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Mostrando postagens de abril, 2016

Volta por cima

Ultrapassar situações infelicitadoras - das separações afetivas não desejadas às doenças e prejuízos financeiros - só é possível quando se transforma os modelos e padrões relacionais. Ter a percepção de si mesmo, do outro e do mundo transformada e destruída por evidências, nas quais não se reconhece mais a si mesmo e onde as familiaridades são transformadas em estranhas dificuldades a palmilhar cria mundos inóspitos, mas que são, apesar de tudo, novos. Dedicar-se a este novo traz descobertas e novos situacionamentos e é exatamente aí, neste processo, que a superação se instala e muita criatividade e inovações surgem. Recursos foram perdidos, impossibilidades decretadas e nada mais fica como era antes. Isto pode ser percebido como aridez, deserto, situação sem saída ou como novos horizontes que pedem novas atitudes e outras motivações. Nada mais desesperador que reconstruir, tanto quanto nada é mais promissor quando este processo é vivido como construção, como renovação: faltam mo

Imediatismo

Toda vez que se reduz realidade, circunstância e motivação ao foco dos interesses imediatos, pontualiza-se as ocorrências. Este autorreferenciamento implica em comportamento manipulador que resulta em coisificação de todos à volta de si. Transformado em botão propiciador, em interruptor, o outro é apenas o que vai permitir ou impedir realização de vontades e necessidades. Manipular o outro equivale a acessar botões, acessar alavancas que liberam entraves e realizam propósitos. Este comportamento caracteriza o imediatismo, onde tudo deve convergir para o que se quer. Quando desejos não são realizados, surgem desespero, frustração e irritação desencadeadores de agressividade. Comportamento agressivo é a tentativa de contornar o obstáculo para atingir o alvo, não importa como. Esta agressividade, quando não consegue fragmentar obstáculos, frequentemente se torna uma arma que atinge  qualquer familiar amado ou o melhor amigo, por exemplo. Destruir o que impede a realização dos propós

Dissimular

Uma das estratégias frequentes de sobrevivência é a dissimulação. Negar os próprios desejos, fazer de conta que não tem necessidades, tampar carências, medos ou dificuldades é uma atitude valorizada. Nas esferas economicamente menos privilegiadas, quanto mais se sente discriminado, mais se mantém no faz de conta, mais aparenta ser o que não é, mais valoriza o fingimento. Dizer o que pensa, expressar fraquezas, discutir é considerado “ feio ”, “ é grosseria ”. Não vivenciar faltas e problemas, tanto quanto negar as experiências desagradáveis, se constitui em comportamento desejável. Estas atitudes omissas privilegiam crimes e desrespeitos à individualidade. Apanhar do marido e esconder é uma maneira de continuar a ser uma família respeitável; ocultar os abusos sexuais presenciados é um sacrifício valorizado para manutenção da ordem familiar. É a submissão às agências públicas, ao que pode ser considerado bom, o equivalente do “ arrumar para dominar ”. Criar e manter aparências, nela

Consistência

Consistência é a firmeza resultante de ser inteiro, sem divisão. Aceitando-se, o indivíduo realiza suas possibilidades e necessidades como resultantes de contextos intrínsecos às suas motivações. Nada é colado, nada é mantido por aderências circunstanciais. Ao se relacionar com o outro, com o que está diante dele, com ele próprio, ele integra os acontecimentos, e percebe congruência ou incongruência, propósitos ou despropósitos. Os valores e significados são resultantes, não são prévios ao comportamento e mesmo quando os valores são prévios, a continuidade relacional é que vai determinar as motivações. A falta de regras e escalas prévias impede vivências de culpa e de medo. Sempre participando, não se omitindo, as situações são definidas pela totalidade que as caracteriza e não pelos resultados e anseios. Detendo-se em aspectos que são favoráveis ou evitando os desfavoráveis, o indivíduo dramatiza a configuração do que ocorre: “o preciso destruir para me salvar” é um lema que quan