Insônia
Não conseguir dormir ou ter dificuldade para dormir é uma resultante direta do estar totalmente ligado, tomado pelos acontecimentos, plugado no ir e vir das demandas. A ansiedade, o medo (omissão) e preocupação (antecipação) são seus principais pilares construtores.
Os organismos precisam descansar, relaxar, ter uma diminuição das atividades. Isso é válido para todo ser vivo e até mesmo máquinas não funcionam ininterruptamente, precisam ser paradas. Descansar ou relaxar é entrar em outro ritmo, é desligar ou arrefecer ritmos anteriores.
Desligar-se é a metáfora mais usada para se referir ao adormecimento, e sabemos que em alguns locais iluminados, para desativar a iluminação basta desligar 5 interruptores, mas em outros são necessários 50, 500 ou mais desligamentos. A vigília - a privação do sono - é como esses locais acesos. Cortar apreensões, dúvidas, medos são os diversos interruptores que precisam ser desligados. O moto contínuo de desejos e expectativas (ansiedade, inveja, ganância por exemplo) funcionam como dínamos geradores ininterruptos. Insônia instalada. Quanto mais remédios, exercícios meditativos e equivalentes, mais programação é criada, pois conseguir dormir se torna um objetivo premente e esse propósito se estabelece, contraditoriamente exacerbando a dificuldade de adormecer a aplacar. A única maneira de vencer a insônia é cortando os programadores que a alimentam. Vencer a ansiedade, superar o medo só é possível com a aceitação de limites, da impotência, da tristeza, da realização, da satisfação, assim como da excitação, exaltação e alegria conseguidas com o que é configurador do que se vivencia. Ter medo de morrer, por exemplo, não suportar a falência econômica, não suportar o que fazer do segredo descoberto, podem ser excruciantes, excitantes, podendo impedir o relaxamento, a parada, o sono - simulacro de morte - enquanto afastamento de tudo no processo de vida. Da mesma forma, angústia e ansiedade estabelecem ciclos viciosos de metas, insatisfações e desejos, dificultando a vivência do presente e aceitação de frustrações e adiamentos, também impedindo a pausa, o desligamento.
Sonhar é a metabolização de resíduos vivenciais, memórias e interposições significativas que funcionam como acréscimos e descontinuidades povoando o relaxar. O sono sem sonhos é o mais relaxante, pois tudo fica bem desligado, é a pausa fundamental para o cotidiano.
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