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Mostrando postagens de dezembro, 2019

“Tenho tudo, não preciso de nada e nada me deixa feliz”

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“Tenho tudo, não preciso de nada e nada me deixa feliz, minha vida é vazia” é um desabafo que aparenta ser vazio e tédio, mas concluir isso é ilusório, incongruente. Jamais tédio e vazio  resultam de avaliação. A consistência da avaliação, ou seja, o enumerar possibilidades e neutralizar conflitos é a medida, o peso que tudo determina e contabiliza. Fazer a conta, pesar, medir, avaliar é estabelecer recursos, etiquetas e rótulos. Preencher espaços jamais enseja vazio e tédio. Nada ver, nada deter, nada sentir, esvazia e entedia, mas avaliar é um procedimento que obriga sempre a completar e quando isso ocorre não há o que fazer, a não ser renovar o processo, destruir e buscar complementar, enfim, iniciar novas avaliações que permitam constatar e não ter o que fazer, apenas manter o conseguido. Essa constante repetição é como Sísifo ainda na esperança de conseguir libertação. Como aconteceu com Sísifo, tudo foi entendido. Ficou claro que sua vida é fazer e refazer, mas ir além

Utilizar, enganar, exibir

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Nas diversas dificuldades comportamentais, nas impossibilidades de convívio social, familiar e de trabalho, quando se deixa de lado as problemáticas, as não aceitações que definem e caracterizam o viver, nessas situações frequentemente é estabelecido um vazio, a despersonalização. Não se sabe o que fazer, salvo se entregar ao medo, à depressão, à inveja, à raiva e ao desespero. Nesse quadro, quando surgem pequenas melhoras de ânimo, os indivíduos resolvem disfarçar suas histórias, suas vergonhas, suas características. É o clássico ir à loja e comprar muito, para dissimular; é o clássico copiar e editar perfis, frases e comportamentos alheios. Não há critério para as utilizações, tampouco para os objetivos de enganar - o que se quer é ser diferente, exibir nova fácies, novo aspecto: cultura, riqueza, status . Mas viver tentando ser diferente do que se é, ocultando as próprias dificuldades, é índice revelador de problemas. As apropriações criam mais problemas. Não se sustentam, f

Receios e cautelas

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Quando a vivência do futuro, a expectativa do que vai acontecer preside e organiza o cotidiano, o nível de insegurança aumenta. Tudo ameaça. Nenhum recurso pode ser esperdiçado. Para essas pessoas, viver é preparar o depois para quando não se consegue mais ter condições de agir. O medo de deixar filhos desamparados, a preocupação de ter uma velhice solitária ou sem ninguém ajudando, antecipa as próprias dificuldades temidas, que sequer são percebidas pois o indivíduo está instalado em seu futuro temido, ou almejado. Viver para, ou viver por, aliena, desestrutura, tira o chão, faz perder significado, pois tudo é colorido por amargura e medo. Não sabe o que fazer a não ser juntar dinheiro, amizades e condições para o futuro, por exemplo. Negar a própria vida e a própria realidade é uma maneira mágica de esperar recuperá-la mais tarde. Virar zumbi para conseguir sobreviver é um passo desesperado. Tudo evitar, tudo conseguir, tudo cuidar para ter condição mais tarde, é uma

Credibilidade

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O que é crível, passível de ser acreditado, depende da facticidade respeitada, depende do que se constata e observa, tanto quanto depende também de quem e de como se veicula essas constatações e observações. As narrativas são as malhas que sustentam e amparam as constatações. Apenas constatar nada significa pois o relato das mesmas, o diálogo em torno do observado é invadido por outros referenciais, principalmente os que situam quem relata, quem reproduz os fatos, quando isso é feito e a quem é feito. Narrar um acontecimento é validado em função do narrador; sua importância, dificuldade, compromisso e disponibilidade o transformam em pessoa que pode ser acreditada, que é confiável ou que é alguém que apenas amealha desconfiança, não é pessoa de se acreditar, não tem credibilidade. A questão das coisas não significarem enquanto elas próprias é intrínseca - é a estrutura dos próprios processos. O símbolo invade o real, o real também se camufla no simbólico. Este vai e vem