Perdão

No cristianismo, perdoar é praticamente uma regra definidora do bom cristão, que tanto pede perdão constantemente (confissão e expiação dos pecados), quanto, mirando-se no Cristo, busca perdoar seus agressores sistematicamente.

Saindo do referencial cristão e popular, perdoar, sob o ponto de vista psicológico é quase sinônimo de generosidade, neste sentido é o oposto de mesquinharia. Mesquinho é o avaliador, aquele que tudo conta, considera, aproveita e não esquece.

Limitada pelos referenciais do que beneficia, do que atrapalha, do que dá segurança ou pressiona, a vida é diminuida, amesquinhada; nenhum crescimento, desenvolvimento cultural ou expansão podem acontecer. Restringindo-se a estes parâmetros, tudo é avaliado e assim se vive. Neste contexto de avaliação, ou se perdoa facilmente, quando perdoar não atrapalha, não prejudica ou se contabiliza a situação e se torna implacável, jamais perdoando. O foco não é o outro, não é o perdão, mas sim evitar o que atrapalha. Nesta contabilidade, por definição pragmática, não existem resíduos, qualquer sobra é prejuizo, tudo é aproveitado, relações são vistas como investimento/ganho/perda.

Perdoar é o ato generoso de ser com o outro, mesmo quando a única maneira disto ocorrer seja pela mobilidade relacional; saindo dos próprios referenciais e contextualizando-se nos do outro, se percebe as tessituras do considerado erro a ser perdoado. A magnanimidade de abrir mão dos próprios referenciais e atingir os do outro, por mais intransitáveis que sejam, é o início do processo responsável pelo perdão.

















- "O Crime do Padre Amaro" de Eça de Queirós
- "O Sujeito Incómodo - O Centro Ausente da Ontologia Política" de Slavoj Zizek



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