser mais tranquilizador.

Dizer sim, dizer não, nada dizer são passos para tranquilidade ou intranquilidade. Tudo vai depender da configuração dos processos. Em situação de afirmação e validação pode caber admissão ou questionamento, dizer sim ou dizer não são atitudes que possibilitam antíteses, tranquilizam quando indicam continuidade e criam tensão quando abruptamente impedem que outros aspectos sejam visualizados. Transformar resultados em início é também uma dificuldade que imobiliza. Enfim, o fluir com o movimento é o se jogar para a tranquilidade, embora também se saiba que esse fluir às vezes necessita de artefatos como barcos ou tábuas, ou de habilidade como saber nadar.

O não querer definitivo quando se tem medo, ou não querer mudanças quando tudo se define, é atitude que limita e leva a pensar tranquilidade como permanência, como esforço para manter o conseguido, é não abrir mão do que se pensa ser segurança e garantia. No cotidiano dos consultórios terapêuticos é comum ouvirmos a queixa diária do não ter sucesso, do estar sozinho, do estar desanimado. Queixas e reclamações são, nesse contexto, sinônimos, tanto quanto são a transformação da terapia em busca de ajuda e apoio. Essa transformação intranquiliza, deixa o cliente diante de um balcão de buscas e demandas frustrantes. Quando tudo é visto como um empreendimento é difícil perceber de outro modo o que propicia mudança, transformação, tranquilidade, aceitação de si, do outro e do mundo.

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