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Mostrando postagens de março, 2018

Caos e desorganização

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A desorganização solapa a continuidade dos processos. Ela é tão desestruturadora que enquanto se realiza, ao mesmo tempo, cria nova organização equivalente a uma organização desestruturada. Esse paradoxo fica inteligível se imaginarmos sistemas de referência, isto é, o organizado em relação a A é desorganizado em relação a B. Pensando no câncer, por exemplo, como desorganização de células, organizando-se de outra maneira, sua função é o crescimento anômalo. Na sobrevivência, na submissão dos indivíduos que não se aceitam, que rastejam para serem amados e reconhecidos, isso também se observa. Organizar-se como vítima, estabelecer-se como humilhado é desorganizar iniciativas em função de sobreviver, de conseguir o que precisa não importa como.  Vida é luta, é contradição e também é pacificação, nadificação quando se valoriza mentira e conveniência. Assistir a morte, as violências sofridas pelo outro e nada fazer é uma maneira de atingir o máximo de conveniências e vantage

Equilíbrio - Balança e Verificação

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Egito: Anúbis no Juízo Final (papiro)   Pesar implica em usar balança e pesos. Os sistemas de aferição são necessários para verificação e circulação de mercadorias e nesse sentido poderíamos dizer que o peso é a alma do negócio. A ideia de pesar, medir, avaliar é frequente em várias civilizações que nos antecedem e são bem ilustrativos os mitos ritualizados e realizados no Egito, na India e na Suméria, mediados pelo conceito de medir e de constatar pela balança. Os egípcios pesavam os pecados e as virtudes do morto no juízo final presidido pelo deus Anúbis que, levantando uma balança, colocava em um prato o coração do morto (o coração, para eles, era a sede da consciência) e no outro prato uma pena (a pena era o símbolo da verdade) enquanto a pessoa que acabara de morrer pronunciava sua declaração de inocência. Na India, oferecer ao deus o próprio peso em ouro, como faziam os reis, ou em grãos, como faziam os camponeses é uma prática descrita em vários épicos, como o Mahabh

Coragem como tábua de salvação

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Estar perdido, enfraquecido, angustiado por não aceitar limites, por se sentir incapaz e impotente cria angústia, medo e ansiedade, atrapalha e impede realização de desejos que permitiriam atingir bem-estar e segurança. Não vive o presente, não se relaciona com o que tem, só espera o que precisa que aconteça - do príncipe encantado à torcida de que tudo vai se resolver, passando pela cura milagrosa de seus males, de suas doenças - e assim fica cada vez mais manietado pela incapacidade, sem perceber o que está diante de si. Após muito desespero, o indivíduo descobre, por exemplo, que se tiver dinheiro, compra tudo que pode comprar. Pensa que tem que transformar sua fraqueza em força, tem que ter coragem e conseguir realizar o que deseja. Acontece que essa atitude significa a manutenção de sonhos e, ainda, de não aceitações, em outras palavras, de tudo que impede realização, de tudo que faz escorregar para as dimensões sonhadoras das expectativas e desejos. Só há mudança q

“Qualquer coisa é melhor que nada”

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“Qualquer coisa é melhor que nada” . Essa é a frase e o pensamento constante de todo mendigo quando aceita sua condição de mendicante. Equivalentes desse estado de mendicância e vazio encontra-se também em certos indivíduos. Outro dia li o “ Instrumental ”, de James Rhodes, que em seus relatos de vivência dizia que: “ser rejeitado era melhor do que nem ter a chance de ser rejeitado” . Significa algo ser alvo de olhar, de esbarrão, ser uma possibilidade implícita de qualquer coisa mesmo rejeitada. Ser algo é ocupar um lugar, é ter massa e densidade. O esvaziamento das vivências cria buracos negros que implodem a individualidade. Passar como se não existisse, ser não significante, em branco e desvitalizado cria dúvidas, impede encontros e constatações. Não cria contradições, não determina, e ainda, como o mesmo escritor dizia: “só dormindo, podia sonhar” , tudo lhe era negado, pois o outro existia apenas sob a forma de alguém que lhe dava injeção, administrava faxinas e imp

A contradição inesperada

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Cair do pódio, descobrir que o sonho acabou, que o grande amor sumiu, é, frequentemente, inesperado, abrupto, pois o faz de conta, os anestesiantes escondem os processos, os esclarecimentos e evidências que a todo momento ocorrem. Tudo que parece diferente do que era e do que se acreditava ser estabelece contradições. Entretanto, é a presença de outra realidade, de outros, que estabelece as diferenças, que revela essas contradições. As situações e as frustrações que delas decorrem são negadas até o máximo possível. Ao estabelecer um ângulo zero, o caminho existe sem obstáculos, e aí tudo pode acontecer, inclusive o outro, outras situações contraditórias ao validado e convencionado. O vazio enseja mudança que possibilita onipotência. De tanto não aceitar a impotência, a vivência frequente de frustração, o indivíduo desloca sua impotência, sentindo-se onipotente, enfim, sozinho, e assim, reedita suas metas e expectativas. São as contradições que geram questionamentos, pois