Postagens

Mostrando postagens de março, 2019

Aleatoriedade

Imagem
Sempre que há uma expectativa fundamentada em continuidade de processos estruturam-se certezas decorrentes das sequências processuais. Somente o aleatório quebra essa continuidade consistente. As características de consistência e aleatoriedade variam conforme os sistemas que as estruturam. É totalmente aleatório chover em desertos, tanto quanto é aleatório soluções humanitárias em regimes ditatoriais. Quanto menos consistente é a pluralidade dos sistemas, mais porosidade e possibilidade de outras configurações o invadirem. Nesse sentido são exemplares as atitudes individuais, às vezes heróicas, formarem sistemas de resistência aleatórios, pois não são previsíveis. Zumbi dos Palmares e Tiradentes são individuações aleatórias diante da sistemática opressão escravagista e colonizadora, mas, como polarizantes dos submetidos, dos desconsiderados, quanto mais essa polarização cresce, mais se sistematiza consistentemente a fabricação de heróis. Thomas Szasz - psiquiatra defenso

Pele e alma - Selvageria e civilização

Imagem
Somos os animais mais desenvolvidos na escala biológica e nosso objetivo maior ainda é sobreviver. O ciclo evolutivo nos deu adrenalina, córtex cerebral, músculos e inúmeras vantagens orgânicas para isso, tanto quanto para a realização da função de alerta. Acontece que somos mais que isso à medida que percebemos, refletimos e constatamos todo nosso processo, criando, assim, transcendência, ou seja, criando condição de ir além, de deter os movimentos desse ciclo e limites orgânicos. Por isso vencemos o mar construindo navios; vencemos o ar construindo aviões; vencemos o espaço e tempo escrevendo, simbolizando, condensando e ampliando. Tudo isso é ir além do próprio organismo, da própria sobrevivência, ou, tudo isso pode se voltar para o organismo ou para a sobrevivência. Quanto mais acumulamos enquanto máquina sobrevivente, mais salvamos nossa pele e perdemos nossa alma, nossa humanidade, chegando às vezes a não exercê-la, a sequer conhecê-la. Frequentemente nos enco

Causalidade

Imagem
Perceber e pensar o mundo, pensar o que acontece como decorrência de relações de causa e efeito é uma maneira prática, obtusa, autorreferenciada e cômoda de viver e se relacionar com fatos e pessoas. Esse comodismo facilita o dia a dia tanto quanto incapacita a autonomia e a definição. Achar que tudo depende de A ou de B, que as situações têm causas determinadas, facilita ao transformar o mundo em um grande teclado onde se pode criar sinais, senhas e certezas, entretanto, essa facilidade é amputadora, pois para tonalizar ou enfatizar A ou B nega a multiplicidade de outras variáveis que emergem. Determinar causas resulta de cortes aleatórios, resulta de ignorar processos contínuos, dividindo-os arbitrariamente. Essa atitude gera posicionamentos, cria medos, tanto quanto pode gerar certezas e confiança. É uma faca de dois gumes que tudo corta e que corta de qualquer jeito. Não havendo globalização das variáveis e processos, não há como entendê-los, nem como participar dele

Superstição

Imagem
Não apreender as relações configurativas dos processos e não querer sofrer suas consequências gera comportamentos medrosos e ansiosos. Esse medo e ansiedade são locais desejados e perfeitos para aninhar, congelar e manter superstição. Bater na mesa e a luz acender faz com que alguém que assista algumas vezes esse acontecimento passe a pensar que o bater na mesa fez a luz acender, sem sequer pensar em como isso acontece. Se aparece alguém que ao ver o acontecimento - luz acendendo depois de batidas na mesa - se pergunta como isso acontece, tal pessoa fica sabendo ou supõe que existe um interruptor, um mecanismo na mesa responsável pelo acender da luz. Essa suposição pode parecer correta, mas pode não o ser, desde que apenas é parte da explicação de porque a luz acende. Bater na mesa pode ser o som que avisa alguém a disparar o acender da luz, ou ainda, pode ser o mecanismo que aciona outro mecanismo que faz a luz acender. Regularidade e frequência não determinam o que aco