Inocência

Inocência é geralmente entendida como pureza, ingenuidade, inculpabilidade.

Inocência não é um dom ou uma condição definidora; não é uma característica das crianças e dos ingênuos. Inocência é o não estar habituado, familiarizado com determinada situação, não estar ciente, cônscio do que ocorre.

O novo, o inesperado propicia inocência. Esta vivência do inédito é logo contextualizada nos referenciais existentes, gerando posicionamentos. Poderíamos dizer que inocência existe para preencher posicionamentos, para em seguida movimentá-los e consequentemente questioná-los. É através destes processos que aprendemos, mudamos e realizamos nossas necessidades/possibilidades relacionais.

Inocência possibilita surpresa, espanto, estruturação da dúvida, impacto necessário para quebrar certezas, hábitos e apoios. O dito experiente, referenciado em hábitos, exerce comportamentos orientados para manutenção de regras, normas, situações para ele necessárias em função da consecução de objetivos. Quando pais, orientadores, professores estabelecem regras alheias aos contextos relacionais presentes no dia-a-dia de seus filhos, alunos e orientandos, quando propõem metas, objetivos, sejam eles educacionais ou profissionais, formam indivíduos sagazes, espertos, ansiosos, iludidos e incapazes de aceitar limites, diversidade, novidade. Presos a padrões institucionalizados para lidar com a realidade, são transformados em autômatos bem-treinados, aprisionados a regras familiares e sociais, falta-lhes  liberdade; nada é novo, tudo já está explicado e postulado. A atitude inocente de deixar-se surpreender torna-se praticamente impossível. Posicionados nas capacidades/incapacidades, se alienam, se despersonalizam.

Viver sem preconceitos, sem a priori, vivenciar o que acontece no contexto do que está acontecendo, permite contínua inteireza, presença, inocência: abertura para o que acontece.

















- “Um coração singelo” de Gustave Flaubert
- “A guerra começou, onde esta a guerra?” de Albert Camus

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