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Mostrando postagens de agosto, 2013

Paradoxos da neurose

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É conhecida a escalada paradoxal da hipocondria: viver faz mal, causa doença. Este implícito funciona como uma espada de Dâmocles, é condutora e mantenedora do comportamento paradoxal. Não ir até o fim, negar, desconhecer e subtrair implicações, permite sobreviver, gera divisões, paralelas que nunca se encontram, que não estabelecem conflito embora sejam paradoxais. A não globalização fragmenta, pontualiza e ao firmar posicionamentos, nega toda possibilidade de dinâmica, de diálogo. Várias situações no viver neurótico, distorcido - na não aceitação - criam atitudes paradoxais. Cuidar dos sintomas, evitá-los, estabelece um caudal ritualístico, maneiras de com eles conviver ao ponto de criar vícios, hábitos. É frequente o viciado em síndrome de pânico. Enfileirar queixas, estabelecer reivindicações, fazer com que familiares e acompanhantes participem dos cuidados necessários para evitar o pânico é um vício que desloca tensão, consequentemente alivia. Detestar a solidão, demanda

Desprezo

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O processo de não aceitação às vezes assume formas extremas. O próprio indivíduo se despreza, se sente monstruoso sem nada que disfarce o que considera feio e ruim. Carente implora, mendiga que olhares simpáticos, toques piedosos o façam esquecer suas definições acerca de si mesmo. Buscando esconder o que o afasta do que necessita - cuidado, atenção, carinho - arranja "capas protetoras" que camuflam seus dramas. Protegido pela capa  (dinheiro, estudos, inteligência ou até mesmo outra pessoa utilizada como moldura) pensa que se estiver bem vestido, bem apresentado, sendo capaz, tendo dinheiro, beleza, pode despistar, esconder suas não aceitações, suas diferenças. Desprezando-se e agarrando-se ao que escuda e melhora, transforma-se no que rouba tudo que está à mão e serve para utilizar. Estrutura-se, assim, o cínico, o desonesto que cada vez mais se despreza, mas que também não se abate com isto. O desprezo, neste caso, neutraliza tensões. As soluções encontradas são

Desconsideração

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Todo sistema estabelece o que considera superior, inferior e mediano. Os critérios são variáveis, mas referenciais constantes são poder e status, que implicam no que é considerado bom, vital, valorizado e ruim, inútil, desvalorizado. Perceber o mundo, o outro e a si mesmo através destes delineamentos é esmagador, mesmo quando se é colocado no topo: o padrão aliena, isola e desumaniza, embora nem sempre seja assim percebido. Estar além, considerado superior, possibilita a vivência de ser melhor, mais apto, mais capaz, poderoso. Neste momento, assim se percebendo, vem a desumanização; passa-se a ser representante de ordens constituidas, transforma-se em uma coisa, objeto entre outros, caros e poucos. Estar abaixo, oprimido, esmaga e revolta. Ser o desprovido, desconsiderado, apenas a massa de manobra, sem voz própria, utilizado para servir é também desumanizador; só existe em função das vantagens conseguidas por se deixar usar e manipular. Consideração e desconsideração

Contentamento

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Alegria, bem-estar, satisfação, alívio caracterizam a vivência de contentamento, assim como descobrir o novo, saber-se capaz, perceber as superações realizadas ao longo de difíceis processos traz contentamento. O filho que nasce, receber o diagnóstico acertado, as obrigações cumpridas, o prazer realizado são algumas situações onde se fica contente. Sucesso, realização e o inesperado auspicioso, sintetizam as vivências de contentamento, mas, resumir a existência em função de objetivos, de resultados satisfatórios cria polarizações de bom e ruim, tristeza e alegria, contentamento e descontentamento. Nestes universos assim polarizados, qualquer coisa contenta ou descontenta. Esta contingência enfraquece, deixa muito tênue a estrutura humana, desde que, alienando-se em função de resultados a pessoa se circunstancializa e ouve apenas " toques de tambor ", reagindo em função do que é programado e organizado. Comprometidos com estes referenciais, os indivíduos têm sempre seus

Perdão

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No cristianismo, perdoar é praticamente uma regra definidora do bom cristão, que tanto pede perdão constantemente (confissão e expiação dos pecados), quanto, mirando-se no Cristo, busca perdoar seus agressores sistematicamente. Saindo do referencial cristão e popular, perdoar, sob o ponto de vista psicológico é quase sinônimo de generosidade, neste sentido é o oposto de mesquinharia. Mesquinho é o avaliador, aquele que tudo conta, considera, aproveita e não esquece. Limitada pelos referenciais do que beneficia, do que atrapalha, do que dá segurança ou pressiona, a vida é diminuida, amesquinhada; nenhum crescimento, desenvolvimento cultural ou expansão podem acontecer. Restringindo-se a estes parâmetros, tudo é avaliado e assim se vive. Neste contexto de avaliação, ou se perdoa facilmente, quando perdoar não atrapalha, não prejudica ou se contabiliza a situação e se torna implacável, jamais perdoando. O foco não é o outro, não é o perdão, mas sim evitar o que atrapalha. Nesta