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Mostrando postagens de setembro, 2025

Piedade

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      Atitudes piedosas são raras atualmente, pois para exercer piedade é necessária a percepção do outro enquanto outro. Na luta cotidiana é praticamente impossível encontrar olhares ou atitudes piedosas. Aceitar a limitação alheia, mesmo que ela implique em prejuízos e danos, abrir mão de revidar e não ter raiva e, ainda, não querer vingança é o que permite ser piedoso. Aceitar a inveja e a agressão sofrida, como detalhe expresso por atitudes autorreferenciadas e caóticas possibilita exercer e sentir piedade. Para ser piedoso não é preciso estar no lugar do outro, é fundamental que se esteja no próprio lugar, com os pés no chão, sem medo e apreendendo as contradições humanas. Por isso, ser piedoso requer transcendência de dualidades, principalmente da percepção do outro como o diferente e estranho.     📕 ✔ Meus livros mais recentes - "Emparedados pelo vazio - Bem-estar e mal-estar contemporâneos" , Vera Felicidade de Almeida Campos, Editora Labrador,...

Freios, desvios e capotagens – limites a transformar

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    É fundamental a transposição de limites na velhice, na doença e quando falta recursos para sobreviver (pobreza crônica). Nessas situações o ser humano é quase impedido de desenvolver suas possibilidades relacionais, mesmo as de sobrevivência.   Envelhecer se caracteriza pela diminuição da própria funcionalidade, pela perda da visão e da audição, principalmente. É um comprometimento que atinge as possibilidades perceptivas, e sabemos que conhecer é perceber pelos sentidos. É a percepção que estabelece as possibilidades dos processos relacionais. Problemas motores e outros não são tão comprometedores do processo perceptivo, mas também precisam ser enfrentados. O aumento de limites físicos, motores e cognitivos compromete a disponibilidade, o ir e vir. Quanto mais sejam suportados, contornados por exercícios e aparelhos, maiores as transformações do que limita.   A manutenção das perspectivas de vida vão depender da superação e aceitação dos limites restri...

Transcendendo os limites dos processos adaptativos

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    Do ponto de vista biológico somos animais, os mais desenvolvidos da escala zoológica, mas animais. Arbitrar que a cultura, os aspectos sociais e psicológicos, a religiosidade e espiritualidade, enfim, que o processo civilizatório nos define não é suficiente para estabelecer diferenças, para nos tirar da esfera animal, da esfera de sobrevivência.   O que nos diferencia, então, dos outros animais? Por que não somos apenas animais? Por perguntar. É o questionamento, é o fato de ir além do que acontece que nos define e situa, que nos humaniza. A toda hora, todo dia, todo momento isso é feito, e também não é feito quando seguimos correntes, direções, quando agarramos respostas para sobreviver. Esse processo tanto é adaptativo quanto desumanizador. Nos torna cada vez mais adaptados e também desadaptados. A desadaptação é uma forma de adaptação, está sempre em função dos mesmos referenciais adaptadores. A adaptação é, nesse contexto, um equivalente da lei da gravitaç...

O que nos sustenta, derruba e constitui

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    Harmonia - ou saber o que ocorre - é fundamental para existirmos, mas é também o limite, é como estar entre quatro paredes.   Definir harmonia como saber o que ocorre implica em dizer que quando ela é valorada assim, ela pode ser sinônimo tanto de algo bom quanto de algo mau. Nesse sentido, viver em guerra pode ser viver em harmonia, assim como também pode ser uma vida em harmonia viver em brigas e situações cotidianas nas quais o grito, a agressão são constantes. O uso da palavra harmonia em sua abrangência sinonimiza certeza, junção, encaixe, é saber que o que acontece continua acontecendo, não importa se o que acontece é bom ou ruim.   Como seres humanos vivemos em universos de certezas: o dia é sempre mais claro que a noite, as ondas do mar ecoam. Vivenciar o que ocorre implica sempre em participação. Participar, fazer parte, coexistir, dialogar, perceber é constatação, mas é também prolongamento perceptivo: é pensar.   Estar diante do ou...