Vitórias e fracassos
Ninguém vai negar que é melhor o que resulta em vitória do que o que resulta em fracasso. Entretanto, todo mundo sabe que às vezes a vitória ou o fracasso são modalidades de casos genéricos, contínuos. Muitas vezes a vitória é o fracasso e vice-versa. Tudo depende do contexto. Se viver é reduzido a metas, desejos e situações a realizar e conseguir, ele é o chão que nutrirá vitórias e fracassos. É viver para conseguir realizar. Nesse contexto, busca-se modelos, o pai alcoólatra, por exemplo, ensina, pois ele se constitui em um emblema que grita: “beber faz mal”. Mas, pode ser também indicador de soluções problemáticas: “o único que se pode fazer na vida é beber, a vida é amarga, o álcool adocica”.
Viver em função de resultados, ou da descoberta do sentido da vida e do que está acontecendo, é, em tese, se colocar como fracasso, como impossibilidade, é achar que deve melhorar, o que implica em se perceber como atrapalhado e cheio de limitações irreversíveis.
Pensar em vitória, em fracasso é viver de mãos dadas ou sempre acompanhado pela concorrência, pelo vencer obstáculos e destruir o que atrapalha. É a construção da vivência agressiva, isolada e autorreferenciada. Assim, vivenciar o que acontece transforma tudo em apoio ou ameaça. A própria ideia de amigo, família, grupo existe em função dos objetivos, de permanecer, de estabelecer condições para a vitória. Muitos apoios surgem nesse processo, já existem situações construídas e rotuladas para isso. Não é à toa que se quer fazer parte de clubes “sempre aspirando o que oferece melhor atmosfera de sucesso”, que se deseja igualmente frequentar escolas de elite, ou no mínimo, melhor do que as que se dispõe, assim como circular nas passarelas top, descobrir os segmentos econômicos sociais, ou mesmo as mágicas esotéricas do sucesso. É por isso que buscar vitória, evitar fracassos sempre criam compromissos, por definição, alienantes. Ocupados agora por eles próprios, essas prisões são determinadas por suas estruturas motivacionais. Não permitem justiça, não permitem nada que negue suas premissas.
O vitorioso é sempre um fracassado, por todo esse esquema comprometido, porém o mesmo não pode ser dito com relação ao fracasso, ou que o fracassado é sempre um vitorioso, pois ele, o fracassado, já foi extenuado pela constatação de não conseguir desde o início quando gerou a ideia, a constatação do fracasso. Ele se sentiu destruído e assim busca ser transformado em outra pessoa, sonho impossível, pois não há matéria-prima para ser trabalhada. Se destruir e tentar reconstruir-se, a ideia implícita de Fênix é ilusória, pois suas cinzas estão congeladas pelo medo, frustração e raiva. Esses limites sobre a impossibilidade de reverter os quadros do fracasso são teóricos. Na prática, só quando se admite o fracasso é que se muda essa polaridade alternativa. Aceitar o fracasso é quebrar o ciclo vicioso, é aceitar limites e impotência, bem difícil de acontecer sem questionamentos psicoterápicos. Os processos, as vivências, enrolam, confundem, apesar de situarem.
📕
✔ Meus livros mais recentes
- "Emparedados pelo vazio - Bem-estar e mal-estar contemporâneos", Vera Felicidade de Almeida Campos, Editora Labrador, São Paulo, 2025
📌 À venda em várias livrarias, para compra na Amazon, aqui
📌 Para compra no Site da Editora Labrador, clique aqui
- "Autismo em Perspectiva na Psicoterapia Gestaltista", Vera Felicidade de Almeida Campos, Editora Ideias & Letras, São Paulo, 2024
📌 À venda em várias livrarias, para compra na Amazon, aqui
📌 Para compra no Site da Editora Ideias & Letras, clique aqui
Comentários
Postar um comentário