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Mostrando postagens de dezembro, 2022

Aflição e incerteza

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    A busca de resposta, o clássico ser ou não ser de Hamlet, uma eterna questão humana, agora é transformada em expectativa de resultado. O binário, o clicado, o determinado prevalecem. Essa redução da realidade e dos propósitos e vivências às contingências, transforma o ser humano em objeto. Objeto de expectativa, adorador de resultados atingidos, desde a vitória de seu time às notas obtidas em sua tese de doutorado. Entre o agora e o depois há o abismo da espera e da dúvida. A curiosidade, a torcida, o desespero, a aposta são a chave mágica que, acionada, possibilita calma após as agruras do esperar. Apostar e torcer preenchem o abismo da expectativa. Incluir o sagrado, fazer promessas às divindades é construir pontes para encurtar o desejo de agarrar o esperado. A expectativa está mais próxima do desistir que do acreditar. Quando se tem certeza, expectativas não são estruturadas. As certezas são monolíticas, não têm vazio, vácuo a ser preenchido. Por exemplo, de uma maneir...

Confluências

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  Todo rio desagua, converge para o mar. Mesmo essa evidência, essa verdade se torna discutível quando outras variáveis interferem no processo. Rios podem ser desviados de seus cursos para criar usinas hidrelétricas ou para privilegiar pequenos ou grandes feudos. O natural, o intrínseco pode ser descentralizado, operado em função de circunstâncias e objetivos outros, extrínsecos às imanências processuais. Atualmente, no contexto de população e consumo, constatamos inúmeras confluências arbitrárias. Todo indivíduo famoso, desde o que recebe o 1k de curtidas até os "heróis futebolísticos" passam a ser considerados sabedores de tudo. São pessoas bem vistas, cheias de seguidores, curtidas e comentários, consequentemente formadoras de opinião, e assim devem entender do que é bom e melhor para todos e tudo. O super craque de futebol indica a melhor chuteira, mas como é super bem visto, pois ele é um craque de futebol, passa a ser também porta-voz, arauto de tudo que se quer promove...

Diluir

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  Quando se dissipa o que concentra - como os objetivos e propósitos - se pode perceber as motivações sob forma de polarizantes ou determinantes do que motiva. Toda concentração de motivação implica necessariamente em ela estar voltada para o que ainda não aconteceu, em estar voltada para o que se precisa, o que se quer que aconteça.  Ressaltar a temporalidade, a defasagem entre o que está acontecendo e o que se deseja que aconteça impõe percepção do que está presente. Tudo que acontece, enquanto acontecimento, é presente, consequentemente não sofre acréscimo.  É o desejar, o precisar que aconteça, que cria ansiedade. Geralmente a ansiedade é instrumentalizada. Inúmeras vezes ela funciona como escada para atingir o que não está presente, e também para preencher o vazio, o gap da expectativa. É um preenchimento arbitrário, consequentemente polarizante, atrator de tudo que se constitui em obstáculo, resíduo alheio ao que está acontecendo. Diluir expectativas e desejos é um...

Repulsa e restrição

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  Detestar alguém ou algo é reduzir inúmeras variáveis ao próprio padrão, algoritmo de percepção do mundo. Essa redução aos próprios interesses e preferências, traduzida por raiva, medo ou inveja, transtorna e esfacela o real. É o a priori , a vivência antecipada.  A aversão cria padrões, determina preferências e antipatias, sonega possibilidades. É frequente a incidência dessa conduta nos casos de preconceito racial, de gênero e outras tantas atitudes decorrentes de segregação. Esse tipo de postura é responsável pela miséria, pois com ela se corta metade das cabeças da humanidade (restrição às mulheres) e se segrega cérebros, vitalidade e a capacidade de ao menos dois terços dos habitantes do planeta. É dessa matéria prima da aversão, da repulsa, que são criados xenofobia, racismo e inúmeros outros preconceitos. Aversão, restrição, preconceitos decorrentes de misérias e situações antecipadamente vivenciadas criam tabus que entravam e apequenam a trajetória humana. Viver é des...

Satisfação e apego

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  Toda vez que necessidades ou vontades são satisfeitas causam prazer e assim criam-se apegos, diziam os antigos yogues. Nas suas afirmações eles geram valores e dizem que quando esse apego se refere ao amor dos amigos, do cônjuge ou dos filhos, ele não é prejudicial, é afeição, é compaixão e se refere mais a situações mentais que físicas dos indivíduos com eles próprios, diferente do apego ao que sacia as necessidades individuais. Esse dualismo valorativo entre físico e mental, entre necessidade biológica e "preferências mentais" individuais pode ser abolido caso pensemos na necessidade como denominador comum de ambos apegos: a necessidade do que causa prazer (água, sexo, alimento) ou a necessidade do outro (apoio, carinho, participação). Qualquer situação configurada e traduzida como necessária é alienante, desde que só a partir da mesma, da satisfação da necessidade, é que se vai configurar o bem-estar, o equilíbrio, a homeostase, o prazer. Quando o que nos cerca é percebi...