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Mostrando postagens de novembro, 2017

Muito desespero cria esperança

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Foto: Paul Gawsewitch É quase um oximoro dizer que desespero cria esperança. Psicologicamente essa situação não é vivenciada enquanto paradoxo graças à divisão criada pela não aceitação do que se vivencia, do que ocorre. O auge do desespero pode ser vivenciado enquanto submissão ou revolta, pode neutralizar contradição ou acirrá-la à depender de como seja vivenciado. Submeter-se ao que desespera, amargura e infelicita é típico de indivíduos habituados à passividade. Para eles, não agir, não reclamar é a garantia de alguma coisa receber, alguma coisa conseguir. A omissão, resultado da submissão, abre portas. Essa é a esperança acalentada: quanto mais se suporta, quanto mais se sofre, quanto maior o desespero, melhor e mais possível é a recompensa, não há contradição, desde que o que desespera é o caminho para o final feliz, é a esperança de melhora. O chegar ao “fundo do poço” abre perspectivas, cria esperança, desde que pior não pode haver e assim se unifica contraditórios

“Tanto pior para os fatos”

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Não há o bem ou o mal, há todo um processo que configura acerto, erro, que explica a catastrófica queda do avião, por exemplo, ou o ruir das organizações políticas, a depressão, a debacle econômica. O fato não traz em si sua lei, ele nada mais é que um epifenômeno, não muda em nada o processo. Entretanto, é a partir dos fatos que são estruturados novos processos, ou seja, o fato é o desabrochar de contradições que, quando colhidas e enfrentadas, estruturam outros processos, permitindo contradições e mudanças. Parcializar, se deter no fato é negar vida, é negar movimento. Mesmo a morte, fato irreversível na vida de um indivíduo, é um processo, está sempre esclarecendo ou apontando para inúmeras variáveis. A individualidade, a essência de cada indivíduo, sua história, afetos, desafetos não se esgotam na sua morte, embora a partir dela ele não mais signifique como processo, movimento, vida. Quando se explica fenômenos, acontecimentos, com conceituações causalistas, se soma os

Interesse e motivação - diferenças estruturais

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A continuidade da existência implica em encontrar obstáculos que quando não são enfrentados e ultrapassados podem descontinuar por meio de fragmentações. Assim são gerados os posicionamentos, as problematizações e também os sistemas de divergência e de convergência. Nas estruturas descontínuas prepondera o interesse substituindo a motivação, desde que foram criadas impermeabilizações. Não se vivencia o presente enquanto presente, mas sim em função de estruturas passadas, situações a manter e defender ou desejos futuros a realizar. Nesses casos, pelas polarizações insistentes na superação e realização de objetivos, surge o interesse. A conduta é rígida, persistente e unilateral. Quando se enfrenta e ultrapassa obstáculos tudo motiva enquanto configuração presente, é o perceber em volta, o perceber o outro, que configura a motivação. Flexibilidade, liberdade e disponibilidade caracterizam esses comportamentos. Estar motivado é dinamizador, faz atingir novas configura

Sinceridade

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by Gerd Altmann , Freiburg, Deutschland Sinceridade é o que se manifesta ultrapassando o próprio contexto da expressão enquanto julgamento e expectativa de resultados. É difícil ser sincero pois ao se dirigir ao outro, necessário se torna negá-lo como existente, como expectante, e afirmá-lo como participante, equivalente a englobá-lo, integrá-lo. Dizer a verdade, expor os próprios desejos, dúvidas e questionamentos é quase transformar o outro em extensão de si mesmo, é tirá-lo de contingências, criando participação. Essa dificuldade da vivência de sinceridade faz com que a mesma apenas seja encontrada, geralmente, nos encontros terapêuticos, nos quais não há busca de finalidade e resultados para justificá-la. Ser sincero, se colocar do jeito que se é, dizer o que se pensa é também passar a ser compreendido em sua verdade, e dizer a verdade é mais fácil, pois há menos compromisso, desde que a impermanência e efemeridade caracterizam o verdadeiro enquanto fala informativa.

Ultrapassagem do próprio limite

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Illustration by Elizabeth Lada   Confiar é ultrapassar os próprios limites ao estendê-los para o outro. Isso é possível quando se amplia o conceito de eu, quando se percebe o outro como continuidade de si mesmo. É muito difícil esse processo quando se é delimitado por conveniências, território próprio e resultados necessários. Nas relações familiares, nas quais geralmente impera a não aceitação, os filhos são criados e educados em função de referenciais outros que não os da própria individualidade, mas sim os de para onde os mesmos devem ser endereçados. A família, antes de qualquer coisa, é um grupo. Esse grupo existe para realizar objetivos e funções ou existe por encontros construtivos, semelhanças, sintonia e sincronicidade, sem convergência nem divergência. As figuras líderes, as autoridades provedoras, pai/mãe, já estabelecem referenciais que submetem a igualdade e a harmonia. Desde cedo o filho é estimulado a ocupar o melhor lugar, a evitar ser submetido e ultrapassad