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Mostrando postagens de julho, 2022

Compactação e contingência

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Reduzido aos estímulos do ambiente que o cerca o indivíduo constrói suas redes protetoras. Tudo é junção e encaminhamento de pontos, interseção de motivações, variação de narrativas e propósitos. Aos poucos suas motivações são transformadas em respostas pontualizadas ao que acontece. Guiado pelas circunstâncias, pelas contingências, ele ri ou chora conforme tambores agudos ou címbalos discretos. Quando a motivação é transformada em resposta estruturada pelas contingências, ela não é mais a pergunta que tece redes, que rascunha caminhos e decisões. Seguir a própria marcha, manter-se coeso e determinado pode ser alienador, pois pode decorrer de uma deliberação prévia: como sobreviver. Qualquer prévio, qualquer pergunta que busque resposta como definidora de caminhos, está comprometida. O compromisso organiza, mas é também o preto e branco entediante, é o sistema sobrepondo-se ao sistematizado, a família sobrepondo-se ao indivíduo, o grupo sobrepondo-se à unidade, o esperado sobrepondo-se

Irrecuperável

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    Ao constatar a falta de possibilidade em recuperar o que foi estragado, o que é desejado ou o que foi perdido surge a vivência de irremediabilidade. Nada mais pode ser feito e o que se fez é o que causou a impossibilidade. Contradição e antagonismo de tanto atritarem criaram fossos, buracos e vazios. São dois pedaços, não há comunicação, salvo as de memória e desejo. Não suportando essa vivência e não questionando seus referenciais de contradição, as divisões proliferam. De um lado a pessoa boa que tudo possibilita, de outro, a mesma pessoa que é a que tudo dificulta e atrapalha. Não se constatando as divisões arbitrariamente realizadas, não se enxerga o abismo relacional configurado. Melanie Klein já falava no desespero e na culpa da criança que entra em crise ao descobrir que o "seio bom e o seio mau" fazem parte da mesma pessoa: da mãe. Chamo atenção para esse exemplo da psicanálise kleiniana apenas para corporificar, exemplificar a questão. Na realidade a culpa não de

A coisa mais retrógrada...

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  A coisa mais retrógrada em um dado momento pode ser aquela pela qual se luta. Para entender essa afirmação é necessário perceber as defasagens do tempo. O que passou não mais existe e o que ainda não aconteceu, tampouco. Só existe o presente, no caso só existe a luta. Entretanto, muitas vezes os objetivos que fundamentam a luta não existem, não estão presentes. Lutar pelo que não existe é quimera, sonho, ilusão. No âmbito afetivo relacional querer recuperar afetos perdidos com considerações desgastadas é ilusão, é um faz de contas negador dos desgastes e erros por exemplo, assim como no âmbito político social querer levar os menos privilegiados a recuperar direitos pode ser apenas desejo de realização do próprio sonho. Vida é movimento, é processo. Novos contextos, novas redes, novas configurações relacionais. O direito de ontem, não é mais o de hoje, nem será o de amanhã. A luta, muito próxima do desejo, se confunde com ambição, perseverança, ganância e nesse sentido impermeabiliza

Entraves e bloqueios

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    À parte as pessoas com lesões cerebrais ou nervosas identificadas, a dificuldade de expressão - principalmente de diálogo - na fala, na exposição de pensamentos é, frequentemente, entendida como "déficit cognitivo" ou "bloqueio emocional" . Essa particularização, situando os problemas de expressão e de fala na esfera cognitiva ou emocional, é precária pois decorre de visões elementaristas dos fatos psicológicos. Não são as funções cognitivas - de conhecimento - nem são as emoções os iniciantes ou deflagradores de problemas. Não existem essas particularizações. O que existe é um indivíduo no seu mundo, que reduzido às funções de obedecer, por exemplo, de não criar problemas e se controlar desenvolve bloqueios. Assim ele é educado, assim cresce e se percebe só, sem o outro que o encontre, que o situe. São referenciais, são regras, deveres que, quando obedecidos não geram conflito, mas que ao contrário, quando não obedecidos geram reclamações. Seguir a linha, não