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Mostrando postagens de janeiro, 2024

Quando tudo é explicado por a priori, nada é explicado - 1

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    É muito comum, muito difundida a noção de que a causa dos nossos problemas sociais atuais está na herança de comportamentos de nossos antepassados e que a solução desses problemas estaria, em grande parte, no enfrentamento de preconceitos.   Explicar o presente pelo passado é um vício, uma rua sem saída. O antes não explica o depois. A continuidade de consequências, o querer entender o que acontece pelo que aconteceu cria explicações de causa e efeito, perguntas/respostas nas quais se sacrifica e nega a ideia de totalidade e contextualização. Explicar a dificuldade que a criança tem de aprender pelo fato de ter um pai muito rico, um pai muito pobre, uma mãe russa ou ainda uma mãe indígena é estabelecer um sistema de bodes expiatórios falantes e explicadores do fenômeno.   Qualquer análise histórica, política, social, comportamental psicológica deve se ater às forças estruturais do que está sendo estudado. Não são as funções, os símbolos, os padrões que determinam compo

Entendendo a imposição dos fatos

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    O conhecimento ou desconhecimento do que ocorre não é responsável pelo que ocorre. Na visão idealista é a ideia que cria a matéria. Nesse axioma, tomar conhecimento de um problema, de uma catástrofe climática que nos atinge, por exemplo, é o que trará mudança. Não é verdade. Quase três décadas de conferências sobre o clima apenas servem para gerar etiquetas, criar rótulos e vender selos de sustentabilidade e boa imagem para governos, países e empresas.   O que é claro é que apenas por meio de mudanças de atitudes governamentais é que é possível encarar a questão climática de forma eficiente. Para isso teríamos que não subordiná-la a interesses econômicos. Isso requer uma nova ordem econômica mundial. É uma mudança que não depende de desejos. É uma necessidade que surgirá quando forem inviabilizados os interesses atingidos pelas questões climáticas. Não depende de opiniões pessoais. Não é uma questão subjetiva, é uma questão estrutural do atual sistema cap

Imperativo categórico, grande insight kantiano

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    As pessoas podem ser bestiais, desumanas e cruéis quando agem em função de seus interesses e conveniências, enfim, quando não agem livremente, quando estão submetidas a injunções pragmáticas, políticas, a conveniências e circunstâncias.   Como agir livremente quando se está imerso e submerso em sociedades, empresas, famílias, clãs? Kant dizia que só agimos livremente quando agimos de acordo com o imperativo categórico e não de acordo com imperativos hipotéticos, pois os imperativos hipotéticos estão ligados a compromissos, ou a atingir resultados vantajosos, a fugir de situações estressantes, ou a preparar para algum objetivo conveniente posteriormente. O imperativo hipotético faz com que nossa vontade não seja determinada por nós e sim por forças externas, por nossas necessidades circunstanciais, por desejos. Só através da autonomia, ele dizia, podemos escapar dos ditames da natureza e das circunstâncias, e agirmos com liberdade, segundo leis universais e determinação que no

Abrigo

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  O abrigo, inúmeras vezes, é o encontro do presente que transforma e define trajetórias de continua solidão, de frustração estruturante de dúvidas e omissões.   Quando ansiedade e medo habitam o cotidiano, sem saber o que fazer, sem saber para onde ir, nem o que acontece, o indivíduo se desespera, se desgasta, se omite. Essa omissão é implosiva. Sozinho, sem se comunicar, surge o isolamento. Tudo ameaça. É o deserto sem oásis. Nesse desespero, nessa solidão, quando se encontra um apoio - o abrigo - as coisas mudam. O inóspito começa a ser povoado. As reestruturações se impõem. É o novo trazendo transformação.   Encontro amoroso, vivências psicoterápicas, descoberta de problema engendram soluções. Novos sentidos são configurados, os processos continuam e assim são descobertas novas dimensões individualizantes, e essa continuidade personalizada destrói o abrupto das imposições, das ameaças e violências. É a mulher que se sente livre, é a criança risonha, é o me