Sinceridade


by Gerd Altmann, Freiburg, Deutschland


Sinceridade é o que se manifesta ultrapassando o próprio contexto da expressão enquanto julgamento e expectativa de resultados. É difícil ser sincero pois ao se dirigir ao outro, necessário se torna negá-lo como existente, como expectante, e afirmá-lo como participante, equivalente a englobá-lo, integrá-lo.

Dizer a verdade, expor os próprios desejos, dúvidas e questionamentos é quase transformar o outro em extensão de si mesmo, é tirá-lo de contingências, criando participação. Essa dificuldade da vivência de sinceridade faz com que a mesma apenas seja encontrada, geralmente, nos encontros terapêuticos, nos quais não há busca de finalidade e resultados para justificá-la.

Ser sincero, se colocar do jeito que se é, dizer o que se pensa é também passar a ser compreendido em sua verdade, e dizer a verdade é mais fácil, pois há menos compromisso, desde que a impermanência e efemeridade caracterizam o verdadeiro enquanto fala informativa.

Sinceridade, verdade são construídas na clareza, no não referenciamento dos próprios desejos e medos, mesmo quando deles decorrentes. Expor esses paradoxos, clarear o nebuloso é o que constitui a expressão sincera, a verdade do que se fala. Não há subterfúgios, não há estranheza, não se é sincero para enganar, não se é verdadeiro para iludir, não há manipulação quando existe sinceridade, verdade. O outro é percebido enquanto tal e não como alavanca, objeto, imã para realização dos próprios propósitos, da própria “verdade interior”, que nada mais são que divisões arbitrárias e oportunas.

É difícil ser sincero pois é difícil integrar o outro, desde que disponibilidade é uma resultante de descomprometimento, de inúmeros questionamentos e constatações, perguntas negadas possibilitadoras de novas percepções e de evidências. Aceitar e vivenciar a própria mudança, acompanhando suas implicações cria novas atitudes. Sinceridade pode ser uma delas, pois não mais se quer enganar.



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