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Mostrando postagens de janeiro, 2018

Ameaças - pânico

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Medo e sensação de incapacidade transformam o dia a dia em um jogo de obstáculos. Desviar do mal, conseguir sair ileso, tanto quanto se omitir e sentir-se sem recursos é a marca de sua existência. Por que a ameaça? Muitas vezes por ser o tempo inteiro omisso, apoiado no outro, tomando tudo de empréstimo ou de esmola. Quando sozinho, o mundo lhe cai em cima, não há como suportar. Tudo amedronta. Viver assim é angustiante. A dificuldade, o estreitamento, o aperto na garganta, a falta de ar é o pânico que obriga a tudo evitar e de tudo se proteger. Na sequência do viver e da ameaça aumenta a necessidade de apoios e a dependência do outro enquanto segurança é uma constante. O noticiário, saber da Coréia do Norte, de seus avanços e dos mísseis, por exemplo, descobrir os surtos da febre amarela em São Paulo, tudo isso cria atmosferas nebulosas. É preciso evitar, é preciso se proteger e assim surgem as superstição, a necessidade dos talismãs, orações, amuletos e proteção. A

Incontornável

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Nas vivências fragmentadas, resultantes das polarizações autorreferenciadas, as possibilidades de globalização e expressão tornam-se impossíveis. Clichês e refrões substituem as expressões espontâneas do que se percebe. Sempre preocupados com os efeitos que podem causar, as avaliações são constantes para esses indivíduos, são uma faca afiada para tudo cortar, dividir e separar. Contornos decorrem de flexibilidade e sempre implicam em desprendimento de ideias fixas e verdades religiosas, por exemplo. Quando rigidamente fincados nos alvos, nos propósitos e objetivos, qualquer flutuação é vivenciada como ameaça. Descumprir um acordo, mudar horários ou desistir de programas são vivenciados como obstáculos incontornáveis, pois é por meio das ideias fixas que se organiza o mundo fragmentado. Buscar ímãs aglutinadores é um dos objetivos dessas pessoas. Fanatismo é o que lhes dá sequência e estabelece identidade. Viver em ambientes nos quais tudo é vivenciado como última oportuni

Chantagem

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  Quando o indivíduo se dedica a conseguir realizar suas metas e desejos, nada o detém. A própria estrutura voltada para o futuro, para o depois, faz com que ele fique imune a qualquer vivência da realidade. Os tijolos e pedradas do real, a obviedade contundente, não o atinge, ele está impermeabilizado, seus planos e estratégias o blindaram, tanto quanto o seu cinismo, a sua maldade e o não comprometimento com nada além de seus interesses e objetivos. Viver para o futuro a fim de superar situações que considera limitadoras e desagradáveis, utilizar o outro, oportunidades institucionais e falhas descobertas, municia esses indivíduos, lhes confere grande poder de destruição. Ir ao ponto certo, atingir alvos e assim comprometer pessoas ou instituições cria os chantagistas, os que tudo podem e conseguem ao se alimentar dos medos, apreensões e inseguranças de suas vítimas e de seus objetivos de conquista. Ser vítima de chantagem é uma possibilidade quando se tem metas e medos, co

“Ele que o abismo viu”

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Ele que o abismo viu é o nome da Epopeia de Gilgámesh, escrita por Sin-léqi-unnínni, século XIII-XII a.C. Seu canto épico é bem resumido nesse título que descreve sua dor ao se deparar com a morte do amigo, ao perceber a finitude do humano, ao ver a não perspectiva final da vida. É heróica, é épica a vivência de Gilgámesh - rei de Uruk, na antiga Suméria, atual Iraque - é o mais antigo registro literário da humanidade, bem anterior a Homero, Hesíodo e aos textos bíblicos. Contemporaneamente, ver o abismo é quase um lugar comum. A descontinuidade do viver, a insegurança constante causada pelo pânico, o medo de ser assassinado ou assaltado, faz da pavimentação diária das cidades, abismos, realidades descontínuas. A fragmentação resultante de posicionamentos cria também vazios, espaços descontínuos. É abissal a dificuldade nos relacionamentos familiares, quando não se consegue perceber e ser percebido enquanto individualidade. Nas vivências de casais, igualme