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Mostrando postagens de abril, 2021

Variações e identidade

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  Todos percebemos igual tudo que odoriza enquanto ato de cheirar. A comida, por exemplo, pode ser percebida como odor, assim como tudo o que tem gosto é percebido como gosto. A igualdade da percepção se refere às estruturas das diferenças perceptivas, é equivalente a dizer que gosto é gosto, cheiro é cheiro, tato é tato, audição é audição, visão é visão. Entretanto, na igualdade do gustar, do cheirar, do tocar, do ouvir, do ver, tudo é diferente, existem características específicas individuais. A trajetória do dado é variável. Os receptores são tonalizados pelas características individuais de seus estruturantes, de seus contextos. O cheiro ácido do limão é uma fragrância variada em função de outros contextos olfativos, de misturas e interferências que podem neles neutralizar quaisquer percepções. Existem odores, gostos típicos e significativos, assim como sons expressam realidades e sentidos semânticos, como enxergamos o que está difuso, e o mesmo se aplica ao que ouvimos e pegamos. O

Doença, medo e revolta

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  Diante de impasses, acidentes e doenças, inicialmente vivenciamos obstrução, impedimento, interrupção. Nessas situações, o futuro abruptamente se insinua, se presentifica sob forma de planos, sonhos, propósitos e desejos frustrados, e assim o real, o acontecido é um espectro de expectativas, do que é ansiado, temido ou desejado. Essa superposição temporal nos arranca de nossos contextos atuais. O impacto causado por notícia de doença, de morte, de quebra de apoio, de mudança de planos causa medos, apassiva tanto quanto gera revolta, sentimento de raiva ou de inveja. Nesse turbilhão, se sai dos centros relacionais, das situações existentes na vida diária. Os filhos podem passar a ser percebidos, por exemplo, como os que não vão mais ser cuidados, os planos de vida, os empreendimentos, as superações de obstáculos e dificuldades são aniquiladas. Surgem o medo, a revolta, o desânimo. Aceitar o limite, que é a evidência, é aniquilador. Situações de não aceitação, de separação de amantes/f

De repente, o outro

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  Olhar para o outro, ouvi-lo estar atento a ele é uma das formas mais puras de generosidade, dizia a filósofa Simone Weil. Ouvir, deter-se diante do outro, olhar por olhar, ouvir por ouvir, estar diante sem a priori nem objetivo é raro, é difícil, é disponibilidade. Em psicoterapia, pelo treino e aprendizado psicoterápico se faz isso, entretanto, na vida, no cotidiano é quase impossível esse comportamento, pois o outro é sempre um acesso, um caminho, uma parede, um esbarrão e não significa enquanto encontro, embora só se realize enquanto tal. Perceber, ouvir, se deter é enfocar, é verificar e constatar, e essas são importantes etapas e caminhos de descobertas. É o enigma que se esclarece, é a mensagem que se lê, é o outro que se descobre, que se revela quando recebe atenção. Deter-se diante do outro, além de generosidade e descoberta, é encontro, é desafio. O outro quando ouvido deixa de ser enigma, deixa de ser antítese, é a descoberta que revela, é o texto que ensina, é o novo que

Mesmice

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  É comum ouvir acadêmicos, técnicos diversos e filósofos explicando alguns processos como sendo situações pendulares, como se fosse o ir e vir de contradições - indo ora para um lado, ora para outro lado - e confundindo isso com dialética de processos. O ir para a esquerda, para a direita, para o sim, para o não, nada configura enquanto antítese, apenas explicita trajetórias na reta. As abrangências não são contraditórias. As divisões arbitrárias segmentam movimentos e criam pendularidade e nesses contextos não há sim, não há não, muito menos mudança. O que existe são passagens, oscilações que nada configuram além das alternâncias não contraditórias do movimento. Psicologicamente, nas situações caracterizadas por constante dúvida entre fazer ou não fazer o que se deseja, cria-se oscilação, alternância de comportamento que pode se expressar em inúmeras situações, sejam elas inconsequentes ou graves, como por exemplo o uso de drogas lícitas ou ilícitas para manter o bom humor e o ânimo,