Postagens

Mostrando postagens de julho, 2016

Sedação

Omitir e mentir é o que se faz para esconder contradições, esconder diferenças e assim submeter o outro ao que se deseja, seja nas atmosferas familiares ou nas ditaduras e democracias.  É uma vivência cotidiana. Toda vez que alguém aplaca um desejo, toda vez que se satisfaz uma demanda, se estrutura uma relação de doador e receptor criando-se, ampliando-se planos de diferenciação. Estas variações espaciais geram dicotomias e consequentes categorias - tipos específicos agrupados. Aparecem fortes, fracos, doadores, assistidos e assim são resolvidas as reivindicações e necessidades, tanto quanto são aplacadas as tensões e divisões intrínsecas ao processo de exploração econômica e submissão familiar. Conflitos não resolvidos tendem a ser esquecidos, a ser superados através de deslocamentos - ao transformá-los em matéria-prima para justificativas de violências, toxicomanias e apatia. Destruir o outro, derrubar o que impede que o indivíduo se sinta completo, se sinta poderoso, reve

Diferenciações de uma mesma questão - Sófocles Édipo Rei

Sófocles, no Édipo Rei, escreve que “os sofrimentos atormentam mais quando são voluntários” . É uma afirmação muito discutível. Se considerarmos voluntário como autoimposto, pensaremos em renúncia. Renunciar é transpor referenciais contextualizados em função de significativos anseios e demandas que, quando realizadas, a neutraliza. Não há tormento. Quando este existe, quando persiste, são as divisões, as avaliações, o jogo pragmático que o recria. Precisa-se perder e não quebrar, ter de inventar e reinventar maneiras de ultrapassar limites irreversíveis, criando assim, tormentos, nada mais que a renúncia não admitida, ou mesmo falhada. Entretanto, se imaginarmos voluntário como escolhido, decidido como expressão de uma continuidade sucessiva de situações que apontam para escolha, escolher sofrer, às vezes, é um caminho que se coloca para integridade humana. Aceitar ser submetido às torturas, aceitar ser massacrado para não destruir organizações e comunidades que espelham as própria

Lidando com medidas, lidando com limites

O quantitativo sob forma de medida frequentemente invade o nosso cotidiano, é visível nos recursos financeiros, que não devem ser extrapolados para não criar dívidas, nas medicações, na comida ingerida, na bebida buscada etc. Lidar com a medida conforme as próprias conveniências é responsável por descalabros. A automedicação, por exemplo, o não cumprimento das indicações das receitas médicas criam situações responsáveis pela não remissão de sintomas e até agravamento dos mesmos. Muitas mães determinam que vão diminuir ou aumentar as receitas pediátricas de seus filhos, pois acham que é melhor para a criança. Seus critérios de bem-estar do outro ou de si mesmas, às vezes, estão submetidos ao custo da medicação: o antibiótico é muito caro, em lugar de administrá-lo de 6 em 6 horas administram de 8 em 8 horas, “dá no mesmo” elas dizem; não sabem, ou deixam pra lá, o fato de estarem ajudando a proliferação bacteriana. Comerciantes que diluem leite e outras substâncias para maior luc

Compactar é diferente de deslocar

As situações são polarizadas constituindo-se em empecilhos e apresentando necessidade de confronto e mudança. Nem sempre isto ocorre, muitas vezes não se enfrenta, não se confronta, pois se desloca as dificuldades, buscando diluidores das mesmas, responsáveis por novos atritos em outras situações e estes deslocamentos eternizam dificuldades. A melhor maneira de extinguí-las é compactando o que impede a continuidade do processo. Compactar é criar confluências, é permitir que o acúmulo das tensões seja percebido, configurado e enfrentado. É o clássico “ cortar o mal pela raiz ” só possível quando não é negado, quando não é camuflado. A sutileza da diferenciação é conseguida através de objetivação das variáveis estruturantes do problema, da dificuldade. Toda vez que qualquer problema é transformado em justificativa são criados deslocamentos imobilizadores, impeditivos da mudança. A tolerância é uma das máscaras utilizadas pela impotência e comprometimento. Abusos sexuais em crianças, n