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Mostrando postagens de janeiro, 2014

O ser que é não ser

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Nas sociedades, famílias e grupos onde as diferenças não são acatadas e aceitas, são criadas uma série de graduações e maneiras de lidar com o díspar; são ferramentas próprias para aplainar diferenças, aparar farpas; são bitolas mais amplas ou mais estreitas. Estas atitudes ficam refletidas na linguagem cotidiana, das ruas às academias, das salas de jantar ao noticiário de TV, onde ouvimos: “o índio ideal é o índio um pouco civilizado, consequentemente o índio que não é índio mesmo” ; “o pobre educado, gentil é perfeito, é o pobre que não é pobre mesmo” . Tudo isto nos lembra o antigo dito escravocrata “negro de alma branca” e a idéia do bom selvagem (visão colonialista e etnocêntrica). Graduações são sempre baseadas em referências de completo/incompleto, inteiro/dividido, implicitamente bom, ruim, verdadeiro, falso. A pureza alegada, a construção “índio mesmo” , por exemplo, é uma rotulação que impede contato. Assim, tem que ter mistura de vivências para que haja invasão, mudan

Discernimento

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É difícil existir discernimento quando se está preso ao passado ( a priori ) ou ao futuro (expectativas e metas). Todos os processos, todas as evidências são niveladas em função do que se deseja e assim, separar o joio do trigo fica impossível, pois a homogeneização é feita percebendo ambos como plantas que alimentam. Transformar problemas em justificativas é uma maneira de validar a submissão e acomodação ao que impede liberdade e crescimento. Manter as “ válvulas de escape ”, o uso do outro, as mentiras viabilizadoras de sucesso, por exemplo, gera hábitos, vícios que solapam o discernimento. Sucesso a qualquer preço cria teias, armações necessárias à consecução do planejado. Vivendo para o futuro, as avaliações e cogitações se referem sempre ao que ajuda ou atrapalha, tanto quanto transforma o apoio anterior em obstáculo que agora deve ser ultrapassado; cumplicidades e acertos são estabelecidos. Nestas estratégias se perde coerência e continuidade. A flexibilidade é transformad

Previsibilidade

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Toda vez que os desejos e motivações de ser aceito, de vencer e conseguir são os determinantes do comportamento, a atitude dos indivíduos é previsível. Esta constatação rege a publicidade, tanto quanto os programas para angariar votos e criar plataformas eleitorais, por exemplo. Assim, transformados em peões, no grande xadrez das decisões empresariais e corporativas, é previsível o que o homem fará, o que lastimará, tanto quanto o que o deixará feliz e contido. Nas famílias, nas relações afetivas, no dia a dia das clínicas psicológicas, trabalha-se e vivencia-se estes resíduos. Descortinar o futuro, saber o que vai acontecer aos “amores felizes” torna-se um mero cálculo aritmétrico: somar, dividir, diminuir, multiplicar. De peões a números, da estratégia utilizada para massa de manobras à quantificação de seus resíduos, o ser humano é transformado em quantitativo. Substituído, reciclado, quantificado - tudo é previsível: doenças, exacerbações temperamentais,  acessos de violênci

Incongruência

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Todo empenho, objetividade e necessidade são neutralizadas quando situações incongruentes, inadequadas, surgem. Realizar o impossível, é impossível. Constatar este absurdo cria desespero ou gera impotência, tristeza, revolta, quando não se aceita o que está diante, o que está acontecendo. Esta vivência estrutura a constatação de que não se pode " apertar parafuso em papelão ", ela liberta e às vezes possibilita autocrítica. Pessoas inconsistentes, oportunistas não se responsabilizam pelo que fazem. É frequente encontrar tais pessoas no âmbito profissional; não adianta esperar que elas adquiram responsabilidade, já foram treinadas para despistar, não se responsabilizar pelos erros decorrentes de enganos gerados pelas falsas imagens veiculadas; é o conhecido " cara de pau ", nada o atinge, é blindado a qualquer coisa que não seja a própria conveniência, a própria vantagem. Nos relacionamentos íntimos, esta blindagem, as mentiras e irresponsabilidades produze

Hipocrisia

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Mentiras, traições originam a hipocrisia, mas, a hipocrisia tem diferenciadores necessários: atitudes convenientes, solidárias, um fingimento constante; como dizia Tartufo " não há nenhum pecado se pecar em silêncio ". Mentirosos, traidores ao serem descobertos, desaparecem; metaforicamente são sementes que não geram frutos. Na hipocrisia, as benesses e colheitas prometidas são esperadas; disfarçar o evidente através de mentiras e traições é o que a caracteriza, gerando frequentes situações enganosas; é como caminhar no gelo: sólido ou fragilmente inconsistente a depender da temperatura sazonal. Ser enganado pelo que é familiar, pelo que é confiável, é demolidor: o sócio, o cônjuge que devagarinho tudo transfere para o próprio poder; o filho que se apodera de jóias e bens para financiar vícios e desejos; o que se coloca como amigo, mas se esquiva quando solicitado, os exemplos são muitos. Hipócritas são melífluos, amigáveis e prestativos no desempenho de seus planos e d