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Mostrando postagens de 2013

Erro trágico e peripécias

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Tudo que é avaliado, medido implica sempre em erro ou acerto. Certas situações são tão óbvias que delas só deveriam resultar acertos, mas, mesmo quando se tenta "agir corretamente", sem questionamentos e sem globalizações se incorre em erro, que em alguns casos pode ser um erro trágico. Shakespeare, em o Rei Lear, retrata magistralmente o erro do soberano ao trabalhar com o óbvio e o evidente. Obviedade, evidência são recortes parcializantes do existente, recortes integrados nas estruturas das próprias avaliações (autorreferenciamento). O que se destaca só é globalizado quando percebido em função de seus dados estruturais (presente percebido no contexto do presente). O Rei Lear achava que duas de suas filhas expressavam amor filial quando escolheram o que queriam na divisão de seu reino; a outra filha, Cordélia, expressava desconsideração quando apenas se propôs a receber o que a ela se destinasse, afirmando que o amava "como corresponde a uma filha, nada mais, nad

Mídia e poder

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Os mecanismos para mudar podem ser tão alienantes quanto os mecanismos de manutenção. A regra ou a imposição do “feliz natal” por exemplo, é uma forma de arregimentar ilusão, polarizar fragmentação em função de cruzadas midiáticas, consumistas ainda que solidarizantes. Propalar felicidade, liberdade ou atitudes de mudança e afirmação é iludir, é criar expectativas, vendendo de produtos a governos. Na pós-modernidade, o conhecimento, o saber é um produto que tem preço, consequentemente estrutura a pirâmide do poder, substituindo ideários e ideologias, reforçando títeres, comunidades e partidos: facções responsáveis pelo empoderamento e entesouramento a partir das demandas sociais. Oficialização e credibilidade de ocorrências, pouco tempo atrás eram validadas pela constatação do “Deu na TV, saiu no jornal, é fato” ; este referencial começa a ser falsificado, manipulado; os selos de garantia se ampliam. O selo, a embalagem, validam o produto. Nas redes sociais, por exemplo,

Harmonia

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O sentido da impermanência, da finitude, só é aceito sem divisões através da coerência. Coerência é ultrapassar divisões, é, detendo-se no instante, transcendê-lo pela ultrapassagem dos limites, pela ultrapassagem dos propósitos. Neste sentido, coerência é iluminação, é destruição de sombras criadoras de espaços, de finitudes arbitrárias. Diante do outro, do dado, sem linhas de convergência ou de divergência, neutralizam-se direções, polaridades. É o equivalente do equilíbrio da chama da vela falado pelos iogues: impermanente e sutil. Esta vivência do presente continuamente presente é o que permite unidade. Sem divisão não há constatação, não há avaliação, existe apenas conhecimento, fruição da permanente impermanência, da continuidade do estar no mundo. Ser com o outro é o único definidor. Estar desvinculado de tudo e integrar-se no vivenciado é o que permite vida, sensibilidade, conhecimento. Sem esta vivência, a possibilidade humana é drenada nas contingências: vivifica co

Nada se esgota em si mesmo

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É verdade, mas as coisas se esgotam em si mesmas enquanto vivência; esta inevitabilidade é transformada pelos contextos, pelos processos. A continuidade, o relacional é o processo, o movimento, a dinâmica do estar no mundo. O que é feito, o que é realizado é único enquanto vivência, mas estabelece diferenciações, significados, deixa marcas. São as implicações, as resultantes, as decorrências no sentido da continuidade processual. Não é causa, não é efeito, são momentos, passagens e paisagens diferenciadas e diferenciadoras. No âmbito individual, tudo isto poderia ser relacionado ao processo de memória. Memória não é apenas um receptáculo de vivências, é também o start , o início de novas cogitações e considerações. A memória individualiza à medida que constrói, que estabelece o eu, o ego, referencial de individualização enquanto vivência - embora sem significação como possibilidade relacional devido a sua característica indicativa de registros e posicionamentos. Quando, à partir

Ajustes e regulações

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Padronizar, regular são adaptações necessárias que realizam o ajuste indispensável ao bom convívio, entretanto, isto pode apenas realizar opressão e submissão. Ao querer dar certo, ser eficiente, se utilizam modelos decorrentes de avaliações circunstancializadas, de esperanças e consequentes ilusões, desde que o padrão, as regras defasadas são transpostas: são anteriores ao vivenciado, são passado, são voltadas para o futuro, se referem a limites, espaços diferentes dos agora situantes. Este posicionamento expectante cria tensões, cria angustias e coloca o indivíduo à mercê de autorização, de validação alheia a seus contextos relacionais. Adaptar supõe sempre um propósito ou uma falha a ser corrigida. Os critérios de congruência e validade são fôrmas, moldes que esperam receber a "massa humana" e adaptá-la a objetivos genéricos, não individualizados. Ser moldado é organizador, adaptador, mas também aniquila a liberdade (autonomia). As regras do bem viver não pod

Arrumação

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A organização é intrínseca aos processos perceptivos, a própria Lei de Figura/Fundo * possibilita isto, tanto quanto possibilita distorção, desorganização. Tudo vai depender das relações estabelecidas com o mundo, com os outros. Quando a imanência dos processos relacionais organiza e isto é permanentemente continuado através de questionamentos e mudanças, se estrutura autonomia ou na linguagem comum se estrutura auto-confiança. Se os questionamentos são decorrentes de metas, desejos e medos eles geram posicionamentos advindos de certezas e crenças, que ao organizarem o não existente - o futuro - desorganizam o presente. As sociedades, através de suas instituições, principalmente as educativas e religiosas, procuram organizar, educar e acenar com explicações geradoras de conforto e paz diante das vicissitudes. Educação, quando focada em necessidades a satisfazer, se constitui em um verdadeiro atentado ao humano e a religião ao tentar organizar o medo, através da fé, mobiliza o eg

Trunfos, amuletos e contra-egun

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Estar no mundo, deparar-se com o inesperado, com perigos e dificuldades, gera medo ou no mínimo insegurança e apreensão. Deter-se nesta vivência leva a questionamentos que permitem que o indivíduo descubra mudanças em sua percepção: o percebido pode se tornar libertador, as dificuldades podem significar confrontros esclarecedores e o inesperado é o novo que sempre questiona; entretanto, quando voltados para manutenção de situações e conquistas, se evita, se foge do que não está sob controle, mas se sabe que o imponderável, o fora de controle existe, isto amedronta e o individuo busca proteção. No afã de tudo garantir, são criados locais blindados pela proteção da família, de amigos, pela garantia do dinheiro, dos amuletos, do poder e de estratégias. São os trunfos, que vão desde "o sabe com quem está falando", "o dinheiro tudo resolve" até "não mexe comigo que eu não ando só" .    Pensar que a vida está garantida através do exercício de recurs

Mitos

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Hobsbawm já escreveu sobre a invenção das tradições como fator importante nos processos ideológicos, nos processos históricos. A construção de identidades através dos mitos de origem são frequentes nas sociedades, gerando manipulações das mesmas para conseguir "benesses" dos poderes públicos, assim como possibilitando a criação de histórias que servem para deslocar não aceitações. Reis, rainhas povoam o imaginário dos adeptos de Candomblé e muitos deles, oprimidos e escorraçados deslocam suas não aceitações, utilizam máscaras régias, fazem uma fusão entre os mitos, lendas de seus Orixas com sua personalidade. Têm sido tão frequentes estes processos no Brasil, que foi pesquisado por Monique Augras - psicóloga - como estudos de personalidade, no livro " O Duplo e a Metamorfose ". Temos outro exemplo na cultura indiana clássica, que engendra esta fusão entre mito, identidade e ideologia. Na India, com seus múltiplos deuses e avatares, a heroina Sita do Ramay

Objetificação do relacional

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As ambiguidades, as indefinições geram a necessidade de explicitar o sutil; é uma atitude responsável por dúvida, avaliação e consequentes necessidades de comprovação: especular, flagrar, classificar, fotografar garantem e sistematizam. A formação de símbolos, de ícones, nas suas diversas formas de imagem e metáfora tornam denso, tornam pregnante o relacional, encobrindo assim, as infinitas possibilidades dos processos, configurando-os como Boa Forma * e frequentemente criando distorções. Hábitos são formados, novas histórias e demandas surgem, frequentemente geradas por distorções e enganos. Reivindicações e protestos costumam adensar e fragmentar possibilidades, quando ancoradas em posicionamentos causadores de maniqueismo entre bom e ruim, certo e errado, familiar e estranho, por exemplo. Estas divisões são destruidoras da temporalidade, da unidade dos processos. Transformar o existente em ponto de convergência, em referência de um sistema, cria posicionamentos destrui

Metamorfoses e imitações

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"O animal arranca o chicote de seu senhor e chicoteia a si mesmo para se tornar senhor, mas, não sabe que isto é apenas uma fantasia, produzida por um novo nó na correia" - Franz Kafka A prepotência, resultado da tentativa desesperada de copiar, imitar, cria os improvisadores precários e emergentes. Sem base, sem estrutura de aceitação de seus problemas e vivências, surgem palafitas, suportes e construções para o que se esvai e se perde nos contorcionismos da labuta para sobreviver. Quando se percebe que a fantasia, o adereço é diferente do legítimo, se percebe também que muito já foi conseguido: várias imagens vendidas foram compradas, bons resultados apareceram. Conclui-se que é melhor continuar ganhando, comprando, plagiando, imitando e então, abrindo mão do espontâneo e vivo, aprimora-se a aparência, a representação - mais imagem. Imitar é fantasiar. Fantasiar é encobrir o que se considera feio seja antecipando o futuro pelas metas e realizações desejadas, seja

Diferenças nas psicoterapias

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Toda psicoterapia é semelhante em seus objetivos de melhorar, individualizar, criar condições para resolver as problemáticas que infelicitam o ser humano, entretanto, esta igualdade se dissolve, aparecem grandes diferenças, quando consideradas as fundamentações teóricas, conceituais, metodológicas responsáveis pela visão do que é comportamento, do que é ser humano, consequentemente, de como tratar e modificar os problemas humanos. Além da psicoterapia gestaltista, atualmente podemos ordenar as psicoterapias em dois grupos principais: psicanalíticas ou de fundamentação freudiana e as baseadas em neurologia, biologia. Orgânico, biológico, neurológico estão, assim, conceitualmente opostos ao psicológico. A gestalt therapy, de Fritz Perls, apesar de falar em gestalt, fundamenta-se em dualismos e mantém o conceito de inconsciente. Perls dizia " perca sua mente e ganhe seus sentidos ". O que caracteriza o pensamento de visão psicoterápica, ao longo das épocas, é o dualism

Incompatibilidades

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No trabalho psicoterápico é frequente ouvir pais se queixarem das "incapacidades" dos filhos. A idéia de incapacidade é sempre avaliada em função do rendimento escolar e da socialização. Crianças autistas, crianças com deficit intelectual, consideradas fronteiriças quanto ao QI, ao serem conduzidas às escolas, não conseguem o rendimento desejado. Geralmente os pais não aceitam a afirmação de que tanto faz que seus filhos sejam bem-sucedidos nas letras e números ou em desenho, pintura e dança, que não faz diferença se são alfabetizados, se se tornarão doutores, que o importante para a criança é ser aceita como ser humano que tem capacidades e possibilidades a desenvolver. Quando assim questionados, alguns chegam a afirmar que tudo bem se o filho ficasse só em casa, se não precisasse ir à rua, se não tivesse "vida social", que o avalia e inferioriza. Público e privado, social e individual, sociedade e família são agrupamentos, são contingências que não se exclue

Exigência

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Exigência é a alavanca que move os anseios de mudança e superação, é também a linha de demarcação que aniquila o presente, dividindo e fragmentando o humano; transforma os processos direcionando-os para resultados circunstancializadores do comportamento. O indivíduo, limitado entre conseguir e não falhar, faz com que tudo seja instrumentalizado. O outro é a variável interveniente, responsável por sucesso e fracasso. A avaliação constante, positivo e negativo, bom e ruim, enfim, os valores são premissas e resguardos configurados como forma de estar no mundo. Exigir, atingir é o que conta. Estes robôs processam e exigem matéria prima. A vida se transforma em regras. As notas escolares validam as relações com os filhos, os acréscimos salariais determinam a felicidade e alegria cotidianas, por exemplo. Exigir é perder, desde que toda contabilidade busca comparação, supõe erros, supõe acertos transformados em evidências e selos de garantia. Perdendo o presente, balizado e validado

Extrapolações

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Deparar-se com qualquer situação, avaliando, negando e afirmando suas possibilidades e impossibilidades através de critérios alheios à situação que está ocorrendo, distorce o percebido. As conclusões não decorrem da estrutura percebida e sim dos próprios critérios. Este autorreferenciamento, além de invasivo, é destruidor do que se pretende compreender. Extrapolar dados é distorcer, é por exemplo, negar problemas enfocando-os sob os próprios pontos de vista, a partir das próprias necessidades. Mães que não sabem o que fazer diante da depressão e angustia dos filhos são aquelas que não se relacionam com os mesmos desde muito; fazer qualquer coisa é um ato livre que não cabe nas cadeias do medo e comprometimento. Entregar o problema dos filhos aos psicólogos, educadores ou autoridades punitivas, é para elas, a solução. Esta extrapolação, cria nova métrica, ritmos diferentes dos da própria relação entre mãe e filho - dois seres, duas pessoas. Entrincheirar-se em certezas ou medos é

Bulimia

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Bulimia é um dos deslocamentos da ansiedade . Este deslocamento é feito através de exagerada ingestão de alimentos, tanto quanto, ela, a ansiedade, é reabastecida por este mesmo deslocamento. O cerco se fecha. Quanto mais come para aplacar ansiedade, mais ansioso se fica, assim como mais desesperado em constatar um dos efeitos desta atitude: a engorda. Diante da constatação do limite (o corpo engordando), engendra-se soluções impossíveis: não engordar, esquecer o problema (o que causa a gordura) e se agarrar no resultado solucionador: vomitar o acumulado, jejuar, ingerir remédios emagrecedores e diuréticos; isto é vivenciado como neutralização de todos os problemas. A maioria das pessoas bulímicas têm peso normal e conseguem esconder seus problemas alimentares e ansiedade atrás de uma aprência física "normal": engordam e emagrecem em curtos períodos e se desesperam diariamente no esforço de manter suas práticas alimentares desapercebidas por familiares e amigos (tanto o com

A psicoterapia dinamiza, a problemática imobiliza

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O questionamento é a alavanca, o combustível que permite continuar a trajetória humanizada, a dinâmica de ser no mundo. Posicionado e imobilizado, cercado e identificado pelas próprias dificuldades e problemas, o indivíduo colapsa, perde dinâmica. Toda sua movimentação é na construção de máscaras, pontes e artefatos para atingir soluções e assim se dividindo, se fragmentando. O outro, enquanto terapeuta, através do diálogo, ao globalizar os pontos de fragmentação, os núcleos de não aceitação, possibilita que o indivíduo tenha novas percepções acerca dele próprio. É um momento de dinâmica que altera a imobilidade do ajuste/desajuste gerado pela problemática, pela não aceitação e sintomas. Quanto mais questionamento, mais mudança; quanto mais busca de solução dos problemas mais desgaste, mais deslocamento, mais metas e desejos de resultados saitsfatórios, consequentemente de ansiedade. No posicionamento imobilizador gerado pela problemática, a ansiedade é uma constante. Tentati

Aprisionado ao bem-estar

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Adaptação, acomodação, adequação são frequentemente sinônimos de limites, renúncias e aprisionamentos. Manter compromissos, negar a própria vontade, disfarçar desejos, esconder e negociar motivações é uma maneira de construir alienação, despersonalização. Nada mais tranquilo, neste contexto de alienação, do que o previsível, o certo e limitado. A organização realizada por aderências - padrões e regras - é o que existe de mais alienante e aprisionador. Sem determinação não há iniciativa; vive-se a ilusão de ter iniciativa através da chamada escolha. Este acaso arbitrário - a escolha - é muito valorizado por trazer colorido à vida. Brincar disto ou aquilo, de sim e não, é fazer de conta que existem dúvidas conflitantes, que existem possibilidades de escolha. Nas vivências comprometidas não existem antíteses, nada destoa do bem-estar e adequação: dúvida entre comer carne ou peixe, por exemplo, quando se tem comida, não é desesperadora; enlouquecer por não conseguir escolher um d

Paradoxos da neurose

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É conhecida a escalada paradoxal da hipocondria: viver faz mal, causa doença. Este implícito funciona como uma espada de Dâmocles, é condutora e mantenedora do comportamento paradoxal. Não ir até o fim, negar, desconhecer e subtrair implicações, permite sobreviver, gera divisões, paralelas que nunca se encontram, que não estabelecem conflito embora sejam paradoxais. A não globalização fragmenta, pontualiza e ao firmar posicionamentos, nega toda possibilidade de dinâmica, de diálogo. Várias situações no viver neurótico, distorcido - na não aceitação - criam atitudes paradoxais. Cuidar dos sintomas, evitá-los, estabelece um caudal ritualístico, maneiras de com eles conviver ao ponto de criar vícios, hábitos. É frequente o viciado em síndrome de pânico. Enfileirar queixas, estabelecer reivindicações, fazer com que familiares e acompanhantes participem dos cuidados necessários para evitar o pânico é um vício que desloca tensão, consequentemente alivia. Detestar a solidão, demanda

Desprezo

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O processo de não aceitação às vezes assume formas extremas. O próprio indivíduo se despreza, se sente monstruoso sem nada que disfarce o que considera feio e ruim. Carente implora, mendiga que olhares simpáticos, toques piedosos o façam esquecer suas definições acerca de si mesmo. Buscando esconder o que o afasta do que necessita - cuidado, atenção, carinho - arranja "capas protetoras" que camuflam seus dramas. Protegido pela capa  (dinheiro, estudos, inteligência ou até mesmo outra pessoa utilizada como moldura) pensa que se estiver bem vestido, bem apresentado, sendo capaz, tendo dinheiro, beleza, pode despistar, esconder suas não aceitações, suas diferenças. Desprezando-se e agarrando-se ao que escuda e melhora, transforma-se no que rouba tudo que está à mão e serve para utilizar. Estrutura-se, assim, o cínico, o desonesto que cada vez mais se despreza, mas que também não se abate com isto. O desprezo, neste caso, neutraliza tensões. As soluções encontradas são

Desconsideração

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Todo sistema estabelece o que considera superior, inferior e mediano. Os critérios são variáveis, mas referenciais constantes são poder e status, que implicam no que é considerado bom, vital, valorizado e ruim, inútil, desvalorizado. Perceber o mundo, o outro e a si mesmo através destes delineamentos é esmagador, mesmo quando se é colocado no topo: o padrão aliena, isola e desumaniza, embora nem sempre seja assim percebido. Estar além, considerado superior, possibilita a vivência de ser melhor, mais apto, mais capaz, poderoso. Neste momento, assim se percebendo, vem a desumanização; passa-se a ser representante de ordens constituidas, transforma-se em uma coisa, objeto entre outros, caros e poucos. Estar abaixo, oprimido, esmaga e revolta. Ser o desprovido, desconsiderado, apenas a massa de manobra, sem voz própria, utilizado para servir é também desumanizador; só existe em função das vantagens conseguidas por se deixar usar e manipular. Consideração e desconsideração

Contentamento

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Alegria, bem-estar, satisfação, alívio caracterizam a vivência de contentamento, assim como descobrir o novo, saber-se capaz, perceber as superações realizadas ao longo de difíceis processos traz contentamento. O filho que nasce, receber o diagnóstico acertado, as obrigações cumpridas, o prazer realizado são algumas situações onde se fica contente. Sucesso, realização e o inesperado auspicioso, sintetizam as vivências de contentamento, mas, resumir a existência em função de objetivos, de resultados satisfatórios cria polarizações de bom e ruim, tristeza e alegria, contentamento e descontentamento. Nestes universos assim polarizados, qualquer coisa contenta ou descontenta. Esta contingência enfraquece, deixa muito tênue a estrutura humana, desde que, alienando-se em função de resultados a pessoa se circunstancializa e ouve apenas " toques de tambor ", reagindo em função do que é programado e organizado. Comprometidos com estes referenciais, os indivíduos têm sempre seus

Perdão

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No cristianismo, perdoar é praticamente uma regra definidora do bom cristão, que tanto pede perdão constantemente (confissão e expiação dos pecados), quanto, mirando-se no Cristo, busca perdoar seus agressores sistematicamente. Saindo do referencial cristão e popular, perdoar, sob o ponto de vista psicológico é quase sinônimo de generosidade, neste sentido é o oposto de mesquinharia. Mesquinho é o avaliador, aquele que tudo conta, considera, aproveita e não esquece. Limitada pelos referenciais do que beneficia, do que atrapalha, do que dá segurança ou pressiona, a vida é diminuida, amesquinhada; nenhum crescimento, desenvolvimento cultural ou expansão podem acontecer. Restringindo-se a estes parâmetros, tudo é avaliado e assim se vive. Neste contexto de avaliação, ou se perdoa facilmente, quando perdoar não atrapalha, não prejudica ou se contabiliza a situação e se torna implacável, jamais perdoando. O foco não é o outro, não é o perdão, mas sim evitar o que atrapalha. Nesta

Inutilidade

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Psicologicamente a vivência de ser rejeitado e assim se sentir, equivale a constatação de inutilidade. Incapaz de preencher requisitos do que é considerado bom, válido e útil, o indivíduo é expelido das relações por ele configuradas. Diversas traduções surgem para considerar e explicar esta vivência, desde às do seio mau (Melanie Klein) até às de "arianização". A atitude de rejeitar está estruturada, geralmente, em contextos e estruturas socio-econômicas: são os preconceitos, as restrições, os bodes expiatórios, necessários à manutenção dos sistemas. Perceber-se rejeitado atinge outras dimensões desde que surge um mediador, um filtro responsável por esta categorização. Não se aceitando, o indivíduo fica referenciado nessas vivências: é o autorreferenciamento. Ele busca ser aceito e geralmente se sente rejeitado, nada preenche suas demandas de aceitação. Criando metas e padrões onde tudo dará certo, onde ele será útil e bom, belo e aceitável, ele continuamente avalia