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Mostrando postagens de maio, 2022

Distorções que estruturam o autorreferenciamento

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  As distorções decorrem da não apreensão da totalidade do que está diante de si. Colocando-se como centro, como ponto de confluência, o indivíduo pensa que o que ocorre deveria ajudá-lo e não prejudicá-lo, e que tudo sempre o maleficia. "Tudo tem que estar ao meu favor, não contra mim", "nada comigo dá certo" , diz o exilado do presente.  Retirar-se do que ocorre, do presente, e resguardar-se em gaiolas passadas ou foguetes propulsores do futuro almejado é lesivo. Retira da vida, do mundo, da convivência com um outro que ainda não foi transformado em objeto temível ou desejado para consecução de desejos. Ser cativo dos próprios referenciais - o autorreferenciamento - é o polarizante de isolamento, consequentemente de distorções. Assim, os acontecimentos são traduzidos pelos referenciais desse indivíduo que se acha o alfa e ômega dos processos. A culpa é sempre do outro, o outro não é confiável, o prejudicou ou tinha que ajudá-lo, assisti-lo, tinha que dividir rique

Superação e neurose - não aceitação do presente

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  O desejo de superar dificuldades, assim como de superar condições consideradas ruins para o desenvolvimento da própria vida, engendra metas. Tudo que é estabelecido e frutificado nos desejos decorre de não aceitações. Querer superar o que falta, conseguir o que não teve, preencher carências é o propósito, o motivo que lança o indivíduo para o futuro, estabelecendo, desse modo, o conquistador vitorioso ou o ressentido fracassado. Nesse contexto, ir além do próprio limite negando-o constrói as motivações para superação dos problemas e dificuldades. O que limita deve ser vencido, ultrapassado, integrado, absorvido, absolvido no próprio processo do estar no mundo. É como apreender as coisas, aprender a falar, aprender a ler, adquirir técnicas que promovam mudanças da realidade, que determinam aptidão e escolhas profissionais. É fruto do embate, do que está determinado, do que limita. Quando os processos vitais e relacionais são transformados em etapas a serem vencidas, a luta pelo poder

Questionamento e dedicação

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  Vivenciar o presente requer dedicação ao mesmo. É pela consideração aos limites, aos prazeres, aos medos e dificuldades que se estrutura a dedicação e a disciplina, tanto quanto a fruição ou expurgo do que acontece. Andar exige, inicialmente, por os pés no chão e em seguida estabelecer direção. Essa sinalização de caminhos é orientação e dinâmica, tanto quanto limite e repetição sistemática que automatiza. Toda vivência pressupõe encontro, determinação, escape, incerteza. Ao considerar apenas aspectos das vivências, se desestrutura totalidades, se desestrutura o que presentifica. A vivência do presente é a única que existe, embora seja também o anestesiante que apaga o que existe. Quando o presente se constitui em pensar para lembrar do que passou, ou antecipar, torcer pelo que se quer que aconteça ele se constitui em pântano, sumidouro de vivências, realidades e limites. Dedicar-se ao sonho, ao que se almeja, ao que não existe é negador da própria configuração existente. Os problema

Engenhosidade

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  A capacidade de tentar superar obstáculos criando apoios é exemplar como característica humana capaz de contornar e vencer dificuldades. Da descoberta do fogo, passando por colheres e panelas e chegando às naves espaciais, do enfrentamento de intempéries à adaptação e superação de doenças, a vida humana se caracteriza por criar e inovar. As mudanças biológicas, tecnológicas e sociais são uma resposta às dificuldades que foram enfrentadas e consequentemente mudadas. A neurose, o oportunismo, o uso e abuso do outro também se inserem nesse delineamento. Esse uso do outro - neurose, coisificação - é sempre construção, artefato, substituição, bengala para suprir deficiências, medos, incapacidades. Por exemplo, o desejo sexual por crianças - a pedofilia - geralmente resulta da tentativa de driblar a impotência, a dificuldade e medo diante do outro. Da mesma forma, a exploração do trabalho alheio, mais-valia e plágios intelectuais e profissionais, atestam a engenhosidade e também o autorre