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Mostrando postagens de abril, 2024

Desistência comprometida

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      Abrir mão de si é um dos mais encontradiços estados de não aceitação, consequentemente de neurose. Não se aceitando, não se suportando, o indivíduo escolhe padrões, situações pelas quais se vê reconhecido, significativo e aceitável. Agir como os famosos agem, ser como os ricos e bem sucedidos são, também esconder e tentar apagar tudo que considera denunciador de suas origens e aspectos de sua não aceitação, para assim se classificar para as situações de sucesso. A vida passa a ser resumida entre aparentar o valorizado e esconder o que pode ser demérito. Copiar e seguir a escada do que é considerado sucesso exige reinicialização. É preciso apagar todo traço que possa desabonar, é preciso reconfigurar vivências, parentescos e amizades. Sem história, sem traços que o denunciem e comprometam, o indivíduo segue sozinho para novos horizontes. Necessário manter amigos, alianças, mesmos caminhos, que o tornem aceitável e respeitado. Abrir mão de si, de sua história, é seu novo nasc

Consideração ou liberdade?

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    Geralmente, quanto mais oprimido o indivíduo se sente, mais ele deseja se afirmar e ser considerado. É estarrecedor esse desejo de ser considerado, quando o que deveria ser desejado era a liberdade, o fim da opressão.   Acontece que quando se quebra a “coluna”, quando se é oprimido, se rompe a continuidade de perspectivas de estar no mundo com os outros. O que se percebe são pontos, pessoas, situações que são obstáculos. E aí, já de coluna quebrada, se arrastando, o que se aspira é a ajuda do outro, o envolvimento do outro, é ser considerado para então conseguir o que se quer. É a liberdade dada pelo apoio, é o outro transformado em bengala. O oprimido, quando não se liberta, quando não vence o opressor, transforma tudo em objeto, em instrumento para realizar desejos e aliviar dores.   Ser oprimido, seja em que esfera for, é ser desumanizado. Perder autonomia, perder liberdade, perder sensibilidade, e conseguir apenas movimentos de baixar a cabeça e

Agendando o imaginário

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      Toda vez que ouço ou leio: “Deus vai me ajudar, Deus me ajuda” percebo o desespero, a desorganização, a infelicidade implícita de quem tem esse desejo, essa certeza.   Para mim, fé é transcendência, é o encontro resultante de ir além de si mesmo, e nesse sentido, fé é exercício de autonomia, é descobrir no outro, o si mesmo.   Deus ajuda, pode ajudar o indivíduo que cumpre as suas obrigações. Essa sempre foi a afirmação clara de toda religião, entretanto, com o passar do tempo, essa clareza foi obscurecida e as obrigações se transformaram em sinônimo de promessa, óbolo, dízimos, festas e batuques. Pagar a promessa, fazer o agradecimento passou a significar ou resumir a maioria das ações religiosas. É absurdo! Pede-se ajuda a Deus e depois se tenta barganhar com a ajuda dada. Entronizam-se deuses nesse ato de troca. Deus ajudou e será recompensado. É vil, é absurdo, é uma troca, um ato negador de Deus.   Fé é autonomia que quando pensada e exer

Emaranhado

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    Quanto maior a necessidade de saída, mais confuso e terrível fica o labirinto no qual o indivíduo se encontra. Emparedado, protegido e desesperado, não sabe o que fazer, embora saiba para onde ir, conheça mil portas a bater, inúmeros caminhos a enveredar, mas não sabe como sair. Sair de quê? Do labirinto no qual entrou. Buscar a saída quando se constata não conhecer a saída é um método desesperado, caracterizado pelo constante ensaio e erro que torna tudo monótono. É repetir, fazer igual, tentar até que se consiga, principalmente quando se incorporam os pedidos de ajuda divina, ou quando se recorre às tábuas explicativas das rotas ou caminhos a percorrer.   O grande drama não é buscar a saída. O grande drama é precisar, querer a saída. Ficar sem saída sempre demonstra um cálculo falhado, um anseio frustrado. Mas também é o perceber o que está acontecendo: nada anda conforme se imaginava. Quando isso é aceito, questionamentos surgem e se constituem na saíd