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Mostrando postagens de agosto, 2017

O fascínio pela desgraça

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Outro dia me pediram para falar sobre o fascínio pela desgraça, pela ruína, queriam também saber porque programas televisivos apelativos têm grande audiência. Processos de identificação geram motivação. O familiar é percebido enquanto semelhante; essa semelhança é englobada como proximidade. Estas leis perceptivas - semelhança e proximidade - regem os processos da percepção, do conhecimento, consequentemente, do relacional, da montagem de estruturas sociais e psicológicas, dos relacionamentos consigo mesmo, com o outro e com o mundo. Vivendo em condições economicamente subdimensionadas, sofrendo provações e privações, participando de cotidianos abjetos, o ser humano se motiva, se fascina pelo superdimensionamento do que lhe é próximo. Ampliar, às últimas consequências, o que está presente, limitado pelo exíguo espaço, ver como pode explodir tudo que está gestado, é revelador. Fascina. Freud explicava essas identificações e fascínios pela projeção da agressividade, das viv

A radicalidade do desejo

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Deus ex machina - vaso grego, séc. IV b.C. É muito fácil imaginar ou mesmo lidar com a radicalidade do desejo quando o mesmo é colocado como uma das forças motrizes da vida. A partir dessa posição podemos, por exemplo, dizer que a radicalidade do desejo é o máximo da realização humana e, ainda, que vivemos para realizar isso cada vez que caem as censuras do subconsciente e libertam-se as motivações inconscientes. Esse é o ponto de vista freudiano. O desejo é cego e precisa encontrar o caminho para realização do desejante - o ser humano. Fora dos dualismos de interno e externo, não admitindo forças operadoras e determinantes - como é o caso dessa abordagem baseada na libido ou energia sexual/impulso vital - e entendendo o desejo como resultante de motivação, a radicalidade do desejo só pode ser entendida quando submetida a seus contextos estruturantes, e aí, falar desta radicalidade é falar de sintomas de não aceitação, é falar de carências e de falta. Nesse sentido, a ra

Como lidar com a pressão diante das tarefas

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Toda tarefa visa um objetivo, entretanto esse objetivo pode se esgotar na própria realização das tarefas ou ultrapassá-las. Quando os objetivos se esgotam na própria realização das tarefas, surge tranquilidade e bem-estar. Quando tal não acontece, surge expectativa traduzida por medo e ansiedade - é a conhecida pressão, o estresse. Cotidianamente estudantes vivenciam essa situação com a pressão dos vestibulares, ENEM e exames. Também são exemplificadores dessa pressão esperar resultados de exames de saúde, tanto quanto expectativas de conseguir emprego através de concurso. Quanto mais preparado e capacitado se está para o que se propõe atingir, mais confiança, mais certeza, menos expectativa, entretanto, essa regra de ouro frequentemente é quebrada por dados aleatórios, pois a própria aposta, o processo, é um crivo. Depender de um exame comprovador de higidez ou mobilidade, por exemplo, ultrapassa os referenciais do examinado, do apostador, enfim, do indivíduo, pois se torn

Papéis sociais - mudança de comportamento

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As sociedades em seus desenvolvimentos geralmente estabelecem regras e padrões. Esses modelos sociais são datados. Tempo de validade também existe para eles, desde que os questionamentos individuais, as estruturas econômicas, as vivências relacionais e psicológicas tudo definem e subvertem. São as transformações, as adaptações, as mudanças que aparecem, continuam ou são interrompidas. Vinte cinco anos - parâmetro geracional - é uma medida desses pontos de ebulição, de transformação. Exepcionalmente, fatores aparentemente abruptos também são determinantes de épocas, também são marcos. O pós-guerra (1945) é um deles. A morte de muitos homens na guerra levou outras realidades aos lares: de mãe e esposa a mulher foi transformada em provedora, modificando, assim, toda a estrutura relacional com seus filhos: dos lullabies (canções de ninar) às histórias contadas pelos audios, até os contatos no caminho da escola, agora substituído pelos acompanhantes e condutores escolares. Vinte

“Quanto pior, melhor” - Semelhanças e identificações

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Continuamente não aceito, desconsiderado e marginalizado, surge, no indivíduo, esperança de camuflagem para conseguir mínimas considerações. Ele tenta arranjar uma segunda pele, consensualmente não aceitável, por acreditar que quanto mais sujo, quanto mais desconsiderado nas esferas social e psicológica, mais conseguirá atenção ao ficar igual ao residual, ao dispensado. É a ideia de quanto pior, melhor. Não ser útil, ser inútil, ser o nocivo que atrapalha, que faz esbarrar e merecer cuidado e atenção. Será considerado pelo mal que pode causar, pelo atrapalho que significa. Causar o mal, ser nocivo, chamar atenção, merecer olhares, é visibilidade, é consideração. Ser invisível é desumanizador. Preconceitos e restrições criam a capa de invisibilidade e marginalizar-se ou causar prejuízos torna visível, personaliza, deixa de ser o zé mané e passa a ser o perigoso Zé, capaz de atrocidades. Virar alguém, ser considerado, mesmo que como escória e marginal perigoso, significa. O agru