Vencedores e vencidos - bloqueio de possibilidades



Sair da mediocridade, da mesmice, equacionar suas frustrações e transformá-las em trampolim para o sucesso é uma saída, um sonho, uma meta frequentemente vivenciada como sinônimo de superação. A ideia de vida como sonho, análoga à competição, redundando sempre em vitória ou fracasso é uma constante em nosso povoado horizonte de quase 8 bilhões de pessoas. Ficar para trás, estar no meio, ou ir adiante é o resumo que se faz quando a plataforma ou pódio se instala. Resumir tudo que nos rodeia a pistas, mares e ares que suportam nossa trajetória é, no mínimo, danoso, é a redução da infinitude à contingência. Desse processo também resulta criação de poucas categorias para açambarcar, para roteirizar processos: vencedores e vencidos. Essa é a única dinâmica permitida por estas plataformas nas quais perder ou não competir é dinamizado pela luta, é o ser vencido.

Enrijecidos nestes pódios e não pódios os indivíduos ostentam rótulos, etiquetas, marcas que viralizam roteiros, suportam empregos e decidem o que é importante e válido para ser vivido. A redução do mundo a vencedores e vencidos, ricos e pobres é esvaziadora. O ser humano não mais significa, só vale em função do poder de compra e luta/briga que sustenta. Tudo é reduzido a esta plataforma, possibilidades são coaguladas e viram depósitos a serem exauridos em função de conquistas, de vitórias.

A petrificação, a coagulação dos potenciais humanos em blocos definidores de seus acertos, poder e superação é destruidora, é quase sinônimo da criação de zumbis, escravos que obedecem ordens, que apenas trabalham.

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