Postagens

Mostrando postagens de 2024

Obstinação

Imagem
    Obstinação é o propósito e determinação que faz tudo ser mantido. Essa atitude provém de objetivos, de metas. É a autodeterminação comprometida com resultados. Olhando para si, olhando envolta o indivíduo constata que não pode e não quer abrir mão de seus objetivos, pois os mesmos foram estabelecidos para suprir faltas, carências. Tudo pode seguir, mas sem desistir de conseguir resultados fundamentais para manutenção da sobrevivência. É a escolha oportunista, contingenciada por medos, desejos e busca de resultados. Manter os desejos e objetivos, não importa como, é o propósito. Ao longo da vida, com o passar do tempo, essa atitude é o que sustenta, mas é também o que impede a liberdade, a abertura, a descoberta, a espontaneidade. O indivíduo obstinado é o forte, tanto quanto o fraco que só sobrevive por estar agarrado à tábua de salvação: é a insistência que permite flutuar, não afundar. Apenas isso, e assim a vida passa nessa constante realização de desejos: “que tudo dê certo e q

Deter

Imagem
    Quando eu percebo o outro enquanto ele próprio, isso me detém. É o encontro. Pode ser amizade, amor, pode também ser a descoberta do maldoso, do invejoso, do esperto, do ruim, do agressor.   Para perceber o outro enquanto ele próprio é necessário ser disponível, é necessário se aceitar, é assim que o outro nos detém para o bem ou para o mal. Perceber o ouro em função de molduras classificatórias é o mais frequente atualmente. Nos é explicado o que é bom, o que é mau. Esses critérios identificadores nada satisfazem, são véus que distorcem a percepção, mas infelizmente é assim que tudo é catalogado e vivenciado. Preconceitos e regras, conhecer por experiência e vivência distorcem a percepção do outro.   O outro é o que está comigo. Essa continuidade que estrutura amizade, que estrutura amor, certezas e duvidas é o que nos detém, e essa parada permite, por mais absurdo que pareça, movimento, dinâmica. É o encontro. Ele não é engendrado, é a resultante alqu

Transformar limites

Imagem
    Transformar é a possibilidade contínua de se relacionar com os outros e consigo mesmo sem ser o centro, o ponto de referência dos processos. Para que tal aconteça é necessário aceitação dos próprios limites, das contingências processuais. Estar no mundo é vivenciar o presente, é estar disponível sem ser detido por metas ou desejos. Viver em função do futuro, viver em função de realização de desejos é aniquilador das possibilidades humanas, pois transforma o indivíduo em caçador de resultados positivos, um buscador de vitórias. Geralmente os indivíduos não se aceitam, pois seus pais ou responsáveis não se aceitavam. É o eterno ciclo que se mantém. Vive-se para ser o que não se foi ou para continuar sendo o que se é. Esse propósito, a priori , estigmatiza. O medo de se expressar é uma característica que passa a existir, pois o indivíduo não quer destoar, não quer ferir expectativas. Essa omissão, que é o compromisso com o não falhar, geralmente se constitui em

Unificação

Imagem
    Unificação é a hercúlea tarefa atual do ser humano. Questionar posicionamentos, destruir preconceitos, redescobrir possibilidades e limitações, revitalizar processos destruidores é o que se coloca quando se busca humanização.   O outro, ao ser aceito como ele é, independente do que possa oferecer de bom ou de mal, é aceito como ser humano. Frequentemente esse processo de aceitação do outro é interrompido pelos esgares de raiva, medo, onipotência, submissão e inveja, e, assim, o outro está despersonalizado, coisificado. Nesse momento, a depender dos contextos relacionais nos quais ocorrem o relacionamento, as coisas podem mudar em função dos questionamentos que se faça. Para isso é necessário que não se use o outro para os próprios objetivos e desejos. Caso isso ocorra, é aumentada as fileiras dos despersonalizados e despersonalizadores. Enfim, é pelo relacionamento que podem ocorrer mudanças ao configurar as próprias impossibilidades ou possibilidades de outro modo.  

PONTUALIZAÇÃO – poço de insegurança

Imagem
  Reduzido a massa de manobra, o indivíduo alienado e despersonalizado busca apenas o melhor encaixe. Os processos de adaptação propostos pela sociedade realizam e até propiciam e determinam esse processo de despersonalização. A massa de reivindicações é tão extensa que começa a se constituir em material passível de legislação estatal, a fim de grupos e minorias conseguirem vantagens, melhores encaixes. Essa convergência abrange todo o sistema. As comunidades, as escolas, o ensino, tudo se endereça para isso: melhoria, amplos e confortáveis encaixes. É a grande comunidade que desumaniza. Não há mais afeto, não há criatividade, desde que tudo está comprometido com o resultado viabilizador da manutenção de seu próprio sistema. As artes e ciências estão voltadas para melhorar e ampliar as condições do ajuste. Compromisso é o que tudo decide e ratifica. Contratos, acertos, acordos, conveniências, inconveniências decidem o que se faz, quando e como. É o padrão, é o algo

DIVIDIR – é o fazer de conta

Imagem
    Para haver participação é necessário haver espontaneidade. É preciso concordância, vivência junta de erros, acertos, possibilidades realizadas e impossibilidades superadas ou aceitas. Igualdade é o fundamento da participação, consequentemente não há direitos, nem deveres.   Não existindo legitimidade começam as atribuições, estabelecendo-se assim, direitos e deveres. As regras impostas criam superiores, inferiores, líderes e seguidores. Não há mais participação, o que existe é comando e obediência. Líderes e liderados, pregadores e ouvintes, gurus e seguidores, organizadores e militantes. A ordem estruturante é quebrada, dividida em função dos propósitos. Há o que manda, o que tudo entende, e o que é mandado, que tudo obedece. Dividir para governar, criar facções, grupos, pontos, polos de discussão é a regra básica para organizar o que se considera campo minado, que tem que ser conquistado e transformado. Dividir é quebrar   rigidez e impossibilidades, é também quebrar e desv

MULTIPLICAR – ir além dos próprios limites

Imagem
  Cruzar as tessituras do existente, se deter nas possibilidades e impossibilidades é a pólvora, é o fogo, é transformar o cru em cozido. Esse processo civilizatório, estruturado na operacionalidade de contraditórios, devolve ao homem o poder de ir além das contingências, de virar regra dos próprios limites. Isso é possível pela exploração do outro, pela transformação de si mesmo em objeto de lucro e troca. A alienação, por transformar-se em produto, viabiliza metas e desejos. Transformar o humano em massa de manobra é ingrediente necessário para o processo da multiplicação dos pães. É a criação de famílias, grupos, associações, empresas, partidos, religiões. Agir congruentemente é o que se exige, é o que se espera. Preencher fileiras, não destoar, capitalizar, acumular para ter base de decisões. São o iniciado, o adepto, o servil, e também o senhor, que encontramos nesses resultados, nessas aplicações eficientes. É a natureza transformada - mato, terras, chuva

DIMINUIR – liberdade e vazio

Imagem
  Tudo que existe, tudo que ocorre pode ser entendido pela dialética (tese, antítese, síntese). Suas configurações possibilitam açambarcar, globalizar existentes, universos, verdades e mentiras. Nesse sentido, após somar, se impõe diminuir. É operação matemática, é aritmética, é entendimento da quantificação, tanto quanto é possibilidade de operacionalizar fenômenos, de exercer motivações, de se comportar.   Questionar o existente gera cacifes para que se inicie outro jogo, é a possibilidade buscada quando a antítese do acúmulo se impõe.   O novo, o ainda não acumulado, o não somado, é rico, prenhe de possibilidades. Buscar esse infinito, exige atitudes demolidoras. Iconoclastas, questionadores, desbravadores surgem. O inédito, o início é tudo. É o infinito buscado, é a recriação do existente, é vácuo que tudo recebe e integra, geralmente vivenciado como infinito e disponibilidade, encontro com Deus, transcendência, ir além do próprio limite, quebrando regras, estabelecendo

SOMAR - contratos e permissões

Imagem
    Acrescentar, aumentar, adicionar é o resultado conseguido quando se soma. Essa operação matemática, por analogia, pode ser um modelo explicativo do comportamento humano. O propósito de ampliar, aumentar o que se tem, o que já se conseguiu, o que se quer, é atitude característica de expandir. O expansionista, o que luta por acréscimos parte sempre de um vazio incomensurável. Nunca haverá complementação satisfatória, pois se houver, o propósito de acrescentar será destruído, tanto quanto sua meta e objetivo, e desse modo a imobilidade reina.   Nesse sentido, somar é vitalizar, é animar e empreender. Balzac, em Le Père Goriot enfoca essa atitude de usura e ganância em sua brilhante descrição dos hábitos e comportamentos dos personagens. Buscar, conseguir, manter. Essa é a melodia, o compasso mantido, o representante do existir quando se busca acréscimo ao que se valoriza, considera e luta. São os grandes empreendedores e suas empresas estáveis, os clãs no

Propósito e despropósito

Imagem
A repetição da frustração - nada conseguir - estrutura desânimo e tédio. Viver para o depois, para alcançar o que se quer, o que não se tem, o que se deve ter é aniquilador de individualidades, pois a própria pessoa se divide, se transforma em instrumento de qualidade ou desigualdade, de erros ou de acertos. Quanto mais se vive para o depois, quanto mais se agarra no futuro para atravessar o que considera inóspito e desagradável – o presente, seu contexto de vida – mais o indivíduo se compromete com resultados. Esse comprometimento esvazia, e nada mais significa, tudo não passa de marcas de tempo, espaço e índices de estar no caminho. É, metaforicamente, o tostão a tostão guardado para permitir realizar planos e propósitos: casa, formatura, prazer e diversão. A vida para depois abandona a vida de agora e assim o que acontece não existe, não significa. É como se viver fosse um permanente jejum, uma imolação às causas buscadas e transformadas em significativas do pró

Contradição

Imagem
  Estar sempre se queixando das próprias incapacidades, muitas vezes é confundido com autocrítica, tanto quanto com impiedosa desvalorização de si mesmo. Essas queixas geralmente não passam de reclamações, de gritos de alerta, de pedidos de ajuda. O indivíduo que se queixa, em última análise, espera ser reconhecido, ajudado. A queixa, para ele, é uma maneira de dizer “estou atento, estou sendo prejudicado” . Ela é sempre o desejo falhado, não realizado. Quando assim percebida e conceituada, a queixa é uma indicação da não aceitação, da recusa sistemática da impotência, da incapacidade, da realidade. Frequentemente, ser vítima, construída por meio de queixas, bem ouvidas e auditadas (famílias, governos, até mesmo psicoterapeutas), é ocupar um lugar, e, às vezes, ter um destaque arregimentador de olhares e cuidados.    

Sobra e falta – oximoro da sobrevivência

Imagem
  Tudo que não é integrado, sobra. A superposição de interesses, a não definição de pressupostos se constitui em desviantes construídos como soluções temporárias para dificuldades persistentes, contínuas. A pobreza, a falta de recursos, em um sistema social produtivo, por exemplo, expõe o excesso, o que pode ser resumido neste oximoro: falta porque sobra. Desentendimentos nas relações afetivas, dificuldades de adaptação, também podem ser inseridas nessas evidências contraditórias. Raiva, desespero, inveja são sobras do que foi negado, do que não foi realizado. Tudo se transforma, tudo se relaciona, não são criados, não há causa, não há efeito. Existem dinâmicas, interseções, configurações que se correlacionam e transformam. Desenvolvimento de processos, protelação dos mesmos em função de outros referenciais, podem explicar e continuar. As metamorfoses de sistemas, desejos e frustrações, escurecem, colorem, harmonizam ou destroem nosso cotidiano. As viradas, as curvas, as estagnações

Entendimento, desentendimento e diálogo

Imagem
    Dialogar, conversar sobre é sempre resultado de estruturas individuais, de suas percepções, conhecimento e categorizações. Nesse sentido podemos contextualizar o diálogo nas dimensões de quem conversa e sobre o que se conversa. O outro pode estar dividido, recortado em muitos pedaços, submerso em seus medos, dúvidas, culpas, esperanças e em suas não aceitações, ou pode estar inteiro direcionado para transcender limites que são obstáculos. Os termos, os motivos do diálogo, podem se constituir em repetições, sublinhamento do que ocorre, tanto quanto no levantar de dados, configuração que possa aplanar ou intensificar divergências. Dialogar é explicitar pensamentos, é resumir percepções, assim como pode ser o “criatório de iscas” usadas para buscar alimentos, informações, caça de ideias, busca de comprometimento. Dialogar pode significar encontro, mas também pode ser busca de pontes, artifícios para restaurar o interrompido, a comunicação suspensa. Nesse sentido di