Bulimia

Bulimia é um dos deslocamentos da ansiedade . Este deslocamento é feito através de exagerada ingestão de alimentos, tanto quanto, ela, a ansiedade, é reabastecida por este mesmo deslocamento. O cerco se fecha. Quanto mais come para aplacar ansiedade, mais ansioso se fica, assim como mais desesperado em constatar um dos efeitos desta atitude: a engorda. Diante da constatação do limite (o corpo engordando), engendra-se soluções impossíveis: não engordar, esquecer o problema (o que causa a gordura) e se agarrar no resultado solucionador: vomitar o acumulado, jejuar, ingerir remédios emagrecedores e diuréticos; isto é vivenciado como neutralização de todos os problemas. A maioria das pessoas bulímicas têm peso normal e conseguem esconder seus problemas alimentares e ansiedade atrás de uma aprência física "normal": engordam e emagrecem em curtos períodos e se desesperam diariamente no esforço de manter suas práticas alimentares desapercebidas por familiares e amigos (tanto o comer compulsivamente, quanto os vômitos por exemplo).

Este comportamento bulímico (criação de uma imagem de normalidade que esconde os problemas) não difere das formas mais comuns da neurose, encontradiças na clínica psicoterápica. Diante da não aceitação dos próprios problemas, uma série de imagens, de esconderijos são construídos e desconstruídos em função de circunstâncias, omissões e conveniências. Referenciais são perdidos, chega-se ao ponto de não se saber quem se é. O processo de despersonalização é uma maneira de não sofrer com a constatação do que se é, do que se faz, embora, como na bulimia, cause estrago e danos irreversíveis vivenciados sob forma de angustia, pânico e depressão.

Atitude onipotente - achar que vai conseguir disfarçar e esconder a própria dificuldade e problemática - gera um nível de fraqueza e inautenticidade que mais os coloca à mercê do outro. É muito comum encontrarmos estas pessoas vivendo sem autonomia, circunstancializadas e balizadas por sucessos e fracassos. Fazer de conta, criar imagens, é a grande armadilha que se constrói para si mesmo, desestrutura psicologicamente da mesma forma que o enfraquecimento que vemos no organismo devastado pelas práticas bulímicas.















- "A Cozinha da Alma" de Jasmin Ramadan
- "O Inumano" de Jean-François Lyotard

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