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Mostrando postagens de dezembro, 2020

O inefável

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Em todas as vivências relacionais existe interstícios que também são dados e vivências relacionais mas que sempre permanecem como Fundo. Essa permanência é um contexto inalterado. É sempre Fundo não revertido como Figura daí nunca ser percebido e assim passa a ser o inefável, o sutil, o que não aparece embora explique tudo. Em termos humanos isso é configurado como confiança no outro, fé nas infinitas possibilidades do estar no mundo, certeza da própria isenção, da própria disponibilidade. Perceber essa dinâmica é também perceber os entraves e dispersores das certezas e das constatações. O se deter nas constatações, aparente restrição vivencial e fragmentadora, é totalmente amplificador, pois recria a cada segundo as infinitas variáveis responsáveis pelo instante, pela vivência que se tem. É quase uma mágica a desconstrução do denso, do enfático, do proposto. Apenas o que é, é. Este desnudamento é a revelação das essências configuradoras dos relacionamentos: é o amor, é a decepção, é a

Permanência, abandono e entusiasmo

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Quanto mais voltado para o futuro, mais manutenção do esforço e consequentemente a busca de permanência, de estabelecimento e adaptação nos relacionamentos são uma constante. Na continuidade surge o abandono como solução para o que é conflituosamente vivenciado. A permanência no que se pretende transpor é um paradoxo que se acredita levar à consecução de objetivos. Frequentemente encontramos pessoas que mantêm relacionamentos, casamentos, acordos e acertos, em uma permanência paradoxal pois sabem que resultará em corte. Apesar das inúmeras justificativas que acumulam, a utilização e aproveitamento das situações são incontestáveis.  A atitude de abandono resulta da catalogação do que é adequado ou inadequado. Vivenciar algo como superado após tudo ser extraído da situação, evidencia sempre atitudes predatórias seja no relacionamento, seja na relação com o cotidiano, com recursos naturais ou com familiares. No abandono se evidencia a utilização do outro, a utilização de situações em funç

Desapego

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  Aconselhamentos religiosos e orientações espiritualistas propõem desapego como neutralização de sofrimentos baseando-se na ideia de estar protegido e definido por algo além de si que justifica o sacrifício de deixar, de largar o que se tem afeição, libertando-se para um caminho direcionado a metas espirituais. Nesse contexto, buscar o desapego é negar afetos e condição material como características humanas, e assim, a busca do desapego torna-se mais um elemento de pressão e repressão, gerador de culpa e medo. Desapegar-se, nessas visões, implica sempre em ir além deste mundo, buscando outros considerados paradisíacos que redimem culpas e dificuldades.  O desapego é também muito frequente nos estados depressivos: nada interessa, nada significa, não existe sentido na continuidade, tampouco nas novidades e surpresas. Apoios, segurança e significados entravam processos graças às polarizações, às confluências realizadas por sonhos, desejos e propósitos. Viver é lutar, viver é superar, viv

Adequação transformadora

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  Saber que se é o que se é traz tranquilidade e motiva para continuidade de vivências, de sentir-se apto e capaz de estar no mundo consigo mesmo e com os outros, transcendendo os limites das circunstâncias. Essa transcendência polariza energia e motiva para a apreensão das contradições que desnorteiam. Entregue a si mesmo em questionamentos e descobertas o indivíduo atinge novas dimensões, renova constatações, aumentando suas crenças nas próprias possibilidades, pois ao abandonar caminhos endereçados, contingências e circunstâncias, ele realiza o caminho enquanto possibilidade e expressão de sua individualidade, de suas motivações. É o ir além dele próprio determinado pelas suas próprias motivações. Esse processo, esse ir além, só é possível enquanto autonomia, ou seja, autonomia é um processo que exila expectativas e no qual, consequentemente, não há ansiedade. O predomínio da tranquilidade, da aceitação do que ocorre, do que se é, do que se tem, descortina horizontes de infinitas po

Oscilações

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Satisfeito e insatisfeito em suas demandas e desejos o indivíduo se modifica. Os processos de verificação o transformam em padrão, em régua medidora e avaliadora do que ocorre. A avaliação direciona o que pensa, sente e decide em função de referenciais que o situam, adaptam ou desadaptam. Este processo de desumanização exila o tempo, o conhecimento e o presente das vivências humanas. Tudo é feito por ou para alguma coisa. Quando isso falha, quando não existe ou quando se repete vem o vazio, o desencanto, o não saber o que fazer. Neste momento a necessidade de repetir é gerada seja pelo esquecimento, alienação ou dependência. Álcool e outras drogas, às vezes sexo, são estimulantes, ajudam a colorir o branco vivenciado. Esse descolorido significado como medo é sempre depressor. Alguma coisa tem que acontecer, algo que faça a diferença, que acalme, que faça esquecer. Qualquer sistema que ofereça diferenciação serve. Está assim criado o campo de manipulação. Dogmas, regras, perguntas, ex