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Mostrando postagens de 2024

Temporalidade – Condição humana inegável

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      Mesmo olhando para trás e lembrando de ocorrências estamos no presente realizando essa mágica, essa busca, essa fuga que é viver do passado e de lembranças. Também quando nos preocupamos, nos ocupamos previamente do que pode acontecer, igualmente estamos no presente. Essa antecipação - conjunturas revestidas de medo, ansiedade ou preocupação - é uma maneira de tentar descobrir ou evitar o que vai acontecer, mas, é uma vivência que está sempre ocorrendo no presente. Vivemos no aqui e agora, olhamos para trás, ou para a frente, ou para o que está diante de nós.   A temporalidade nos caracteriza e é ela que nos permite transcender a espacialidade de nossa contingência vivencial. Às vezes se pensa que é um clichê, uma regra inventada, dizer que o ser humano é contingenciado pelos seus aspectos tempo-espaciais.   Tempo e espaço nos situam, mas não nos constituem. Nossa constituição é a possibilidade de relacionamento e isso se dá sempre em um tempo e em um ...

Dilemas existenciais - Sobreviver ou existir?

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  Quando nascemos, sobreviver ou existir é uma questão que não se coloca. Nascemos e alguém nos permite sobreviver, geralmente nossos pais, família, ou, em algumas exceções, o Estado, a Sociedade.   Nascer durante uma guerra é quase ter assegurada a morte, é difícil sobreviver. Em condições de normalidade ambiental e social, o ser humano sobrevive, e nesse sentido é orientado por seus familiares, pela sociedade em que vive. Assim, sobreviver seria um processo natural, mas que no entanto é impedido em condições extremas de falta de alimentos, de doenças endêmicas ou pandêmicas, de lutas e conflitos sociais etc.   São sutis as diferenças entre existir e sobreviver, pois tudo é orientado para satisfação e concretização de nossas demandas orgânicas. Entretanto, quando não há luta para sobreviver, surge espaço e demandas para transcendências e transformações. É o ir além da satisfação das necessidades que permite indagação. Ao fazer perguntas, o ser humano começa a fil...

Fingimento

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    Fingir é um deslocamento da não aceitação da realidade. Fingimentos surgem no cotidiano diante de realidades que denunciam, incomodam e revelam dificuldades e medos. Como enfrenta-las? Negando-as, fazendo de conta que as mesmas não existem. Como fazer isso? O primeiro passo é fazer com que ninguém saiba, ninguém perceba a dificuldade. Isso acontecendo, tudo fica mais fácil. Se nega saber, se nega conhecer essa comprovada existência.   O flagrante, a prova é o maior inimigo do fingidor. Evitar flagrantes e disputas cria inúmeras realidades, estabelece descontinuidade, gera enigmas, arma quebra-cabeças e, assim, se consegue fingir em paz. Esconder o amante no armário era um bom método, agora não mais. Câmeras e portarias eletrônicas atrapalham. A melhor maneira de escondê-lo é transformá-lo em um empregado que veio consertar o ar condicionado, ou no amigo gay convidado para falar sobre o roteiro da próxima festa que vai acontecer, por exemplo. ...

“Tudo foi em vão, nada significa”

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      Decepção é o que se sente quando os sonhos falham ou quando as frustrações se evidenciam pela não recuperação de acertos, pela não realização de desejos etc. Viver apostando é sempre amealhador de decepções, pois é o ir além do existente em função de necessidades ou desejos engendrados pela não aceitação de limites. Fazer qualquer coisa para conseguir manter o que se tem, ou para conseguir o que se deseja é sempre alienador, transforma dinâmica em posicionamento e cria situações onde imolar, sacrificar são constantes em função de manter segurança, propósitos, ou determinações alimentadas por desejos autorreferenciados.   Querer a qualquer preço conseguir cria medo de falhar. Para evitar isso se inventa soluções consequentemente negadoras de realidade. De tanto inventar, de tanta busca desesperada o indivíduo se ensurdece com o silêncio do estar acima de tudo e de todos. É o isolamento conseguido pelos andaimes dos empreendimentos. Tudo segurado, garanti...

Esconder e omitir

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    Omissão e silêncio é o lema seguido quando se precisa esconder o que é considerado malfeito, ou ainda, quando algum propósito falha. Não explicar aos próximos o que foi feito e como foi feito é uma maneira de esconder motivações e também de manipular comportamentos. Quando se esconde se acredita começar de zero. A vida transcorrerá sem incômodos pois as provas foram escondidas. É um novo ser que surge e que tem tudo para ser aceito e considerado. Esse passar a limpo atitudes é lesivo para o próprio indivíduo que o faz, já que negar vivência e conflito é usurpador dos outros com quem se convive. Impede que eles tenham acessos. A continuidade desse comportamento de omissão, de mentira joga o indivíduo em redes artificiais, deixando-o sozinho com tudo que ele deve e tem que esconder. Cada vez mais comprometido, mais angustiado, e com mais necessidades de criar novos fatos, mais desespero e consequentes ações exasperadas como as que arriscam a própria vida,...

Obrigações sociais

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  Geralmente, o que significa vivência cidadã é transformada - pelas estruturas psicológicas de problemas não resolvidos ou de não aceitações - em compromissos, em obrigações que não podem, não devem ser transgredidas. Achar que a sociedade exige o padrão de comportamento para a esfera sexual, por exemplo, e ainda arbitrar que a transgressão do mesmo causa problemas para os outros, é próprio dos indivíduos despersonalizados que se seguram nas aparências como tábua de salvação.   Os valores morais variam com o tempo, com as sociedades, com as culturas, principalmente no que se refere ao comportamento sexual. Século passado, primeira metade do século XX, era comum, no interior do Brasil, por exemplo, garotas que engravidassem serem expulsas de casa, pois seus pais não podiam conviver com o opróbrio e decepção de ter uma filha desvirginada. As “filhas faltosas”, as que erravam, eram jogadas à rua, tinham que viver na prostituição, considerado um caminho po...

É preciso ler, é preciso sair das telinhas

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    Trocar o celular pelo livro. Essa obviedade se torna um imperativo. É a maneira de mudar o quadro atual de servidão às telas, de transformar essa predominância de horas diárias submetidas à lives e programas sinalizadores do que se deve ou não se deve fazer, do que é bom, útil ou inútil. Assolados por avalanches de informações e estímulos digitais, que sequestram a atenção e automatizam comportamentos, também vivemos um momento caótico de ruptura de referenciais e de validade do comunicado. Nesse caos, nessa luta é importante ler livros, pois é a maneira de sair da esfera de sugestões dirigidas, de adquirir conhecimento, de perceber o contraditório, tanto quanto de explorar o existente antes dele ser filtrado pelos critérios de venda, de proselitismos  que incrementam a cooptação para aumentar fileiras de compradores, ou de seguidores, apoiadores e crentes de supostos salvadores: os Messias encadernados, congelados para usos convenientes. Livro pode ser abertur...

Uniões e separações – A ilusão da identificação

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    Unir ou separar são questões constantes para o ser humano, para a humanidade, consequentemente são questões político-sociais e psicológicas. É esse movimento de atração e repulsão que faz atritar, e que também faz continuar processos. Essas quebras e continuidades ocasionam o que é falado como “a união faz a força” , tanto quanto “dividir para governar” .   Buscar o ponto de atrito que quebra ou faz convergir é, em certo sentido, o objeto de qualquer processo que busca mudanças. Sejam psicoterapias ou reformas nas políticas sociais, todos nisso se estribam, se situam. Concentrar ou dispersar é a maneira de convergir ou divergir que cria antíteses para mudanças. São as transformações dos processos, que algumas vezes são deformados pelas superposições de outras demandas, outros comprometimentos, outros processos. Quando isso acontece surgem novas situações. É uma nova configuração que quebra propósitos iniciais.   Interferências sempre encurtam e tamb...

Antagonismos

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  Lutar é explicitar o ponto do antagonismo. Quando a contradição consegue cravar, doer, surge espontaneamente reação. Nesse contexto é de estranhar não haver lutas diárias e constantes. Esse estranhamento desaparece quando configuramos ou percebemos os amortecedores. Os processos não são lineares, isso significa que a antítese, a contradição de A pode ser a síntese de B, ou ainda, afirmação de C. Dinâmicas, movimentos são constantes. Não existem fatos isolados, e essa constatação faz com que se entenda que as lutas são contidas por amortecedores. No plano individual, mais especificamente na vida psicológica diária, os deslocamentos, o fazer de conta, as distorções impedem atitudes, impedem questionamentos e assim as vivências escorrem, são diluídas e absorvidas por outros contextos aplacadores. Tudo pode esperar, tudo pode ser adiado, e isso vai ocorrendo de tal forma que a expectativa já não é de mudança, a expectativa é de finalização. Os propósitos, os desejo...