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Mostrando postagens de fevereiro, 2023

Embates

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O todo não é a soma de suas partes. Tudo é contínuo, entretanto, nem sempre essa continuidade, essa totalidade é percebida, pois se tornam enfáticos alguns aspectos que a configuram. É exatamente essa parcialização que cria partes, grupos e partidários. Na França, logo após a Revolução Francesa, nas assembleias de decisões parlamentares se organizou os dois principais grupos sociais oponentes à esquerda e à direita do orador principal, e foi assim que esses termos "esquerda" e "direita" entraram no debate político. Com o passar do tempo, extrapolando esse contexto específico e ganhando adjetivos (como bom/ruim, legal/ilegal), os dois termos permanecem até os dias atuais, quebrando uma totalidade e criando outras. As dinâmicas são infinitas, sempre o todo cria outro todo. É o clássico exemplo do mercúrio, metal líquido cuja gota ao cair cria infinitas outras, iguais entre si e diferentes pelo espaço que ocupam, a alteridade é dada pela divisão. Os iguais brigam, se c

Natural e artificial - imanência e aderência

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  Outro dia, lendo o romance "A Trindade Bantu" de Max Lobe, encontrei: "quem come não é o que tem fome, quem come é o que tem comida". Imanência e aderência, necessidade e possibilidade vieram à minha cabeça. O ato natural de beber água quando se está com sede, comer quando se tem fome é alterado pelas injunções econômicas e sociais do sistema. O básico, o necessário à vida passa a ser contingente, embora não supérfluo. É preciso dinheiro para ter comida, não basta ter fome. É como se para andar não fossem suficientes as pernas, pois os caminhos foram explodidos, destruídos. Todo o natural ou originário está submetido. Esse processo se agrava quando pensamos no transcendente, no relacionamento com o próximo enquanto percepção do outro, o semelhante. O outro é geralmente pensado como objeto útil ou inútil. É o necessário ou o depreciado, e ainda pode de necessário se transformar em obsoleto a depender de circunstâncias (é assim que mães e pais idosos ou dependentes

 Contabilização de infelicidades

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Não ter alcançado os objetivos determinados pelos desejos cria frustrações. Como se lida com essas frustrações irá configurar a vítima, o invejoso e principalmente o oprimido. Não conseguir vitórias e destaques sociais impõe, quando não se aceita esses resultados, constante verificação de resultado. Diariamente se avalia e verifica os degraus que podem possibilitar sucesso. Conhecer pessoas influentes, ficar do "lado bom da corrente" torna-se atitude cotidiana e é entendido como buscar oportunidades e caminhos para o sucesso. Ter o que os outros conseguem é a meta, a medida que tudo avalia. Não se discute mérito, capacidade, apenas se inveja, se percebe situações como o que não se tem. Desde os amores não realizados, até a proeminência empresarial, o que se revela e avalia não corresponde às ambições e segue a luta pelo direito de conseguir. Sente-se merecedor pelo simples fato de não ter. Tudo é visto como o que deve e precisa ser alcançado. Nessa loucura desvairada de compo

Colisões

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  Sempre que se sai da rota traçada sem prestar atenção, sem questionar impedimentos e obstáculos surge colisão. Esbarrar, colidir pode ser sinônimo de ser desatento, de destruir, tanto quanto de libertar e transformar. O pé que pisa, a mão que submete, o grito que organiza são invisíveis aglutinadores de despersonalização. Viver apenas para ter conforto e tranquilidade pode ser uma perigosa escolha, pois enfraquece, transforma o indivíduo em um ser abrigado, suportado, cuidado, realizado. Esse apassivamento é sempre custoso. Abrir mão da criatividade, da espontaneidade e liberdade é o que geralmente configura o bem estar. Por mais ampla que seja a prisão, por mais confortável e infinita que seja sua extensão, é sempre resultado de compromisso, acertos ou fixação em vitórias almejadas e conseguidas. É uma antecipação do fim. Tudo que era necessário foi conseguido. Resta usufruir e cuidar. Filhos, leis e sociedades aí estão para validar essa vitória. A vida continua mas o prazer de ter