Postagens

Mostrando postagens de fevereiro, 2024

A tábua de salvação é a única saída do sem saída

Imagem
    A tábua de salvação é a única saída quando não se tem saída. É paradoxal, é um oximoro. A única saída não é uma saída. A situação se neutraliza, mas quando se inventa, sonha ou arbitra uma “tábua de salvação”, acredita-se que o objeto, a tábua, vai mudar o processo.   Não há saída, não existem mais recursos, pontos ou esboços. A realidade é a não saída, é o fim. Criar uma tábua, arbitrá-la como salvadora só subsiste nos universos não reais, no mundo da fé, por exemplo, ou no das transformações arbitrárias onde o que não existe passa a existir. Sonhar abre portas exatamente por não existirem portas, tudo é sonho.   A trajetória, os caminhos das tábuas de salvação são preenchidos pelas esperanças, colorindo medos e remendando frustrações... e assim as vidas prosseguem.   Adiar, procrastinar, esperar são atitudes que fundamentam a criação de expectativas e apostas nas situações salvadoras.   “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer” já dizia

Blindagens e distorções do autorreferenciamento

Imagem
  Inúmeros indivíduos se sentem com dificuldades de lidar com pessoas e/ou situações, se vitimizam se sentindo incompreendidos e desamparados, e nesse contexto a alienação impera e não há a percepção de si mesmos, dos próprios problemas, não há constatação ou questionamento, o mundo começa e acaba na própria pessoa e tudo é percebido em função de suas satisfações e insatisfações, seus desejos, suas conquistas e fracassos, avaliando e decidindo em função dessas pontualizações. Percebendo o mundo, os acontecimentos, a partir dos próprios referenciais, das próprias necessidades, tudo é categorizado nesse contexto. É o autorreferenciamento – essa maneira distorcida de neutralizar não aceitações – se posicionando no que é valorizado, no que entende como importante e sinalizador de sucesso e aceitação.   Esse processo resulta necessariamente em surgimento e ampliação de sintomas – tonturas, tiques nervosos, pânico, ansiedade, depressão etc. – em posicionamentos sob

Delimitações e impermeabilizações

Imagem
      Inúmeras vezes o isolamento, o estar separado do que ocorre aqui e agora, do outro, do mundo enfim, resulta de estar protegido ou protegendo-se, de estar sempre verificando possibilidades e avaliando, buscando o melhor para si, gerando em última instância, impermeabilização característica do autorreferenciamento, das respostas contextualizadas em referenciais próprios.   Rezar, torcer para que tudo dê certo, apoiar-se no pensamento positivo, criar redes de afeto e proteção através de atitudes consideradas transcendentais são exemplos de delimitações que impermeabilizam. A meditação, por exemplo, considerada pelos espiritualistas como um instrumento de ultrapassagem de variáveis do estar no mundo, cria impermeabilização sustentada pelas bases residuais do que se ultrapassou. Isso acontece com qualquer delimitação, seja busca de transcendência, seja busca de situações mundanas a alcançar e a evitar. Tudo que é transformado em contexto para estabelecer participação, em pon

Mentiras são necessárias?

Imagem
    “Se privar uma pessoa comum de sua mentira vital você também a privará de sua felicidade”   - Henrik Ibsen -   Lendo O Pato Selvagem, de Ibsen, pensei nessa verdade/mentira. A ambiguidade da situação, uma ambiguidade quase quântica que é gerada pela própria colocação do problema. A mentira, no caso, é considerada por Ibsen como vital, isso porque ele acredita que através da mentira os próprios sonhos são realizados.   Acontece que a mentira exime a culpa, tanto quanto esconde e amordaça a impotência. E sendo assim como afirmo, fazer de conta que tem condição, quando não se tem, não é salvador, pelo contrário, é aniquilador. Essa pessoa sem sua mentira é apenas uma pessoa com sua realidade - provavelmente significadora de frustração, recheada de medos e vacilos. Sem a mentira ela percebe seu problema, e ao percebê-lo ela tem condição de não o suportar. Ao contrário, quando tolera se desumaniza, se aniquila. Ficando privada da felicidade construída na mentira, ela percebe

Quando tudo é explicado por a priori, nada é explicado - 2

Imagem
    Da mesma maneira que preconceitos com relação à nossa origem ( “portugueses degenerados”, “negros tribais escravizados” e “indígenas selvagens” ) são abordagens repulsivas e apriorísticas que distorcem e impedem a compreensão de nossa cultura, a visão oposta, de enaltecimento da herança de determinadas características culturais desses mesmos povos, nada explicam ou contribuem para o entendimento de nossa identidade cultural, nossos problemas sociais e suas possíveis soluções.   Cheios de boas intenções, imaginando neutralizar preconceitos e discriminações, muitos exaltam os saberes proporcionados pelos povos originários - os indígenas -, o acervo cultural trazido pelos africanos, suas danças, comidas, seus deuses, sua religião enfim, como chaves para nos desembaraçar de nossas atribulações.   Esse se voltar para o passado, escolher excelências formadoras de motivação e comportamento e considerá-las significativas no processo, é também um questionável