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Mostrando postagens de abril, 2025

Andando sem chão

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  Um dos maiores deslocamentos psicológicos é desejar. Desejar é querer o que falta, é burlar, negar o existente. Criar novos universos e neles se alojar é uma atitude de fuga e não aceitação, que caracteriza o sentir-se em um lugar errado, com pessoas erradas, ou ainda, o não estar onde se quer e com quem se quer, por exemplo. Frequentemente, deseja-se bem-estar e felicidade. O desejo assume aspectos reveladores quando considerado sintoma de não aceitação. O outro mundo, o outro, a outra realidade é a busca de paz, segurança, tranquilidade. Inventar e buscar o inexistente é o grito desesperado. É a angustia organizada como ferramenta que abrirá portas. Contudo, a grande contradição do desejo é esperar satisfação e realização no que não existe, pois o desejante se nega como pessoa e realidade. É a boca aberta sem corpo, os pés andando sem chão, sem espaço.   O desejo, como sugere negação do que se vivencia, negação da realidade que se percebe, cria...

Violência e dúvida

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    Dúvida é a afirmação negada que possibilita uma pergunta, eu já escrevia em 1988, em meu livro Relacionamento Trajetória do Humano .   Duvidar é buscar mudança e esclarecimento. É discordar e exercer as descobertas das próprias inquietações, problemas e medos. Duvidar é prolongar a percepção, é pensar. O não se satisfazer com o dado, com o percebido, com o que está diante decorre de invadir o presente com antes, com depois, com certezas, com expectativas.   Dedicado a entender e conseguir o que quer, quando não consegue começa a duvidar e cogitar que “algo faltou ou foi mal feito, não chegou a tempo”, ou a falha é a prova de sempre ser enganado, de nada conseguir, e assim são geradas mais dúvidas. Subsequente ao estado de dúvida vem o medo, pois na negação do que existe há um átimo onde nada existe, e é aí que a dúvida é engendrada. Fruto do instantâneo, do intervalo, ela é o entreato, um espaço a preencher. Nesse sentido, é por isso qu...

Sabedoria, Retidão e Justiça

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      Christine de Pizan, em seu livro “A cidade das mulheres” escrito entre 1404 e 1405, dizia que a maneira de fazer a mulher ser reconhecida e não ser desconsiderada era construindo uma cidade para elas. Nessa construção ela seria ajudada pelas musas: Sabedoria, Retidão e Justiça.   É surpreendente a visão igualitária, social e moderna de Christine de Pizan, uma mulher nascida na Idade Media, mas que ao transcender seus limites situacionais percebe o necessário para o bem viver das mulheres. Em sua visão, a Sabedoria é o conhecimento do que está em volta. Equivale a perceber todo o processo de estar no mundo com o outro, e para isso é necessário não ter a priori – preconceito – e não fazer concessões ao poder, assim como se aceitar enquanto limites e possibilidades. Christine, ao imaginar ser ajudada também pela musa Retidão , deixa claro, ao meu ver, a necessidade da aceitação, essa convivência com limites e possibilidades. Em suas reflexões ela perc...

Adolescência

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  Ilustração: under CC0-License   Adolescência é uma fase da vida e é o título da minissérie inglesa da Netflix. A história é sobre um assassinato cometido por um adolescente de 13 anos, que esfaqueia uma colega da escola. O que fez repercutir tanto essa série? Ela calou fundo, significou bastante para quem a assistiu por criar perplexidade diante do que é familiar, pois agora os próprios filhos passam a ser olhados de viés: com culpa ou com apreensão.   Geralmente os adultos pensam que meninas e meninos são bonzinhos. Como, então, eles estariam implicados em coisas más? As redes sociais, até mesmo as escolas, passam a merecer desconfiança. No século passado se pensava que tudo de ruim era causado pelas más companhias, os filhos eram bem criados, educados, e se surgiam desvios eram por más influências. Quanto se culpou os hippies e as drogas, quanto se criticou as influências dos movimentos de esquerda, o esquerdismo que se pensava desviar os filhos do bom camin...