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Mostrando postagens de 2025

Violência e dúvida

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    Dúvida é a afirmação negada que possibilita uma pergunta, eu já escrevia em 1988, em meu livro Relacionamento Trajetória do Humano .   Duvidar é buscar mudança e esclarecimento. É discordar e exercer as descobertas das próprias inquietações, problemas e medos. Duvidar é prolongar a percepção, é pensar. O não se satisfazer com o dado, com o percebido, com o que está diante decorre de invadir o presente com antes, com depois, com certezas, com expectativas.   Dedicado a entender e conseguir o que quer, quando não consegue começa a duvidar e cogitar que “algo faltou ou foi mal feito, não chegou a tempo”, ou a falha é a prova de sempre ser enganado, de nada conseguir, e assim são geradas mais dúvidas. Subsequente ao estado de dúvida vem o medo, pois na negação do que existe há um átimo onde nada existe, e é aí que a dúvida é engendrada. Fruto do instantâneo, do intervalo, ela é o entreato, um espaço a preencher. Nesse sentido, é por isso qu...

Sabedoria, Retidão e Justiça

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      Christine de Pizan, em seu livro “A cidade das mulheres” escrito entre 1404 e 1405, dizia que a maneira de fazer a mulher ser reconhecida e não ser desconsiderada era construindo uma cidade para elas. Nessa construção ela seria ajudada pelas musas: Sabedoria, Retidão e Justiça.   É surpreendente a visão igualitária, social e moderna de Christine de Pizan, uma mulher nascida na Idade Media, mas que ao transcender seus limites situacionais percebe o necessário para o bem viver das mulheres. Em sua visão, a Sabedoria é o conhecimento do que está em volta. Equivale a perceber todo o processo de estar no mundo com o outro, e para isso é necessário não ter a priori – preconceito – e não fazer concessões ao poder, assim como se aceitar enquanto limites e possibilidades. Christine, ao imaginar ser ajudada também pela musa Retidão , deixa claro, ao meu ver, a necessidade da aceitação, essa convivência com limites e possibilidades. Em suas reflexões ela perc...

Adolescência

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  Ilustração: under CC0-License   Adolescência é uma fase da vida e é o título da minissérie inglesa da Netflix. A história é sobre um assassinato cometido por um adolescente de 13 anos, que esfaqueia uma colega da escola. O que fez repercutir tanto essa série? Ela calou fundo, significou bastante para quem a assistiu por criar perplexidade diante do que é familiar, pois agora os próprios filhos passam a ser olhados de viés: com culpa ou com apreensão.   Geralmente os adultos pensam que meninas e meninos são bonzinhos. Como, então, eles estariam implicados em coisas más? As redes sociais, até mesmo as escolas, passam a merecer desconfiança. No século passado se pensava que tudo de ruim era causado pelas más companhias, os filhos eram bem criados, educados, e se surgiam desvios eram por más influências. Quanto se culpou os hippies e as drogas, quanto se criticou as influências dos movimentos de esquerda, o esquerdismo que se pensava desviar os filhos do bom camin...

“Contradição é a regra da verdade, a não contradição é a regra do falso” – Hegel

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   Um dos principais fundamentos da dialética hegeliana é: “Contradição é a regra da verdade, a não contradição é a regra do falso”   ( Contradictio est regula veri, non contradictio falsi ).   O desenvolvimento do que se evidencia implica sempre e necessariamente em sua negação, é o equivalente a pensar que está aqui porque não está além, ou ainda, é isto, pois não é aquilo, é carvão porque não é neve, por exemplo.   Ser isto ou não ser aquilo é uma maneira de definir e esgotar universos. A afirmação do que existe implica em contradição, essa é a verdade dialética do movimento, da dinâmica e da totalidade. Ao perceber o relógio no pulso são contraditas outras configurações de relógio e de pulso para que, por exemplo, se afirme o relógio no pulso, mas ao afirmar que o relógio sempre está no pulso, essa é uma afirmação falsa, pois não admite contradição.   É infinito o número de situações atingidas quando utilizados esses crité...

Educação empenhada

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De uma maneira geral somos educados para conseguir sobreviver, ter sucesso e bom desempenho. Um lugar ao sol, melhorar de vida, não repetir as histórias de pobreza e dificuldades dos antepassados, assim como manter o poder e a riqueza familiares são, geralmente, os motivantes básicos da educação. Eles nos fazem viver para depois, para conseguir. Não basta estar vivo, motivado pelo que acontece, é necessário ter planos, propósitos e metas. Nesse sentido a educação é sempre uma plataforma, um contexto de desafios geradores de competição e ansiedade. É um pódio no qual nada significa, salvo o primeiro lugar. Ser o melhor, o mais rico e poderoso é o objetivo. Nessa caçada, o indivíduo é armado com vários instrumentos: olhe para o que está no alto, fique amigo de poderosos, faça parte de instituições socialmente significativas, não perca tempo com com quem não significa e apenas vai lhe fazer perder recursos. Essas são as regras.   Assim são criados os robôs, a fileira de treinados para...

Instabilidade

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    Instabilidade é uma consequência do movimento, desde que é ele que permite considera-la, vivenciá-la ou até mesmo questioná-la. No contexto do movimento, a instabilidade é constante. Quando determinamos estabilização nos posicionamos e ao fazer isso criamos antíteses criadoras de instabilidade.   Geralmente vivenciamos a instabilidade como realização da possibilidade de superação. Estamos falando daquele momento quando pensamos: “enfim cheguei”. É o que se atinge, é a segurança. Quando atingir é assim percebido e configurado surgem avaliações, medos, desejos e ansiedade. Essas vivências geram instabilidade, levando à desestruturação, ao medo de perder o adquirido, à necessidade de organizar ameaças. São certezas e ameaças que funcionam como terremotos que desestabilizam e criam inquietações. Nesse contexto, inquietação é exatamente o que se denomina instabilidade.   A falta de certeza quanto à continuidade, o medo de perder é a insta...