Credibilidade




O que é crível, passível de ser acreditado, depende da facticidade respeitada, depende do que se constata e observa, tanto quanto depende também de quem e de como se veicula essas constatações e observações.

As narrativas são as malhas que sustentam e amparam as constatações. Apenas constatar nada significa pois o relato das mesmas, o diálogo em torno do observado é invadido por outros referenciais, principalmente os que situam quem relata, quem reproduz os fatos, quando isso é feito e a quem é feito. Narrar um acontecimento é validado em função do narrador; sua importância, dificuldade, compromisso e disponibilidade o transformam em pessoa que pode ser acreditada, que é confiável ou que é alguém que apenas amealha desconfiança, não é pessoa de se acreditar, não tem credibilidade.

A questão das coisas não significarem enquanto elas próprias é intrínseca - é a estrutura dos próprios processos. O símbolo invade o real, o real também se camufla no simbólico. Este vai e vem ocasiona distorção e usurpação.

Neutralizar as escapatórias, drenar compromissos que são leis e regras para trocar gato por lebre é frequente quando se estabelece sistemas educacionais e sociais. Os slogans, as aparências, o fazer de conta, atualmente, constroem  credibilidade. Aparentar ser o que não se é, ter o que não se tem, querer o que não se quer gera confiança. Construir sistemas, amplificações que possibilitam ideias-resumo, e ser significativo, é uma das primeiras atitudes para se conseguir credibilidade. Assim, cercar-se de aceitáveis, ser participante do clube dos bem sucedidos dá crédito e estrutura fiabilidade. Estar acima de qualquer suspeita permite que tudo possa ser feito; é a blindagem ideal, é também a melhor forma de obter confiabilidade, precisando, portanto, sonegar, empenhar e distorcer fatos, realidades.

Nesse contexto, fazer de conta é o que mantém aparências, é o que abre portas e derruba impedimentos. É o império dos lobos com pele de cordeiro e assim se perpetuam maldades, mentiras e inautenticidade. Ver para crer, máxima de são Tomé, já não significa, pois constatar é apenas aquisição futura, pedra construtora de narrativas esclarecedoras do que se objetiva e sonegadoras do que ocorre.

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