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Mostrando postagens de outubro, 2020

Paradoxo e simplificação

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Estabelecer paradoxo é uma maneira de manter opostos. Simplificando, paradoxo é um problema cuja solução é outro paradoxo, ou ainda, paradoxo é a contradição do estabelecido, do posto.    O inesperado é paradoxal. Quebrar certezas hauridas de regularidade e frequência cria paradoxo. Saber que qualquer coisa estéril frutificou, por exemplo, é também paradoxal, caso não se considere a possibilidade de enxertos. Saber que uma mulher dependente e espancada por anos foi à Delegacia após meses sem ser seviciada, é paradoxal, caso não se considere o tempo de construção da lucidez, gerado por visitas de agentes sociais ou por outras intervenções. Enfim, paradoxal é tudo aquilo que rompe uma cadeia de referências situantes das constatações que estão sendo consideradas paradoxais. Na esfera moral é na família que se vivencia os maiores paradoxos. A mãe que se recusa a aceitar que a filha tenha uma vida sexual, quando ela mesma não esconde seus inúmeros relacionamentos sexuais; o pai que ameaça c

Rotina

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  Se tudo fosse igual, nada seria diferente. Igualdade e diferença são conceitos que não subsistem sem outros parâmetros que permitam configurar comparações a fim de que possa surgir o igual e o diferente. As vivências de monotonia e tédio, por exemplo, pressupõem sempre insatisfações, frustrações, fracassos vivenciados e não admitidos, não aceitos. Entender os despropósitos das vivências rotineiras só é possível quando consideramos os níveis de aspiração, os desejos frustrados, as vivências de submissão e medo responsáveis por desânimo, insatisfação e ansiedade. Viver o presente como se fosse uma passagem, uma ponte, um trem bala correndo célere para atingir o paraíso sonhado cria ansiedade. Nas vivências ansiosas, nada se percebe enquanto está acontecendo, tudo é imantado, polarizado como sinal de que o futuro, os sonhos estão sendo nutridos ou esquecidos. A ansiedade é uma vivência similar ao bate estacas, aos barulhos iguais, aos espaços constantes no que se está construindo e dese

Referenciais operacionais

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Selecionar pessoas, objetos ou situações é sempre um processo, uma atitude comprometida com outros objetivos, com critérios que transformam os indivíduos, por exemplo, em anônimos aptos a ganhar sinais identificatórios, facilmente resumidos em aptos/inaptos/capazes/incapazes. A escolha de bom, medio e ruim é variável, muda em função de regras flutuantes, vemos isso claramente quando se trata de objetos: ter muitos livros, estocar vinis ou CDs, manter porcelanas e pratarias foram fundamentais em séculos passados, mas hoje em dia, antes de qualquer coisa, se constituem em objetos difíceis de serem mantidos, precisa-se de museus, mansões colossais, ou ainda, ativação de etiquetas tais como: desuso, recordação, coisas usadas no séc.XX etc. Selecionar é colocar em função de outros critérios que não os da situação enquanto ela própria. O critério que possibilita a seleção é o mesmo que determina as destruições. Lembremos de Hegel quando afirma que o possível é intrinsecamente contraditório,

Vencedores e vencidos - bloqueio de possibilidades

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Sair da mediocridade, da mesmice, equacionar suas frustrações e transformá-las em trampolim para o sucesso é uma saída, um sonho, uma meta frequentemente vivenciada como sinônimo de superação. A ideia de vida como sonho, análoga à competição, redundando sempre em vitória ou fracasso é uma constante em nosso povoado horizonte de quase 8 bilhões de pessoas. Ficar para trás, estar no meio, ou ir adiante é o resumo que se faz quando a plataforma ou pódio se instala. Resumir tudo que nos rodeia a pistas, mares e ares que suportam nossa trajetória é, no mínimo, danoso, é a redução da infinitude à contingência. Desse processo também resulta criação de poucas categorias para açambarcar, para roteirizar processos: vencedores e vencidos. Essa é a única dinâmica permitida por estas plataformas nas quais perder ou não competir é dinamizado pela luta, é o ser vencido. Enrijecidos nestes pódios e não pódios os indivíduos ostentam rótulos, etiquetas, marcas que viralizam roteiros, suportam empregos e

Universalidade

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Hegel dizia que “o universal é a alma do concreto, ao qual é imanente, sem investimento e igual a si mesmo na multiplicidade e diversidade dele” . Universo é matéria, consequentemente é o mundo, tanto quanto, estendendo o conceito, podemos dizer que é o homem, é o ser humano. O indivíduo é a individualização do humano, desta especificidade material universal. Aspectos quantitativos nada mudam na imanência. Ser-no-mundo encerra em si aspectos quantitativos que explicitam a universalidade enquanto “alma do concreto”. A alma do concreto não é quantificável, tudo é ela nas suas explicitações que permitem multiplicidade, diversidade que continua a identificá-la, pois sua imanência relacional constitutiva permanece: é a possibilidade de ser que configura a mudança. É a presença que sempre permite configurar sua imanência. Ser humano é a possibilidade de relacionamento. Quando coisificada, transformada em robot , desvitalizada, a pessoa se desindividualiza e é também desindividualizada. Nesse