Doença, medo e revolta

 



Diante de impasses, acidentes e doenças, inicialmente vivenciamos obstrução, impedimento, interrupção. Nessas situações, o futuro abruptamente se insinua, se presentifica sob forma de planos, sonhos, propósitos e desejos frustrados, e assim o real, o acontecido é um espectro de expectativas, do que é ansiado, temido ou desejado. Essa superposição temporal nos arranca de nossos contextos atuais. O impacto causado por notícia de doença, de morte, de quebra de apoio, de mudança de planos causa medos, apassiva tanto quanto gera revolta, sentimento de raiva ou de inveja.

Nesse turbilhão, se sai dos centros relacionais, das situações existentes na vida diária. Os filhos podem passar a ser percebidos, por exemplo, como os que não vão mais ser cuidados, os planos de vida, os empreendimentos, as superações de obstáculos e dificuldades são aniquiladas. Surgem o medo, a revolta, o desânimo. Aceitar o limite, que é a evidência, é aniquilador.

Situações de não aceitação, de separação de amantes/filhos ou de abandono, também exemplificam esta presentificação do futuro, tanto quanto do passado: as histórias vivenciadas, os projetos feitos, os sonhos e realidades, tudo destruído, quebrado. O presente é vivenciado como o não saber o que fazer. Desespero, maldade, inveja, medo aparecem e assim, sucumbindo a circunstâncias, passa-se a suportar ou vencer o limite, o real, o dado que desgasta e aniquila.

Quando se aceita o limite, quando se percebe estar inserido em inúmeras realidades, contextos que ultrapassam a própria determinação e desejo, se vivencia o presente sem a priori e sem expectativas, se situa. Aceita-se o que acontece, vivencia-se a nova realidade, percebendo assim a reversibilidade e finitude dos processos. Mesmo na doença pode tanto ocorrer superação de obstáculo, quanto a manutenção do mesmo. É vida, é morte - é processo de estar no mundo - é constatação do que ocorre como possibilidade do que ocorre, como reversibilidade ou como impossibilidade do mesmo.

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