Lidando com medidas, lidando com limites
O quantitativo sob forma de medida frequentemente invade o nosso cotidiano, é visível nos recursos financeiros, que não devem ser extrapolados para não criar dívidas, nas medicações, na comida ingerida, na bebida buscada etc.
Lidar com a medida conforme as próprias conveniências é responsável por descalabros. A automedicação, por exemplo, o não cumprimento das indicações das receitas médicas criam situações responsáveis pela não remissão de sintomas e até agravamento dos mesmos. Muitas mães determinam que vão diminuir ou aumentar as receitas pediátricas de seus filhos, pois acham que é melhor para a criança. Seus critérios de bem-estar do outro ou de si mesmas, às vezes, estão submetidos ao custo da medicação: o antibiótico é muito caro, em lugar de administrá-lo de 6 em 6 horas administram de 8 em 8 horas, “dá no mesmo” elas dizem; não sabem, ou deixam pra lá, o fato de estarem ajudando a proliferação bacteriana. Comerciantes que diluem leite e outras substâncias para maior lucro, igualmente incorrem neste erro: falsificam, modificam. Às vezes, o prazer ou o querer dormir mais um pouco pode atropelar a frequência necessária na administração do remédio. Enfermeiras, atendentes, médicos, também economizam mediante recursos, verbas, ou seja, critérios alheios às demandas nosológicas. A quantidade da substância, da matéria-prima, do dinheiro, do trabalho é apenas um aspecto do que quantitativamente é necessário e quando isto é alterado muito se perde e se compromete.
Dinheiro, tempo, recursos próprios e naturais, tanto quanto alimentos, são plataformas explicitadoras de como se lida com o limite, como se lida com a medida. Respeitar e aceitar os limites, independente de contingenciá-los com as próprias vantagens ou desvantagens, permite disponibilidade, tanto quanto intolerância não comprometida e comprometedora de processos vitais e relacionais. Atitudes onipotentes são estabelecidas no simples lidar com o tempo - a impontualidade, por exemplo -, ou no uso do dinheiro alheio - empréstimo e apropriação do dinheiro do outro -, na invasão de regras e receitas conforme os próprios interesses e conveniências.
Crescer é criar autonomia e isto só é possível pela percepção de que toda qualidade é uma transformação de quantidades, como falava Hegel. Boa administração de recursos, medicamentos, alimentos, boa administração dos limites, da quantidade, cria saúde, responsabilidade, liberdade.
verafelicidade@gmail.com
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