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Mostrando postagens de maio, 2013

Palácios, catedrais e shoppings

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Na Idade Média, onde a condição de sobrevivência era precária, os deslocamentos eram dirigidos para o céu, para os deuses. Olhar para cima, pedir e esperar, cria expectativas. Construir catedrais era uma maneira de depositar os sonhos os medos e esperanças. Dos palácios às catedrais, esta era a arquitetura dominante. A maneira de transcender os limites aniquiladores (peste, fome, morte) era rezar, jejuar, rogar misericórdia. Olhando o processo histórico do desenvolvimento arquitetônico, vemos como tudo convergia para os templos, mesmo antes da Idade Média. Transcendências contingenciadas não transcendem mas permitem fontes de alívio, prazer e esperança. O que faz a humanidade, hoje, quando reduzida às demandas de sobrevivência? Consome - das comidas às bebidas, griffes e pessoas. Shopping centers , parques temáticos e de diversão são as catedrais, os templos que abrigam sonhos perdidos, desejos impossíveis, vidas fantasiadas. O mega entretenimento realiza esta função de cong

Avidez

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Estar submisso, ser desconsiderado, ser invisível (pobres, desempoderados, idosos, mulheres às vezes) gera revolta, gera medo e não aceitação. A carência afetiva, nestes contextos e estruturas, é transformada em necessidade de relacionamento, surgindo assim, distorções, perversões e dependências relacionais. Ao não se aceitar, o ser humano observa e deseja padrões aceitáveis, cogitando que se atingí-los, vai ser aceito: seu mundo vai mudar, vai ser amado, considerado. No Brasil colônia, ou até pouco tempo atrás, ser negro ou aparentar qualquer sinal de negritude era responsável por não aceitação. É bem conhecido quão danoso foi o chamado "processo de branqueamento" em termos sociais e também enquanto realidade psicológica geradora de não aceitação; atualmente as denominadas auto-estima e cidadania plena, escamoteiam os processos discriminatórios. Na avidez de ser aceito, tudo se faz, tudo se busca para realizar esta motivação. Na adolescência, este processo é nítido

Preocupação x Ocupação

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A preocupação é uma vivência do não presente, é uma antecipação da ocupação; ocupar-se de é relacionar-se com algo existente. Em geral, o indivíduo, ao invés de se ocupar com os próprios problemas, se preocupa com os sintomas que os encobrem como se os problemas não existissem. Assim, se torna preocupado com a velhice, com a conquista de um emprego valorizado, com o desempenho profissional, com relacionamentos garantidos e seguros, com o desenvolvimento dos filhos, com a aparência física e  imagem social, com os sintomas que surpreendem etc ao invés de deter-se na problemática de onde tais preocupações são decorrentes. Ocupar-se da própria problemática e não de como ela aparece, possibilita a vivência do presente. Preocupar-se com imagens, com sintomas, por exemplo, é esvaziador, desumanizante por transformar o outro no testemunho circunstancial do fracasso ou do sucesso; faz perder autonomia, transforma os referenciais relacionais em sinalização de apreço ou desapreço, considera

Expectativas

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As expectativas são fontes geradoras de medo mesmo quando o esperado é bom e desejado. Temer o que pode acontecer de ruim, ter medo da morte por exemplo, é uma expectativa onde o espectro do ruim se impõe, mas a expectativa do desejado, a festa de formatura, por exemplo, pode também criar medo e apreensão. Toda meta esvazia, todo vazio desumaniza, cria espaços de não ser, responsável por temor. Frequentemente as expectativas não são contidas pelos próprios limites do corpo. É comum saber dos infartos, acidentes e outros problemas físicos às vésperas da realização do grande sonho, dos casamentos próprios ou dos filhos, por exemplo. A expectativa aponta sempre para caminhos divididos: o que é bom e o que não é. Ter expectativa é ser direcionado para avaliar e esperar e isto cria tensão e mal-estar. Esperar que tudo dê certo é aniquilado pela homogeinização perceptiva - desaparece qualquer motivação, resta apenas conferir. Quando as expectativas ainda comportam dúvidas, mais ani

Cotidiano e repetição

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Não é a mesmice, o que tem que ser feito, que configura o cotidiano. Cotidiano é o que acontece todos os dias. Frequentemente o cotidiano é percebido como o que anda sozinho, como o que é mecânico, o que decorre de pequenos acenos ou apertos de botão. A certeza da repetição intrínseca ao que é cotidiano, o transforma em manutenção. Tudo que é mantido, que é repetido, é alienador. Fazer todo dia o que se faz, de dormir a trabalhar ou divertir-se, pode ser vivenciado como manutenção, automação ou como participação e enfrentamento. Participação pressupõe o outro, o mundo - é um potencial dinâmico de encontro, de desencontro, de deslizamentos e imobilizações. Nada se repete, tudo que é igual pode ser diferente. Qualquer vida se desenrola no dia-a-dia, é o processo cotidiano do estar no mundo. É uma repetição monótona e previsível quando estamos dedicados a manter e é uma aventura diária, constante, nova e excitante se estivermos dedicados a perceber e unificar as contradições con