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Mostrando postagens de setembro, 2022

Encapsulado

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  Sentir-se encapsulado é uma das reconfigurações de dinâmicas psicológicas criadas por novos posicionamentos. Esse posicionamento, responsável por conter ou ocultar vivências, desejos e constatações cria descontinuidades e assim faz com que o indivíduo encubra suas reais dificuldades, problemas, frustrações e medos.  É engenhoso encapsular vivências, constatações e percepções; estar constantemente a cortar e organizar, a superar e etiquetar (ressignificar). Uma das características principais desse posicionamento é o ato de encobrir. Ao embrulhar, etiquetar, organizar e guardar, se esquece, pois se encobriu o que estava espalhado, se ocultou o que parecia anômalo.  Nesse contexto, o trabalho, que vira motivação, é este: encaixar e definir para guardar e arquivar. Posicionado nesse universo, tudo que acontece só significa quando encontra seu complemento análogo, semelhante. É o eterno " symbolon " que na antiguidade grega era um sinal de encontro e reconhecimento (quando dois

Impaciência

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  Sentir-se impaciente é uma das reconfigurações de dinâmicas psicológicas criadas por novos posicionamentos. A impaciência é um posicionamento a partir do qual o mundo é transformado em fantasia. Tudo pode ser destruído em função da ordem, da sequência e do pensamento lógico, das falsas verdades e espúrios compromissos. Não conseguir acompanhar as dificuldades alheias, por exemplo, estar dedicado a realizar seus objetivos cria atmosferas nas quais o que ocorre é precário e despropositado. A superação de fatos, o abandono de dificuldades e do que pode atrapalhar gera ninhos onde se nutre a impaciência e até mesmo a intolerância. Ela resulta da constatação de incapacidade, da não viabilidade diante do que precisa ser resolvido. O impaciente, assim posicionado, se transforma no único capaz, tanto quanto no frequentemente abandonado e desconsiderado. Ao ser percebido dessa forma, ele é isolado. Sozinho com suas conclusões é deixado de lado para exercer seus processos de impaciência e dese

Tédio e liberdade

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  Não é muito frequente, mas acontece que a certa altura da vida não se tem porque lutar, não se tem o que descobrir, o que querer. Para muitos isso se resume em uma palavra: tédio. Tudo acontece sem dificuldade. A vida transcorre macia e monótona. Admitir que o tédio resulta de não ter que lutar ou de estar satisfeito é uma colocação reducionista que transforma o ser humano em um conjunto de necessidades, que quando satisfeitas o levam à homeostase e assim reduzem suas motivações. A luta vista desse modo é um processo voltado para redução de tensões e necessidades. No entanto o ser humano não é apenas um sobrevivente, um organismo condicionado, ele é antes de qualquer coisa alguém que diante do mundo percebe, pensa, interroga, caminha, descobre, enfim, transcende e estrutura processos outros, principalmente linguagem, questionamentos e dúvidas. Tudo isso pode ser resumido dizendo que o ser humano, orgânico, voltado para a sobrevivência, tem além disso, percepção de si, do outro, do mu

Polarização, cismogênese, divisão

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  Atualmente, no Brasil e no mundo, o que mais se comenta é a chamada polarização. Tudo convergir para uma opinião, transformando a mesma em verdade, é um absolutismo que neutraliza processos, exagera e diminui realidades, fatos e acontecimentos. Essa atitude de promover posições em função de convergências ou divergências é antiga e universal. Em 1935, o antropólogo e estudioso de psiquiatria Gregory Bateson criou o termo cismogênese (conforme ele próprio afirmava, desenvolveu esse conceito influenciado pela observação de comportamentos esquizoides) com o qual pretendia designar um padrão de comportamento que consiste na tendência de indivíduos ou grupos de se definirem por contraposição, pelos opostos e contrários em relação a outros, e assim aumentarem as suas diferenças no diálogo, interação e confrontação. Diferenças que antes da interação pareciam menores ou atenuáveis, tornam-se maiores e mais intransigentes à medida que ocorre a interação. Essas suas conclusões foram decorrente

Ira

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  Sentir-se irado, raivoso é uma das reconfigurações de dinâmicas psicológicas criadas por novos posicionamentos. Ter raiva ou a constante vontade de destruir resulta do acúmulo de frustrações e fracassos, obnubilando, solapando perspectivas.  Entregue a si mesmo, sem vislumbre de saída para realização de seus objetivos, o indivíduo transforma os outros que não o ajudam ou apoiam, em obstáculos, objetos a serem neutralizados. A ideia de supressão ou anulação como maneira de dominar e reinar é em si contraditória. Todo rei precisa de súditos. Entretanto, quando os mesmos existem, em alguns casos, o reinado e o rei são destruídos.  Nada deve atrapalhar, e a consequência dessa postura é estabelecer uma regra régia para sobreviver, que consiste em destruir tudo que é diferente de si próprio, e também o semelhante que é o espelho que desmascara. Na sutileza desse processo se desenrola o drama destrutivo. Não querer deixar rastros, destruir todos os indícios, faz com que o indivíduo se desfi