Mídia e poder

Os mecanismos para mudar podem ser tão alienantes quanto os mecanismos de manutenção. A regra ou a imposição do “feliz natal” por exemplo, é uma forma de arregimentar ilusão, polarizar fragmentação em função de cruzadas midiáticas, consumistas ainda que solidarizantes.

Propalar felicidade, liberdade ou atitudes de mudança e afirmação é iludir, é criar expectativas, vendendo de produtos a governos.

Na pós-modernidade, o conhecimento, o saber é um produto que tem preço, consequentemente estrutura a pirâmide do poder, substituindo ideários e ideologias, reforçando títeres, comunidades e partidos: facções responsáveis pelo empoderamento e entesouramento a partir das demandas sociais.

Oficialização e credibilidade de ocorrências, pouco tempo atrás eram validadas pela constatação do “Deu na TV, saiu no jornal, é fato”; este referencial começa a ser falsificado, manipulado; os selos de garantia se ampliam. O selo, a embalagem, validam o produto. Nas redes sociais, por exemplo, grupos de avatares enganosos validam posições políticas que se tornam virais, falseando e influenciando conclusões arbitrárias, mas que se tornam fatos. Lojas de 'padrão excelente', 'pessoas acima de quaisquer suspeitas' são modelos a seguir. A fabricação das embalagens, imagens e despistes justificam, assim, empenhos e sacrifícios - humanidades esvaziadas.

Esconder problemáticas e dificuldades é sobressair, é significar. Paradoxalmente ao se destruir como humano, afirma-se como coisa, objeto que possibilita agradável consumo: vive-se para conseguir ser aceito, usado, comprado.

Orientações midiáticas para o desapego, a solidariedade, a determinação etc conseguem mudar atitudes e comportamentos ao criar patamares de bom e ruim, de padrões sociais valorizados e desvalorizados, mas não passam de mais um artifício para manter posicionamentos, maneira politicamente engendrada de mudar para manter: a maioria pode ser representada por minorias poderosas. As psicopatologias podem passar a ser parâmetros de ações corretas: destruir para conseguir ordem e afeto aparenta ser solucionador (Esparta e Alemanha nazista eram mestras nesta arte). “Tudo por amor” é um clichê, um slogan arregimentador de ódio e maldade, tanto quanto “o mais forte”, o imponderável que arrebata e justifica é o esconderijo de frustrações medos e não aceitações.

Mudança é intrínseca às contradições e aceitação das mesmas. Aparentar, obedecer são intrínsecos aos processos manipuladores da sobrevivência.

Quando o conhecimento, este dado relacional, é transformado em produto, criam-se posicionamentos, estancamento de processos fragmentadores do estar no mundo. Estas divisões segmentam a vivência. Convergência e divergência são artificialmente estabelecidas: barreiras, limites, preconceitos determinam, então, a trajetória humana.

Não se muda por decretos, por orientação de mídia nem por desejos e metas. Artificialidade, aderência não configuram legitimidade, apenas geram apropriação de regras e sistemas alienadores.




“A grande guerra pela civilização” de Robert Fisk
“Conversas com Albert Speer”
de Joachim Fest
“A Informação”
de James Gleick



verafelicidade@gmail.com

Comentários

  1. Em ves de nos atualizar para não sermos alienados pela mídia, politica, seguimos todos inertes, pensando apenas no próximo feriado prolongado, em nossas próprias “conquistas” enquanto a sociedade padece deste egoísmo crônico @OziOE

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    1. Exatamente OziOE Miranda, é assim que se estrutura alienação e desumanização.
      Abraço,
      Vera

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