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Mostrando postagens de abril, 2015

Flexibilidade e enrijecimento

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Engessar, enrijecer é perder flexibilidade. Movimentos diminuídos, posicionamentos rígidos, assim como músculos enrijecidos (endurecidos), é o que acontece quando processos saturantes não são questionados. A imobilidade torna sem flexibilidade o que, por definição, existe apenas enquanto movimento, enquanto possibilidade de relação. Indivíduos compromissados, que se apegam rigidamente a pontos de vista, que não admitem outras visões além das próprias, que se sentem seguros e garantidos por a priori , assim como os tolerantes e bem intencionados, mas incapazes de perceber as inúmeras variáveis das situações à sua volta, bem exemplificam o processo de enrijecimento, de autorreferenciamento. Estar disponível, aceitar limites é flexibilidade no relacionamento com o outro e com o mundo. Poder entregar-se às paixões ou delas fugir é um exemplo de não endurecimento, de não compromisso com regra e desejo. É muito difícil, intolerável até, viver esmagado, bitolado por regras e desejos, ob

O Nada - sem expectativas

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Estar contido, limitado pela vivência do presente é o que acontece em situações prisionais, conventuais e de exílio, onde a falta de perspectivas caracteriza a vivência cotidiana. Geralmente, toda situação de sobrevivência transforma o presente, o aqui e agora, em um ancoradouro, um porto seguro. Órfãos de guerra, crianças abrigadas por conventos e outras instituições são um exemplo onde a vida começa no intervalo do término. Não há antes, não se tem mais laços, não se tem contatos com o anterior estruturante de vivências. A nova vida é esgotada no agora, qualquer interrupção da mesma é a descontinuidade estruturadora de questionamentos, dúvidas e conflitos. Sem referenciais, sem respaldos, sem história - arquivos responsáveis por preferências e antipatias - o indivíduo colapsa e, ao se voltar para o existente, percebe estranheza: as familiaridades circunstancialmente estabelecidas não se mantêm. Da mesma forma, ao se voltar para o novo, ele é tragado por incertezas geradoras

Bricolage

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Bricolage é a improvisação, o trabalho pouco cuidadoso onde uma série de peças ou situações são arregimentadas, organizadas em função do que se quer produzir improvisadamente, adaptando-se aos materiais e circunstâncias. Este sentido de improvisação, transformadora e realizadora de necessidades, conferiu à bricolage, acepção de criatividade, quer como sinônimo de improvisação criadora, quer como responsável por soluções artísticas. Aproveitar o que pode ser improvisado é gerar substituições adequadas e também anômalas, consequentemente inadequadas. A vida em grupo, a estrutura frágil de algumas comunidades que são polarizadas em função da realização dos objetivos que a formaram - geralmente contingentes - cria verdadeiros híbridos de propósitos. Existem comunidades formadas para a prática de crimes, preocupadas em estabelecer paz e tranquilidade entre seus constituintes e isto equivale a uma reciclagem para satisfazer necessidades: para manter as ações criminosas precisa-se d

Cordialidade e violência

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A cordialidade, o agir de coração, o ser generoso, dadivoso é um dos traços nacionais, segundo Sérgio Buarque de Hollanda. “O brasileiro é cordial", durante muito tempo se pensou assim e causa espanto a constante violência exercida na família, na política, nas grilagens, na usurpação de direitos exercida pelos brasileiros. Como entender? Foi a colonização? São as necessidades que desvirtuaram essa cordialidade? O brasileiro é cordial, age por coração, é espontâneo em seus desejos e necessidades, como é feliz por viver em um país tropical debaixo do Equador, ou seja, é circunstancial, dedicado a suprir necessidades e tudo aproveita do que lhe é apresentado. Um episódio recente desencadeou uma reação de grande proporção, reverberando nas redes sociais e outros veículos, que bem demonstra a violência insuspeita dos brasileiros, a enorme desproporção entre delito e punição reivindicada. Trata-se da condenação à morte, de um brasileiro na Indonésia, por tráfico de drogas. Esta c

Filtros participatórios

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Relacionamentos reduzidos às dimensões utilitárias, pragmáticas e de ajuste têm, como características, módulos de absorção para incongruências, dissonâncias e incompatibilidades. Nestes relacionamentos, compreender, renunciar, negociar são maneiras de cobrir evidências, fluidificar o objetivo nítido e denso, encorpando à boa disposição e à tolerância, elementos sutis e não explícitos nas vivências de desencontro. Os próprios indivíduos em relação se transformam em um muro de contenção, para-choques de brigas e desentendimentos em função do que precisa ser mantido. Quando os relacionamentos se fundamentam em necessidades, aperfeiçoar a tolerância, a filtragem do que atropela, é o que permite a manutenção e aproveitamento do que antes era nocivo, cheio de impurezas. Pouca água potável requer desenvolvimento de sistemas de aproveitamento, de purificação - a vida tem que ser mantida. Relações difíceis, tempestuosas, personalidades abruptas precisam ser abraçadas, compreendidas. Viran