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É preciso ler, é preciso sair das telinhas

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    Trocar o celular pelo livro. Essa obviedade se torna um imperativo. É a maneira de mudar o quadro atual de servidão às telas, de transformar essa predominância de horas diárias submetidas à lives e programas sinalizadores do que se deve ou não se deve fazer, do que é bom, útil ou inútil. Assolados por avalanches de informações e estímulos digitais, que sequestram a atenção e automatizam comportamentos, também vivemos um momento caótico de ruptura de referenciais e de validade do comunicado. Nesse caos, nessa luta é importante ler livros, pois é a maneira de sair da esfera de sugestões dirigidas, de adquirir conhecimento, de perceber o contraditório, tanto quanto de explorar o existente antes dele ser filtrado pelos critérios de venda, de proselitismos  que incrementam a cooptação para aumentar fileiras de compradores, ou de seguidores, apoiadores e crentes de supostos salvadores: os Messias encadernados, congelados para usos convenientes. Livro pode ser abertura, tanto quant

Uniões e separações – A ilusão da identificação

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    Unir ou separar são questões constantes para o ser humano, para a humanidade, consequentemente são questões político-sociais e psicológicas. É esse movimento de atração e repulsão que faz atritar, e que também faz continuar processos. Essas quebras e continuidades ocasionam o que é falado como “a união faz a força” , tanto quanto “dividir para governar” .   Buscar o ponto de atrito que quebra ou faz convergir é, em certo sentido, o objeto de qualquer processo que busca mudanças. Sejam psicoterapias ou reformas nas políticas sociais, todos nisso se estribam, se situam. Concentrar ou dispersar é a maneira de convergir ou divergir que cria antíteses para mudanças. São as transformações dos processos, que algumas vezes são deformados pelas superposições de outras demandas, outros comprometimentos, outros processos. Quando isso acontece surgem novas situações. É uma nova configuração que quebra propósitos iniciais.   Interferências sempre encurtam e também modificam proces

Antagonismos

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  Lutar é explicitar o ponto do antagonismo. Quando a contradição consegue cravar, doer, surge espontaneamente reação. Nesse contexto é de estranhar não haver lutas diárias e constantes. Esse estranhamento desaparece quando configuramos ou percebemos os amortecedores. Os processos não são lineares, isso significa que a antítese, a contradição de A pode ser a síntese de B, ou ainda, afirmação de C. Dinâmicas, movimentos são constantes. Não existem fatos isolados, e essa constatação faz com que se entenda que as lutas são contidas por amortecedores. No plano individual, mais especificamente na vida psicológica diária, os deslocamentos, o fazer de conta, as distorções impedem atitudes, impedem questionamentos e assim as vivências escorrem, são diluídas e absorvidas por outros contextos aplacadores. Tudo pode esperar, tudo pode ser adiado, e isso vai ocorrendo de tal forma que a expectativa já não é de mudança, a expectativa é de finalização. Os propósitos, os desejos e

Adversidades

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  Na busca de reconhecimento, recompensa e afeto, qualquer coisa pode se constituir em obstáculo. Esperar retribuição é o equivalente de cobrar. A atitude de cobrança é uma das características do indivíduo carente. Tudo foi empenhado, muita renúncia foi feita, consequentemente é necessário que isso seja reconhecido, que as recompensas surjam. Essa atitude assemelha-se ao comportamento do “mal amado” e da “mal amada” descritos nas novelas. Diariamente assistimos a decepção das crianças que gritam e que choram, dos homens que agridem seus semelhantes, e reclamam quando não se sentem considerados e obedecidos, e não vamos esquecer também das mágoas comentadas pelas mães quando não recompensadas em seus desejos e anseios. A agressividade é uma das atitudes resultantes das demandas e exigências não atendidas. São esses quadros de carência que isolam os indivíduos, gerando os revoltados. Quanto maior a carência, maior o isolamento, o autorreferenciamento, e consequentemente mais distânci

Problemas

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    A maioria das pessoas quando se sente constantemente insatisfeita ou com dificuldades imagina que está com algum problema. Geralmente a constatação e demarcação de problemas é feita por meio dos referenciais de desejos não realizados, da observação de realidades insatisfatórias, pois são percebidos no referencial dos próprios medos, ou seja, da não aceitação.   Perceber problemas nem sempre é pelos questionamentos aos mesmos. Essa percepção, via de regra, vem acompanhada de dificuldades, medos e inseguranças. Ter falhado em alguma situação, não conseguir o bom resultado no dia a dia cria ansiedade que leva a não dormir, a ter insônia, ou a viver cansado, sonolento, por exemplo. Tudo isso é vivenciado como sintoma indicativo de problema, de não estar se sentindo bem. E são a ansiedade, a insegurança, o medo, a insônia ou a sonolência que levam a supor a existência de problema. Percebe-se com problema quando as coisas não andam como se deseja que andem. É

Propósitos não unificados

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    A falta de objetividade gera indecisão. E por que não existe objetividade? Por haver divisão. Querer uma situação, tanto quanto querer a outra antagônica ou diversa só pode ser resolvido quando desejo e propósito são unificados. É unificação do aqui e agora, vivenciando o antes como o criador do depois, e subordinando o agora às resultantes do que o caracteriza e cria divisões. O que está aí, o que está aqui e agora comigo, está aqui e agora comigo, entretanto essa obviedade situacional é percebida como fragmentada. Critérios de vantagens e desvantagens, de dúvidas, destroem a evidência, fazendo com que o que está diante de mim não se transforme em resultado, em crença, em índice indicativo de outros processos. É a dúvida, o medo, a vivência de estar sendo perseguido que passa a se constituir em contextos a partir dos quais tudo é percebido. Não se sabe o que se faz, pois não se sabe o que vai acontecer. Esse medo/desejo é destruidor do que está acontecendo,

Nada pode falhar

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      Quando a vivência do presente, do encontro, dos problemas é realizada por meio de filtros, dos objetivos e desejos, tudo conflui para ser considerado bom ou ruim. O que vai somar, o que vai diminuir, algo que multiplica, e como se divide, são vivências, são perguntas e dúvidas frequentes. Não se deter no vivenciado, estar sempre verificando o que ameaça ou o que pode acrescentar, é uma vivência redutora de possibilidades. Não se relacionar com o que está acontecendo, esperar sempre o depois redentor ou aplacador transforma o dia a dia em uma espera de certezas. Ser julgado positivo ou negativo vai acontecer a depender do que se faça ou do que não se faça. A vida, as expectativas, a inquietação, a ansiedade, o medo, são subprodutos que emergem e consequentemente esvaziam os encontros, as vivências e as constatações.   A explicitação da revolta, do medo de perder, a torcida para ganhar e conquistar destrói o cotidiano. Nada acontece como acontece. Tudo tem que ser referenciad

Conquistas e arbitrariedades

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    Apoiado no que precisa ser conseguido, no que precisa ser realizado, o indivíduo passa a verificar os acertos ou erros de seus comportamentos. Essa busca de concordância é aniquiladora, tanto quanto vivificadora. Saber-se criticado e advertido de erros e fracassos é vivenciado como ajuda, como orientação. A sideração em torno dos objetivos é tão intensa que pouco significa constatar fracassos ou comprovar erros. Vive-se para conseguir. Para isso basta saber se pode apoiar o pé para o pulo, ou o braço para não cair. Saber com o que se conta, é o que importa. Sempre regulado por palmas ou vaias, a busca de constatar resultados, de verificar likes é constante. As ações se voltam para os melhores resultados e consecução de metas, desconsiderando erros e falhas, e cultivando falsas amizades que viabilizem as conquistas. Viver desse modo é despersonalizador, entretanto isso não importa pois o que se objetiva é ganhar e não perder, é atingir resultados, é ser consid