Quando tudo é explicado por a priori, nada é explicado - 1
É muito comum, muito difundida a noção de que a causa dos nossos problemas sociais atuais está na herança de comportamentos de nossos antepassados e que a solução desses problemas estaria, em grande parte, no enfrentamento de preconceitos.
Explicar o presente pelo passado é um vício, uma rua sem saída. O antes não explica o depois. A continuidade de consequências, o querer entender o que acontece pelo que aconteceu cria explicações de causa e efeito, perguntas/respostas nas quais se sacrifica e nega a ideia de totalidade e contextualização. Explicar a dificuldade que a criança tem de aprender pelo fato de ter um pai muito rico, um pai muito pobre, uma mãe russa ou ainda uma mãe indígena é estabelecer um sistema de bodes expiatórios falantes e explicadores do fenômeno.
Qualquer análise histórica, política, social, comportamental psicológica deve se ater às forças estruturais do que está sendo estudado. Não são as funções, os símbolos, os padrões que determinam comportamentos, embora os classifiquem. Categorias, tipificações não explicam os fenômenos, apenas estruturam padrões, estabelecendo configurações, e a partir das mesmas tornam perceptíveis os fenômenos, o que ocorre.
A ideia do brasileiro cordial, por exemplo, do brasileiro feliz e risonho, às vezes preguiçoso hedonista, é um a priori que apenas serve como rótulo para vender produtos. Não nos habilita a entender os graves problemas sociais que temos, ao contrário os encobre.
Sem a priori, ou seja sem preconceitos e também sem padrões, podemos perceber os problemas em sua totalidade presente, sem fragmentação, sem distorção.
É comum se pensar que os acontecimentos históricos nos trouxeram até o presente, explicam a sequência de eventos atribuindo uma concatenação entre eles. Vi filme sobre os Gulag soviéticos, encarnação do terror ao homem comum, mas concordo que isso não explica nem define a Rússia de hoje. Se ater ao que realmente acontece me parece requerer desprendimento, estar disposto a ver de perspectiva outra não usual, enviesada, contaminada.
ResponderExcluirÉ, Augusto, disponibilidade é o necessário! Abraço.
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