Natural e artificial - imanência e aderência

 

Outro dia, lendo o romance "A Trindade Bantu" de Max Lobe, encontrei: "quem come não é o que tem fome, quem come é o que tem comida".

Imanência e aderência, necessidade e possibilidade vieram à minha cabeça. O ato natural de beber água quando se está com sede, comer quando se tem fome é alterado pelas injunções econômicas e sociais do sistema. O básico, o necessário à vida passa a ser contingente, embora não supérfluo. É preciso dinheiro para ter comida, não basta ter fome. É como se para andar não fossem suficientes as pernas, pois os caminhos foram explodidos, destruídos. Todo o natural ou originário está submetido. Esse processo se agrava quando pensamos no transcendente, no relacionamento com o próximo enquanto percepção do outro, o semelhante. O outro é geralmente pensado como objeto útil ou inútil. É o necessário ou o depreciado, e ainda pode de necessário se transformar em obsoleto a depender de circunstâncias (é assim que mães e pais idosos ou dependentes são abandonados, filhas/filhos são desprezados e até vendidos, por exemplo).

Humanizar é naturalizar possibilidades. Desumanizar é construir acessos rápidos às necessidades ou ao que foi transformado em necessidade. Dinheiro e poder são as principais senhas, principais códigos que permitem essa inversão.

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