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Mostrando postagens de abril, 2022

Valor e afeto

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  A trajetória humana se desenrola, geralmente, em torno de valorizar e ser afetado. Uma das implicações desse processo é situar o indivíduo, o ser humano, como receptáculo, como reagente. Nada é próprio, nada é legítimo. Apenas cadeias e circuitos são continuados. Os causalismos deterministas aristotélicos, tanto quanto as quimeras platônicas povoam esse universo, são as balizas que se deve seguir. As orientações criam expectativas e metas; é sempre um além do dado, além do que acontece. Não se está solto, desencadeado, descontínuo. Família, comunidade, país, época representam valores que situam, apoiam e significam.  Ir além do valor, ir além do situante, buscar novos referenciais é criar antíteses libertadoras e também aprisionadoras, mas é o que possibilita andar, descobrir, ser livre para novos valores e novos afetos. As contingências são limitadoras, pois visam apenas satisfazer necessidades e manter compromissos. Nesse sentido, a liberdade é sempre ilusão, visto que estar solto

O insurgente transformado em bode expiatório

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    Frequentemente, nas famílias, nas comunidades e até mesmo na sociedade surgem situações nas quais se deseja o desaparecimento de indivíduos ou grupos para trazer bem estar, calma e prosperidade. O filho drogado, delinquente, que rouba, que agride irmãos, avós e pais, que quebra objetos em casa, quando oferecido como vítima propiciatória e é morto pela prepotência policial, por exemplo, gera alívio, bem estar e tranquilidade. Nos grupos de trabalho ou nas escolas, às vezes tem alguém que reage contra injustiças, contra prepotências do patrão ou arbitrariedade de professores e essa reação o isola fazendo com que ele seja considerado ameaçador quando punições ao grupo são esboçadas. Inicialmente a reação contra opressão e injustiça é aplaudida, entretanto, à medida que surgem ameaças que a todos atingem, como corte de salários, demissões, corte de água e luz das casas etc. aparecem também pressões dentro do grupo para que o insurgente se desculpe e se redima. A vítima, o injustiçado e

Mecanização, vazio e desespero

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" Sangro, logo sou " * Lendo Byung-Chul Han encontrei o seguinte: " Como quer que o chamemos, Ritzen, cutting ou o ato de se cortar é algo que se tornou hoje um fenômeno de massa entre os adolescentes. Milhões de adolescentes na Alemanha mutilam-se a si mesmos. De modo proposital se flagelam, causando feridas para sentir um alívio profundo. O método mais comum é se cortar com uma gilete. O ato de se cortar se desenvolve até se tornar um autêntico vício. Tal como ocorre com qualquer outro vício, o intervalo entre os atos de se cortar se torna cada vez menor, assim como as doses cada vez maiores. Assim, os cortes ficam cada vez mais profundos, sente-se "uma urgência de se cortar" ." * A descrição acima nos impõe uma série de constatações. A alienação, a coisificação estruturada pelos sistemas sociais e econômicos é de tal ordem que o indivíduo só sobrevive ao se transformar em máquina. As proposições familiares, que poderiam ser antíteses aos processos cois

Atordoar

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  A descoberta de limites sempre estabelece referenciais, sempre cria possibilidades e impossibilidades, que, por sua vez, se transformam em novos limites e também em caminhos frequentemente limitadores e/ou libertários. A circularidade de propósitos configura uma rotação em volta do mesmo ponto. A expectativa ilude e a mudança não acontece. Repetição é manutenção, tornando-se assim o "caminho da humanidade". O que faz mudar, então? - O que leva à mudança é o sair do círculo. Como ultrapassar o estabelecido, o circunscrito? - Só se descomprometendo, não buscando resultados ou soluções para o que desespera; só assim se permite a mudança. Não é renunciar, não é abrir mão ou desistir, é apenas ir além do limitante, é a quebra de compromisso com o que vai resolver, com o que vai mudar; é essa atitude que dá lugar à mudança. A mudança não é síntese, não é resultante, ela é a outra perna, o outro lado, o aspecto não vislumbrado, consequentemente, o não limitante, desde que configur