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Mostrando postagens de dezembro, 2021

Percepção do Outro - o outro percebido como eu mesmo VIII

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  "O outro sou eu" - essa divisão - implica em autorreferenciamento. Os níveis do autorreferenciamento chegam a tal ponto de fragmentação que não existe mais questionamento ou comunicação. Como ilhas, nada esbarra, nada questiona. O outro é a própria pessoa. Nas vivências delirantes, nas alucinações psicóticas, no desejo de explorar, de se dar bem, de utilizar o outro - seja filho, parente, amigo ou inimigo para consumação dos próprios desejos - esse processo de autorreferenciamento é encontradiço. "O outro sou eu próprio". Esse é o artifício que exila qualquer possibilidade de reconhecimento e questionamento.  Reduzir tudo a si mesmo, pontualizar a existência é um desejo desesperado de ter um ponto de atuação, um ponto de gravitação a partir do qual as situações se estruturem e se definam. Uma vez pontualizado, só por meio da recriação de retas que se encontram e desaparecem é que se pode recriar processos. No processo psicoterapêutico é frequente encontrar essas e

Percepção do Outro - o outro percebido como fonte de exploração VII

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  Escravidão ou escravização, esse processo que utiliza o outro para exploração, existe em vários níveis: desde a mãe explorada para cuidar dos filhos deixando de ter vida própria ou para ajudar o marido cuidando da família com segurança sem maiores ônus econômico-sociais, até a mão de obra mal paga ou não paga. Usar o outro para satisfazer desejos, dos sexuais aos sociais, intelectuais ou econômicos é também uma forma de escravização.  Toda vez que alguém é submetido, essa submissão serve a algum propósito no qual apenas o dominador lucra e tem autonomia. Necessariamente, em todo processo de exploração ou escravização existe a perda de autonomia do dominado. Virar marionete, ser títere é uma maneira de desumanizar-se. Muitas pessoas só sobrevivem explorando, outras submetendo-se. O engano, o disfarce são formas aparentemente mais suaves de exploração, de submissão, mas são também muito prejudiciais, pois amarram o outro a mentiras, a enganos exploradores. Quantas mães alienam e destro

Percepção do Outro - o outro percebido como proteção (insegurança) VI

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  Transformar o outro em muralha protetora, em cobertura que ampara é algo gerado pela insegurança, pela verificação do que se precisa de apoios, de boas bases de sustentabilidade para realizar o que se quer. Transformando e dando continuidade às relações familiares que existiam ou que não existam, como por exemplo pai e mãe protetores, reais ou imaginários, os indivíduos reduzem o grande mundo, os grandes espaços às dimensões de seus impasses, de seus propósitos. Precisar atingir ou quebrar limites e para tanto utilizar ou contar com o próximo é transformar o outro em peça da engrenagem a ser mantida, é também descaracterizá-lo pois seu modelo estruturante é o das figuras parentais ou os de casas e bunkers protetores. É infantilizador transformar as parceiras em mães, os parceiros em pais, tanto quanto o mestre, o professor e auxiliares em amigos. Relacionamentos calcados na busca e realização de proteção são, por definição, esvaziadores. O outro não é o que é, é o que se precisa que

Percepção do Outro - o outro percebido como o que traz novidade V

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  Quando tudo é percebido como igual, como monótono, é preciso novidade, acabar com a mesmice que desencadeia o tédio desagradável. Os processos de não aceitação transformam o cotidiano em uma vivência homogeneizante. Nada acontece. Tudo é igual. É necessário que alguém apareça trazendo boas novas. O mensageiro da nova ordem, da nova vida é aguardado. Tudo se resolveria caso aparecesse alguém com recursos, com motivação. Ter uma companhia, alguém que ajude, oriente, participe, tudo ao mesmo tempo, ou não, é o que se deseja. Não conseguir se motivar por não aceitar seu presente cria expectativas. Vive-se esperando que alguém mude a carência, o vazio. Esse deslocamento decorre da não aceitação de si e de sua realidade. Esperar que o outro divirta, que crie novidade, é esperar o príncipe encantado ou a fada que tudo resolverá. Adiar a vida, delegando ao outro e às circunstâncias as dinamizações do que se descontinua é adiar desejos não realizados, cristalizando frustrações. O outro é espe

Percepção do Outro - o outro percebido como complemento (satisfação de necessidades) IV

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  "As metades da laranja" que se encontram, as almas gêmeas, o reencontro, todas essas ideias animam a busca por satisfação de necessidades e realização de projetos de vida por meio do outro, ou seja, com ajuda, participação do outro. É a ideia de reencontro que valida o encontro, mas esse prévio invalida a vivencia presentificada. Nessa distorção sempre tem que haver uma base, uma plataforma identitária comum para que se processe a convivência. O prévio justifica e antecede o acontecimento. Isso é a contravenção total em função dos desejos de realização.  O outro como complemento é também a expectativa que justifica o querer o outro para realizar o que não se tem condição. As próprias incapacidades e dificuldades serão sanadas pelo parceiro rico, por exemplo, ou em certos contextos os acessos serão atingidos pelo outro acostumado a sobreviver com feras ou com despossuídos, situações nas quais acessar as quadrilhas ou os grandes salões e corporações, se torna viável quando o