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Mostrando postagens de junho, 2023

Abrupto

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  Abrupto é o que se quebra. É o que denuncia, é vida, é morte. Toda continuidade pode ser interceptada por outra continuidade. Esse ponto de encontro é também o corte, a interseção. Novos desenhos e paradigmas são criados. Muitas vezes se perde o fio da meada, como diriam tecelões. Construir parâmetros, desenhos, contabilizar algoritmos é também criar, tanto quanto é aproveitar o existente, construindo anômalos. O acontecimento, a vivência, a situação abrupta é corte, é quebra, assim como é descoberta - é o novo que se instala. O ponto fora da curva é o abrupto ampliado que permite interseção, que traz um novo às vezes encoberto, não configurado por conveniências. Descobrir a traição, descobrir a não legitimidade de processos e escolhas, saber que foi trocado na hora do nascimento na maternidade, por exemplo, pode ser o cisco no olho que tudo clareia. Vivemos de antagonismos. A contradição é o que nos move, é a obscura claridade que situa.

Andorinha só voa, não faz verão

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A mistura de fatos a fim de tudo explicar, ou para ser edificante embaralha, cria confusão, minimiza ou amplia situações e propósitos. Provérbios são edificantes, tanto quanto são senhas redutoras de explicações e questionamentos. Fazer o verão, atrelá-lo ao voo das andorinhas é um pequeno exemplo de metáforas redutoras. A andorinha enquanto voa, voa por voar somente. Lembrei do soneto de Cecília Meireles:  ... Porque o poeta, indiferente, anda por andar - somente. Não necessita de nada. Nesse caso, poeta resume disponibilidade enquanto falta de propósitos circunstanciais. Viver sem expectativas nem vantagens é ruim para muitas pessoas, pois o presente não basta, a vida não significa, o que se consegue é o que importa, é o que significa, e assim, filho é para garantir o porvir, trabalho é para o descanso na velhice. Essa é uma contradição que aniquila o vivenciado. O filho não é o filho, não é o amado que se tem, por exemplo, ele é o útil que não pode ser inútil, deve ser educado, cuid

Presos ao que é garantido

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  Para inseguros e carentes, confiança e certeza são verificadas diariamente. Nesse contexto, nos deparamos frequentemente com testes de limites, seja a criança imaginando impossibilidades para o seu universo de criança carente, abandonada, seja para o adulto inseguro, que não se aceita e vive aprisionado em regras, dogmas e resultados. Sempre se pensa que a criança precisa de companhia, explicações, respostas, e o adulto precisa de respeito, obediência. Cumprir regras, estar nelas apoiado traz segurança. Mas, apoiar-se no que segura é um dos mais instáveis equilíbrios. Externalizar o centro constituinte é criar apêndices. Essas separações dilaceram ao ampliar. Toda vez que se consegue bons resultados, se consegue também padrões, regras e metas a manter, a cumprir. O indivíduo preso ao necessário contingencia o essencial. Esse processo absurdo transforma intrínseco em aderente, e só é conseguido pela despersonalização. O híbrido aí criado é um somatório sintomático de não aceitações, à

Turbilhão

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  Inseguros, não se aceitando, necessário se torna um constante aval, o carimbo aprovador de pais, professores, amigos, vizinhos, de todos enfim. Não se sabe se o que se faz é o que deve ser feito, se é o que precisa ser feito, se é o que pode ser feito, e desse modo o turbilhão é criado e nele se é sugado, perdido em cogitações: "deve ser feito, pois assim foi ensinado, assim se espera, mas assim é o que eu não consigo" . Medo, desespero, sentimento de incapacidade passam a comandar. A vida, o dia a dia se torna um turbilhão onde peças têm que ser encaixadas, têm que encaixar. A autonomia passa a ser apenas olhar resíduos: tabuleiro chutado, tabuleiro escuro, peças díspares. Restos, cinzas, farelos de esperança, de sonhos não realizados, imperam. O lugar no espaço é ocupado por arremedos de seres que são substituídos, seres anódinos, coisificados, paliativos sem autonomia, desde que passam a viver em função de ser aceitos, aprovados, justificados.

"Não falhar, eis a questão"

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  "Não falhar, eis a questão" é o que muitos dizem a si mesmos após fracassos, expectativas, ajudas, esperanças e desespero (desesperança). Depois de expectativas não realizadas, de decepções, o indivíduo pode resumir sua existência em uma lápide: não falhar. É uma lápide, pois é construída para abrigar os sonhos mortos, perdidos, encarcerando os últimos desejos. É o suspiro extremado, o que não pode deixar de acontecer. Viver em função de resultado, principalmente de resultado salvador, faz com que se busque sorte, ajuda, bilhete premiado, mega-senas realizadoras. Essas situações preenchem significados seja pelo vestibular, pelo doutorado, pelo casamento, seja pelo bom partido, ou o acesso, a filiação ao partido vitorioso na eleição, por exemplo. É sempre um golpe de sorte, o "cavalo selado" agarrado, sempre o acaso. A sorte, o inesperado bom passa à condição de itinerário. As rotas e estradas da vida são assim sinalizadas pelo acaso. As probabilidades neutralizam