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Mostrando postagens de fevereiro, 2019

Sacrificio

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“A esfola de Marsias” (1570-1575), de Ticiano Suportar, submeter-se é sacrificar-se. Para entender quando se estabelece sinonímia ou igualdade entre suportar, submeter-se e sacrificar-se é necessário algo novo, é necessário perceber o contexto da motivação do sacrifício. Reduzir o processo à linearidade não justifica ou explica a submissão a X ou Y, o sacrifício é sempre exercido em função do outro ou por outra causa ou outra razão que não a expressa na linearidade. A invasão de plano diferente gera a ideia de sacrifício que funciona como um incentivo, tipo cenoura na testa para acelerar o andar do animal! A educação dos filhos, o bom final da união matrimonial, o desejo de ser vencedor, que permite estancar o sangue da corrida constante e desenfreada, tudo isso é o sacrifício transformado no sacro-ofício que tudo realiza e justifica. Pagar o preço, ser esfolado, é o Marsias redivivo. Essa visão trágica, sempre oriunda da ideia de pecado, deve ser abandonada quando

Respeito

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Recentemente, lendo o livro “No Enxame” , de Byung-Chul Han, encontrei a etimologia da palavra respeito: “respeito significa literalmente olhar para trás [Zurückblicken]. Ele é um olhar de volta [Rücksicht]” . O tradutor do livro, Lucas Machado, explica que “o termo alemão para respeito, Rücksicht, é composto pelos termos Sicht (vista, visão) e Rück, que significa, literalmente, 'de volta'. Assim, o autor indica que o respeito (Respekt), como o seu sinônimo de origem alemã Rücksicht indica, seria, literalmente, um 'olhar de volta', Zurückblicken, uma 'vista de volta' ao outro” . Esse olhar para trás é quase que o olhar em volta, o perceber onde se está e o que existe ao lado. É perceber o outro e o mundo. Saber onde se anda, com quem se anda, o que se vê, o que sustenta, o que limita, o que apoia é considerar, é o olhar em volta que gera respeito. Perceber o outro, percebendo semelhança, dessemelhança, continuidade, descontinuidade cria referenciais s

Garantia

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Garantia é a repetição de certezas. A validade por meio do resultado é o lucro do que se investiu. Nesse contexto, a primeira regra para estabelecer garantia é criar e manter aparências que possibilitem acordos e acertos. Seguir e estabelecer os contratos sociais - das profissionalizações aos casamentos e acertos empresariais - cria locais, topos, cumes de visibilidade e assegura autoridade, tranquilidade e impunidade. Garantir é enfeixar, é amarrar, instituindo critérios e termos nos quais as verdades soberanas e estabelecidas governam e decidem. É assim que se consegue transformar garantia em realização e sucesso. Não precisa ser, nada mais é necessário do que representar. E representar é duplicar seu espaço, ocupando-o pelo sublinhamento, pela ênfase de referenciais validados pela aceitação do que é considerado bom. A cabeceira de uma mesa, por exemplo, em determinada sala, é tão significativa e simbólica que já laureia e nobilita quem a ocupa, por isso é sempre desejada.

Cautela e ansiedade

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Quando o indivíduo mantém aspirações do que deseja e que não tem, como se já estivesse acontecendo, tentando realizar essas aspirações, equivale a construir plataformas que o lançam para outra dimensão - o futuro. Esse viver irreal, desde que não presente, cria inconsistência e consequentemente provoca imensa necessidade de apoios. Viver em função do futuro, preparando melhorias e criando condições para mantê-las é uma das atitudes geradoras de medos, ansiedade e rigidez. Observar o que existe, o que se constitui em fracasso ou em vitória orienta o planejamento do que vai proteger, do que vai evitar ameaças. Esse planejamento consome a vida, subtrai esforço, diminui referenciais. Tudo é feito em função de sobreviver e bem viver. Automatismos são criados, tanto quanto mecanizações que só existem para possibilitar sucesso e evitar sucumbir ao medo de falhar, ao medo de não conseguir. A vida passa, a velhice chega e a prudência, a preparação para vencer é então encontra