Quando tudo é explicado por a priori, nada é explicado - 2

 


 

Da mesma maneira que preconceitos com relação à nossa origem (“portugueses degenerados”, “negros tribais escravizados” e “indígenas selvagens”) são abordagens repulsivas e apriorísticas que distorcem e impedem a compreensão de nossa cultura, a visão oposta, de enaltecimento da herança de determinadas características culturais desses mesmos povos, nada explicam ou contribuem para o entendimento de nossa identidade cultural, nossos problemas sociais e suas possíveis soluções.

 

Cheios de boas intenções, imaginando neutralizar preconceitos e discriminações, muitos exaltam os saberes proporcionados pelos povos originários - os indígenas -, o acervo cultural trazido pelos africanos, suas danças, comidas, seus deuses, sua religião enfim, como chaves para nos desembaraçar de nossas atribulações.

 

Esse se voltar para o passado, escolher excelências formadoras de motivação e comportamento e considerá-las significativas no processo, é também um questionável destacar de fatos. O todo não é a soma de suas partes. Não é o bem ou o mal que definem o presente. O a priori de má herança ou de boa herança são questionáveis enquanto a priori independente de suas valorações negativas ou positivas.

 

Explicar o agora pelo antes é fragmentador. Caso nos ancoremos nesses aspectos, nesses pontos fragmentados, quebramos o tecido que constitui nosso ser no mundo. Questões existenciais, ecológicas, familiares não podem ser fundamentadas em boa ou má herança, pois isso nos transforma, entre outras coisas, em seres sem autonomia, em buscadores de boa ou má realização.

 

Preconceitos impedem a vivência e compreensão do que está diante de nós. Dificultam os relacionamentos, a troca de ideias, o intercâmbio, a identificação e resolução de problemas, ao passo que o  diálogo é o que propicia esclarecimento, dúvidas, mudança. É preciso estar livre, disponível para decidir. Vida é continuidade e isso é frustrado, prejudicado quando nos apoiamos em a priori, sejam eles discriminadores ou enaltecedores de condutas.

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