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Mostrando postagens de junho, 2020

Encurralado

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Quando não se tem a perspectiva de futuro, quando as situações se congestionam e se pontualizam, surge a vivência do encurralamento, do estar sem saída. Nessa situação densa, a ansiedade rapidamente se transforma em pânico. Não ter para onde ir, não ter amortecedores, sentir que tudo aproxima do abismo, do final, da não saída, é desesperador. Situações limite imobilizam quando as possibilidades de mudança, que exigem novas abordagens, não são percebidas. Os arquivos, as memórias funcionam como chaves que abrem perspectivas. Saber-se íntegro, capaz de vencer obstáculos, amplia o imediato, o estreito. Quanto maior a aceitação de si mesmo e de suas vivências, mais perspectivas são estabelecidas. Kurt Lewin tem uma interessante abordagem sobre o assunto: “… uma mudança no comportamento se verifica quando a conexão funcional entre o nível de realidade e irrealidade é reduzida, isto é, se elimina a ligação entre fantasia e ação”. * Nesses dias, tomando o exemplo das vivências de confinament

“A bolsa ou a vida”

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Com o exemplo “a bolsa ou a vida” Lacan procura demonstrar o absurdo da escolha, que sempre implica em perda não apenas do que não se escolheu, mas também daquilo que pretensamente se escolheu. Escolhendo a bolsa se perde as duas, bolsa e vida, e escolhendo a vida o que se escolhe é uma vida (sem a bolsa). As obviedades ampliadas para condições paradoxais criam o faz de conta que é a escolha. Atualmente, na pandemia da Covid-19, temos o equivalente com as pessoas que entendem a necessidade de isolamento como uma escolha e não como uma evidência que se impõe. Escolher o trabalho e o não isolamento, em última análise, é escolher a possibilidade de se contagiar e aumentar o risco de morrer. Ficar em casa é o óbvio, inelutável, sequer deveria ser pensado como passível de escolha.  Certas situações sempre nos lembram a escolha de Sofia: com os dois filhos a seu lado exigem que ela entregue um deles para ser sacrificado, e se não o fizesse perderia os dois. Nesta situação de explicita impot

Insônia

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Não conseguir dormir ou ter dificuldade para dormir é uma resultante direta do estar totalmente ligado, tomado pelos acontecimentos, plugado no ir e vir das demandas. A ansiedade, o medo (omissão) e preocupação (antecipação) são seus principais pilares construtores. Os organismos precisam descansar, relaxar, ter uma diminuição das atividades. Isso é válido para todo ser vivo e até mesmo máquinas não funcionam ininterruptamente, precisam ser paradas. Descansar ou relaxar é entrar em outro ritmo, é desligar ou arrefecer ritmos anteriores. Desligar-se é a metáfora mais usada para se referir ao adormecimento, e sabemos que em alguns locais iluminados, para desativar a iluminação basta desligar 5 interruptores, mas em outros são necessários 50, 500 ou mais desligamentos. A vigília - a privação do sono - é como esses locais acesos. Cortar apreensões, dúvidas, medos são os diversos interruptores que precisam ser desligados. O moto contínuo de desejos e expectativas (ansiedade, inv

Equivalências

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Corresponder situações uma à outra necessariamente implica em comparações. Comparar requer parâmetros que açambarquem similitudes a fim de que se possa estabelecer a comparação. É o clássico e matemático não poder comparar grandezas diferentes, que aqui vale ser lembrado. Redução quantitativa viabiliza tudo, tanto quanto não esgota individualidade e condições intrínsecas do existente, e nesse sentido equivalência é sempre uma redução quantitativa. Apesar dessa redução elementarista a ideia de equivalência pressupõe também a de igualdade. Assim, saber, por exemplo, que um ser humano equivale a outro ser humano e que isso acaba com qualquer diferença entre humanos é neutralizador de preconceitos e paradigmas arbitrários de superioridade e inferioridade que só permitem comparações arbitrárias, isto é, fora do sistema que as estruturou: igualdades e equivalências. Em geral, onde há igualdade não há comparação, entretanto só aí é que podemos encontrar equivalência: comparações pré