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Mostrando postagens de junho, 2014

Gratidão

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Vivências de incontáveis desconsiderações, abusos e submissões criam posicionamentos onde se percebe apenas o que satisfaz ou o que frustra. Nesta contabilidade, tudo é avaliado pelo resultado. O ter que atingir objetivos, transforma o outro em meio para um fim. Não existe o outro, desde que ele foi transformado em objeto útil/inútil. Esta coisificação do outro, gerada pela atitude sobrevivente norteada pela satisfação de necessidades, cria seres isolados em sua caminhada para realização de propósitos: não há gratidão, não há transcendência, apenas certezas resultantes de ter utilizado adequadamente tudo o que estava à mão. Voltar-se para o outro é impossível dentro do autorreferenciamento contingente; quando se percebe o outro, se percebe como algo diferente de si mesmo, como alguém que, se não for aplacado, ameaça. Este processo de cooptação e barganha, cria apoios, entraves, guindastes ou armadilhas. Transformar o outro em objeto de satisfação impede gratidão, pois os resultad

Tatuagem

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Sempre que identificamos tornamos nítido e pregnante, criamos novas configurações onde a Boa Forma (lei perceptiva) se estabelece, ocasionando diferenciações contextuais ou reorganizando o existente. Mudar e identificar, sinalizar determinando novas escolhas, novos caminhos é um processo característico das dinâmicas relacionais humanas. Esta construção de espaço - formador de ideologias, comportamentos, modas e hábitos - tem tido, ao longo dos séculos, várias expressões configurativas de marcas desejadas como diferenciadores culturais e psicológicos. Das casas - moradas construídas - às roupas - proteções costuradas - atingiu-se outros níveis onde as aderências foram transformadas em limiares. A pele é o fim e o início, protege tudo que não aparece e expõe tudo que indica. Sinalizadora por excelência, recebeu em várias culturas a função de superfície a ser desenhada, papel indicativo de ações sociais e funções religiosas. No Japão, os irezumis - desenhos pintados na  pele at

Inocência

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Inocência é geralmente entendida como pureza, ingenuidade, inculpabilidade. Inocência não é um dom ou uma condição definidora; não é uma característica das crianças e dos ingênuos. Inocência é o não estar habituado, familiarizado com determinada situação, não estar ciente, cônscio do que ocorre. O novo, o inesperado propicia inocência. Esta vivência do inédito é logo contextualizada nos referenciais existentes, gerando posicionamentos. Poderíamos dizer que inocência existe para preencher posicionamentos, para em seguida movimentá-los e consequentemente questioná-los. É através destes processos que aprendemos, mudamos e realizamos nossas necessidades/possibilidades relacionais. Inocência possibilita surpresa, espanto, estruturação da dúvida, impacto necessário para quebrar certezas, hábitos e apoios. O dito experiente, referenciado em hábitos, exerce comportamentos orientados para manutenção de regras, normas, situações para ele necessárias em função da consecução de objet

Experiência

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Uma idéia compartilhada por inúmeras pessoas é a de que a experiência traz serenidade, discernimento e acerto. Nem sempre “ a voz do povo é a voz de Deus ” como se pensa ou poucas vezes a maioria expressa e distingue as tessituras que estruturam o comportamento. Experiência é acúmulo de vivências formadoras de matrizes; se por um lado isto fala dos processos que permitem conhecimento, discernimento, por outro lado, isto explica a força do a priori , a força dos preconceitos. O encaixe dos acontecimentos no lastro, no tabuleiro do vivenciado é o criador de padrões e regras, como sempre, defasadas em relação ao que está ocorrendo. Adquirir experiência, geralmente, é acúmulo na vivência autorreferenciada. O autorreferenciamento, que contém e reserva estas vivências, é responsável por parcializações e dogmas. Amealha-se experiência e, assim, começa-se a conhecer, entender e perceber tudo que ocorre. O antes se torna significante para entender o agora e preparar-se para o depois.